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    Operação prende ex-chefe do PSDB de Minas, aliado de Aécio e Anastasia

    BELA MEGALE
    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    JOSÉ MARQUES
    DE BELO HORIZONTE

    30/05/2016 10h48 - Atualizado às 09h24

    José Marques/Folhapress
    Nárcio Rodrigues, ex-secretário do governo Antônio Anastasia, é levado ao Ministério Público para cumprir prisão temporária
    Nárcio Rodrigues, ex-secretário do governo Antônio Anastasia, é levado para cumprir prisão temporária

    O ex-secretário de Ciência e Tecnologia do governo Antonio Anastasia e ex-presidente do PSDB de Minas Gerais Narcio Rodrigues (PSDB-MG) foi preso nesta segunda (30) na operação Aequalis, deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais.

    Rodrigues é visto como homem forte de Anastasia e também do senador Aécio Neves (PSDB-MG), chegando a despontar como um de seus principais interlocutores quando foi deputado federal e Aécio, governador de Minas.

    A operação investiga o envolvimento de agentes públicos de Minas Gerais e empresários brasileiros e portugueses em esquema de desvio de recursos públicos envolvendo a construção e projetos da "Cidade das Águas", desenvolvida pela Fundação Hidroex. Segundo auditoria da Controladoria-Geral do Estado os valores desviados entre 2012 e 2014 superam R$ 14 milhões.

    A Cidade das Águas fica localizada em Frutal, município de Nárcio Rodrigues e sua base eleitoral. Segundo dados do Ministério Público, foram cumpridos 27 mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte, Frutal, Uberaba, Conselheiro Lafaiete, São João Del Rei e São Paulo.

    Além da prisão temporária de cinco dias de Rodrigues, também tiveram prisão preventiva decretada Neif Chala (ex-servidor da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais), Alexandre Pereira Horta (engenheiro do Departamento de Obras Públicas de Minas Gerais), Luciano Lourenço dos Reis (funcionário da CWP Engenharia), Maurílio Reis Bretas (sócio administrador da CWP Engenharia), e o português Hugo Alexandre Timóteo Murcho (Diretor no Brasil da multinacional portuguesa Yser e da empresa Biotev Biotecnologia Vegetal). Os presos foram conduzidos à Penitenciária Nelson Hungria, na região metropolitana de Belo Horizonte.

    O presidente do grupo português Yser Bernardo Ernesto Simões Moniz da Maia está foragido.

    A investigação começou com auditorias da Controladoria-Geral do Estado de Minas Gerais.

    Em nota, o governo atual, comandado pelo petista Fernando Pimentel, afirma que a auditoria abrangeu "diversos termos de cooperação técnica, convênios de transferências de recursos federais e outras parcerias, sendo todos firmados entre 2007 e 2014".

    "Os relatórios da auditoria foram encaminhados ao Ministério Público Estadual para as providências necessárias", diz o comunicado. A Secretaria de Ciência e Tecnologia mineira diz que "encontra-se à inteira disposição de todos os órgãos de fiscalização para eventuais esclarecimentos".

    A Operação foi batizada de Aequalis, e significa "igualdade", em latim.

    Água Turva

    LICITAÇÃO

    Além do ex-deputado, outro preso foi o empresário Maurílio Bretas, dono da Construtora CWP (Construtora Waldemar Polizzi), que pertenceu a parentes de Anastasia até quatro meses antes de ele assumir o governo mineiro em 2010.

    Em abril a Folha revelou que a empresa era investigada pela Controladoria-Geral de Minas Gerais por ser beneficiária de desvios de R$ 8,6 milhões do Hidroex e por ter deixado de pagar aos cofres públicos uma taxa de fiscalização da licitação no valor de cerca de R$ 400 mil.

    No processo licitatório, a CWP despontou como vencedora por ser a única entre as cinco participantes que apresentou responsável técnico com capacitação suficiente para a obra. Apesar de já ter vendido a CWP, foi o próprio Waldemar Anastasia Polizzi, primo em primeiro grau do hoje senador, quem ocupou assinou a documentação como responsável pela obra.

    Geraldo Magela - 11.mai.2016/Agência Senado
    O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), em sessão no plenário
    O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), em sessão no plenário

    'VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA'

    Na votação da aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, o deputado Caio Nárcio (PSDB-MG), filho de Rodrigues, votou pelo afastamento da petista citando a honestidade do pai.

    "Por um Brasil aonde meu pai e meu avô diziam que decência e honestidade não eram possibilidade, eram obrigação", disse Caio antes de votar a favor do impeachment. O deputado encerrou a fala com a citação: "Verás que um filho teu não foge à luta".

    Caio Nárcio acompanhou o pai até a sede do Ministério Público na manhã desta segunda.

    OUTRO LADO

    O PSDB de Minas Gerais afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que desconhece detalhes da operação Aequalis e que, "se houver indícios de irregularidades, eles devem ser investigados pelos órgãos competentes". Também ressaltou que "havendo comprovação de crimes" é necessária punição.

    Sobre a realização do "Complexo das Águas", a sigla informa que foi um projeto aprovado em 2007 pela Unesco, tendo as obras iniciadas em 2011, paralisadas em 2014 e retomadas este ano.

    Quanto ao ex-deputado Nárcio Rodrigues, o partido reitera que ele "não exerceu nenhuma função de captação de recursos financeiros junto à direção estadual do PSDB em campanhas de 2014".

    Contatado antes de sua prisão, o ex-deputado Nárcio Rodrigues afirmou à Folha que não foi beneficiário de propina e que não atuou na execução de obras ligadas ao projeto do "Complexo das Águas", mas somente em assuntos ligados à programas de educação, que eram vinculados à Secretaria de Ciência e Tecnologia.

    Procurados desde o mês passado, o grupo Yser e Bernardo Ernesto Simões Moniz da Maia não responderam aos e-mails e contatos telefônicos feitos pela reportagem.

    Em manifestações anteriores, Antonio Anastasia disse à reportagem que defende que "quaisquer denúncias sejam apuradas pelos órgãos competentes e julgadas na forma da lei".

    Ele também afirmou que só tomou conhecimento sobre a investigação da Controladoria-Geral e do Ministério Público da obra iniciada na sua gestão em abril, quando a Folha publicou reportagem sobre o fato.

    A assessoria de Aécio Neves não se manifestou.

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