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    Petrobras orientou negócio com firma ligada ao filho de FHC, diz Cerveró

    MÁRCIO FALCÃO
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    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    02/06/2016 18h58 - Atualizado às 22h01

    Eduardo Anizelli - 25.abr.2016/Folhapress
    Fernando Henrique Cardoso na sede de seu instituto, em SP
    Fernando Henrique Cardoso na sede de seu instituto, em São Paulo

    Em sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que a presidência da Petrobras durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso lhe orientou que fechasse contrato com uma empresa ligada ao filho de FHC, Paulo Henrique Cardoso.

    Segundo ele, o caso ocorreu entre os anos de 1999 e 2000, quando era subordinado ao ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) na diretoria de Gás e Energia da Petrobras.

    Cerveró disse que foi procurado pelo lobista Fernando Soares, o Baiano, que representava a empresa espanhola Union Fenosa, interessada em se associar à Petrobras na termoelétrica do Rio de Janeiro (Termorio).

    "Fernando Antônio Falcão Soares e os dirigentes da Union Fenosa acreditavam que o negócio estava acertado, faltando apenas a assinatura para a finalização. Que, no entanto, o negócio já estava fechado com uma empresa vinculada ao filho do presidente da República Fernando Henrique Cardoso, de nome Paulo Henrique Cardoso", afirmou o ex-diretor.

    Segundo Cerveró, a empresa se chamava PRS Participações. "O negócio havia sido fechado pelo próprio declarante, por orientação do então presidente da Petrobras, Philippe Reichstul", disse.

    O ex-diretor relatou que Fernando Soares e os empresários da Union Fenosa "ficaram surpresos e bastante contrariados" e que Delcídio também ficou contrariado com a situação.

    "Delcídio do Amaral ficou contrariado com o fato de o fechamento do negócio ter sido determinado pela presidência da Petrobras sem o conhecimento da diretoria de Gás e Energia", afirmou Cerveró.

    Em seu depoimento, Cerveró não cita se houve envolvimento direto de FHC no negócio.

    Ele disse ainda que recebeu propina da empresa responsável pela Termorio, a NRG, no valor de 300 mil dólares em uma conta na Suíça, mas não explicou o motivo do pagamento de propina nem a relação com o filho de FHC.

    PERÍODO TUCANO

    Ainda sobre o período tucano, Cerveró falou sobre o recebimento de propina da Alstom e da General Eletric, fatos que já haviam sido relatados por Delcídio em sua delação.

    Ambas empresas forneceram turbinas para a geração de energia termoelétrica em um programa criado por FHC. Segundo Cerveró, a aquisição do material era urgente e por isso não houve licitação.

    Em seu relato, ele afirma ter recebido entre US$ 600 mil e US$ 700 mil dólares pelo negócio, mas que estima que Delcídio recebeu cerca de US$ 10 milhões.

    "Apesar de todo o esforço, em 2001 faltou energia, tendo havido necessidade de racionamento de energia elétrica", afirmou Cerveró.

    Outro relato de irregularidade no período de FHC foi a aquisição, pela Petrobras, da empresa Perez Companc, no final do ano de 2002, ordenada pelo então presidente da estatal, Francisco Gros.

    Cerveró disse que chamou sua atenção o fato de a Petrobras ter pago US$ 1 bilhão no negócio e que a transação rendeu uma propina de US$ 100 milhões "destinada ao governo de Fernando Henrique Cardoso".

    OUTRO LADO

    Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, disse por meio de sua assessoria que desconhece a empresa e as pessoas citadas por Cerveró, além de não ter nenhuma relação com o fatos descritos pelo delator.

    Sobre suposta irregularidade na aquisição, pela Petrobras, da empresa Perez Companc, no final do ano de 2002, ordenada pelo então presidente da estatal Francisco Gros, FHC já havia se manifestado por meio nota. "O presidente da Petrobrás era Francisco Gros, de reputação ilibada e sem qualquer ligação politico partidária", declarou o ex-presidente.

    Sobre as alegações de Cerveró sobre suposta propina de US$ 100 milhões, o tucano afirmara que são "afirmações vagas" e "sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação".

    A Folha não conseguiu contato com Reichstul.

    Sobre Pasadena, Dilma já afirmou anteriormente que aprovou o negócio porque não sabia da existência de duas cláusulas que causaram prejuízo e que não constavam no resumo apresentado por Cerveró ao Conselho de Administração da Petrobras.

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