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    Reconstituição dos anos da abertura conclui obra sobre a ditadura militar

    RICARDO BALTHAZAR
    DE SÃO PAULO

    03/06/2016 02h00

    Folhapress
    O general João Baptista Figueiredo (à esq.) toma posse como presidente da República, ao lado de Ernesto Geisel
    O general João Baptista Figueiredo toma posse como presidente, ao lado de Ernesto Geisel, em 1979

    Com os quatro primeiros livros que escreveu sobre a ditadura militar, o jornalista Elio Gaspari produziu uma crônica detalhada de um dos períodos mais tumultuados da história brasileira, que vai do golpe de 1964 até o fim de 1977.

    Ele narrou a tomada do poder pelos militares, expôs a engrenagem montada pelos generais para perseguir e matar seus opositores e contou como eles criaram depois as condições necessárias para a devolução do poder aos civis.

    Faltava um desfecho para a história, mas essa lacuna acaba de ser preenchida. "A Ditadura Acabada", quinto e último volume da série que Gaspari começou a publicar em 2002, chega às livrarias nesta sexta-feira (3).

    Saiba mais sobre a série de Gaspari
    Jornalista já lançou quatro livros sobre o regime militar (1964-85)

    O livro representa também a conclusão de uma empreitada jornalística ambiciosa, iniciada há mais de três décadas por Gaspari, que começou a trabalhar no projeto em 1982. Ele hoje é colunista da Folha e do jornal "O Globo".

    O quarto livro termina em 1977, no dia em que o general Ernesto Geisel demitiu seu ministro do Exército, Sylvio Frota, que se movimentava com apoio das facções militares radicais para se impor como o sucessor de Geisel.

    Na visão de Gaspari, a demissão de Frota representou um momento crucial para o regime, em que Geisel restabeleceu sua autoridade sobre as Forças Armadas, pondo um freio nos radicais da linha dura e assim abrindo caminho para a execução do seu projeto de abertura política.

    PORTA LATERAL

    O novo volume conta o fim do governo Geisel e vai até o dia de 1985 em que o sucessor que ele escolheu, o general João Figueiredo, saiu do Palácio do Planalto por uma porta lateral para não entregar a faixa presidencial a um civil.

    Como nos livros anteriores, Gaspari enriquece a reconstituição do período com informações garimpadas em entrevistas e 15 mil documentos confiados a ele por dois observadores privilegiados, o general Golbery do Couto e Silva e Heitor Aquino Ferreira, que foi secretário particular de Geisel e Golbery.

    O jornalista revela que, em 1981, quando Figueiredo ainda não tinha alcançado a metade do seu mandato como presidente, Geisel passou a defender em conversas privadas a renúncia do general, de quem se distanciara após a troca de guarda no Planalto.

    Figueiredo acabara de sofrer um enfarto e ainda não se recuperara da crise provocada pelo atentado do Riocentro, em que a explosão de uma bomba armada por oficiais do Exército pôs em dúvida a capacidade do general de conter os radicais que tentavam sabotar a abertura política.

    O episódio desmoralizou os militares. Principal articulador do projeto de distensão que Geisel idealizara e chefe do Gabinete Civil de Figueiredo, Golbery pediu demissão depois que um inquérito militar aberto para investigar o atentado foi concluído sem apontar seus responsáveis.

    'GOVERNO PARALELO'

    Numa carta enviada a Figueiredo pouco antes de deixar o governo, cujo original faz parte dos arquivos que Gaspari pesquisou, Golbery associou as "ações terroristas" patrocinadas por militares a um "núcleo de governo paralelo" ligado diretamente à Presidência da República.

    O livro narra também a crise da dívida externa, que fez a economia brasileira afundar na década de 80, e explica como o desgaste do regime e a pressão popular pela volta da democracia racharam o bloco de sustentação dos militares, viabilizando a eleição de Tancredo Neves para a Presidência, em 1985.

    Gaspari também joga luz na biografia de personagens que continuam centrais na política brasileira, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que despontou como líder sindical e fundou o PT na fase final do regime autoritário.

    A Ditadura Acabada (Vol. 5)
    Elio Gaspari
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    Preso em 1980, quando os militares acabaram com uma greve no ABC paulista, Lula foi submetido a um interrogatório em que a maior curiosidade do oficial que fazia as perguntas era saber se ele tivera contatos secretos com Golbery, como muitos inimigos do general desconfiavam.

    Gaspari reconstituiu o episódio com base numa transcrição do interrogatório, que foi preservada nos arquivos de Golbery e Ferreira, sem a gravação original. Segundo a transcrição, Lula disse que nunca encontrou o general.

    OBRA COMPLETA

    • A Ditadura Envergonhada (464 págs.) - O golpe de 64 e a construção do regime, até o AI-5
    • A Ditadura Escancarada (590 págs.) - O auge da repressão e a derrota da guerrilha
    • A Ditadura Derrotada (580 págs.) - A ascensão de Geisel ao poder e o início da abertura
    • A Ditadura Encurralada (560 págs.) - O desfecho do enfrentamento de Geisel com a linha dura

    Preço: R$ 59,90 cada volume

    Coleção: R$ 299,50 (A editora Intrínseca lançará também uma caixa com os cinco livros da série)

    E-books: R$ 149,50 (as edições eletrônicas dos livros incluem 863 páginas de documentos, 38 áudios e 35 vídeos)

    Documentos: Parte dos documentos citados por Gaspari está disponível aqui.

    Edição impressa

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