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    Lava Jato

    Juiz Moro aceita denúncia, e mulher de Eduardo Cunha vira ré na Lava Jato

    DE SÃO PAULO
    DE CURITIBA

    09/06/2016 13h03 - Atualizado às 23h30

    Pedro Ladeira - 5.nov.11/Folhapress
    Alvo da Lava Jato, a mulher de Eduardo Cunha, Cláudia Cruz, afaga o marido em evento da Câmara
    Alvo da Lava Jato, a mulher de Eduardo Cunha, Cláudia Cruz, afaga o marido em evento da Câmara

    O juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato, aceitou nesta quinta-feira (9) a denúncia apresentada contra Cláudia Cordeiro Cruz, mulher do presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

    Com a decisão, ela vira ré na Operação Lava Jato.

    Cruz foi denunciada sob acusação de lavagem de dinheiro e evasão de divisas de valores que seriam provenientes de desvios na diretoria internacional da Petrobras. "Dinheiro público foi convertido em sapatos e roupas de grife", declarou o procurador da República Deltan Dallagnol, um dos coordenadores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

    Segundo os investigadores, Cruz se beneficiou de parte da propina de US$ 1,5 milhão que Eduardo Cunha teria recebido para viabilizar a compra, pela Petrobras, de um bloco para exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.

    O negócio foi fechado por US$ 34,5 milhões, dos quais US$ 10 milhões –quase um terço– teriam sido repassados como propina. A Petrobras acabou não encontrando petróleo no local.

    "Há uma ousadia muito grande nesse caso", disse o procurador da República Diogo Castor de Mattos.

    O dinheiro, de acordo com o relato dos investigadores, passou por dois trusts e uma offshore, ambas em nome de Cunha, segundo os investigadores, antes de chegar a uma conta na Suíça chamada Köpek –controlada por Cruz.

    Cerca de US$ 1 milhão desta conta foram usados para pagamentos de cartão de crédito em nome da offshore e escolas para os filhos do casal no Reino Unido e nos Estados Unidos, ao longo de sete anos (2008 a 2014).

    Bolsas de luxo, sapatos de grife e despesas em academias de tênis na Flórida estão entre as despesas identificadas pelo MPF.

    Para os procuradores, a versão de Cruz, de que não tinha conhecimento da origem ilícita do dinheiro, é "pouco crível".

    "Há gastos exacerbados, completamente incompatíveis com os rendimentos declarados da família", afirmou Mattos.

    Para o procurador, ela não conseguiu explicar a origem dos valores. Tampouco a justificativa de Cunha ao Conselho de Ética, de que o dinheiro dos trusts teria origem na exportação de carne para países africanos, é aceitável, segundo Mattos.

    "Esse álibi não é verdadeiro, segundo as evidências até aqui."

    CUNHA

    O "sofisticado esquema" de lavagem, diz a denúncia, não escondeu quem era o beneficiário das contas. "O verdadeiro dono do dinheiro era Cunha", disse Dallagnol.

    Segundo a investigação, o peemedebista tinha participação direta na indicação de cargos na diretoria internacional da Petrobras e atuou para que o negócio na costa africana fosse fechado, se beneficiando da propina.

    Quase todo o dinheiro da offshore Köpek (99,7%) teve origem em outra, a Netherton, e nos trusts Triumph SP e Orion SP. Em todas as contas, segundo o Ministério Público, o beneficiário final era Cunha.

    O deputado afastado já foi denunciado no STF (Supremo Tribunal Federal), sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro. A ação corre sob segredo de justiça.

    Em nota, os procuradores da Lava Jato ainda pediram que "as instituições deem uma resposta para os graves fatos noticiados" –numa referência ao processo de cassação do deputado, alvo de várias manobras para que seu desfecho seja protelado.

    "O poder e a confiança depositados pelo povo e pelo Congresso sobre Eduardo Cunha foram por ele desviados de sua finalidade pública para enriquecimento privado", disse a força-tarefa.

    OUTROS RÉUS

    Além de Cruz, também foram denunciados o empresário português Idalecio de Oliveira, proprietário da CBH (que controlava o campo de petróleo); o lobista João Augusto Rezende Henriques, operador do PMDB, segundo a investigação; e o ex-diretor internacional da Petrobras Jorge Zelada. Eles irão responder pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

    As investigações continuarão em relação a Daniele Ditz, filha de Eduardo Cunha.

    Quanto a Ditz, uma das beneficiárias do cartão de crédito, ainda não há provas suficientes, segundo o MPF, de que ela sabia sobre a ilicitude do dinheiro.

    OUTRO LADO

    O advogado responsável pela defesa de Cláudia Cruz, Pierpaolo Bottini, afirmou que sua cliente "responderá às imputações como fez até o momento, colaborando com a Justiça e entregando os documentos necessários à apuração dos fatos".

    Em nota, reiterou que ela "não tem qualquer relação com atos de corrupção ou de lavagem de dinheiro" e que não conhece os demais denunciados, nem participou ou presenciou negociações ilícitas.

    Também por meio de nota divulgada pela sua assessoria, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que sua mulher "possuía conta no exterior dentro das normas da legislação brasileira" e que o dinheiro depositado nelas não têm origem ilícita.

    A defesa de Jorge Zelada, ex-diretor da Petrobras, afirmou à reportagem que desconhece o conteúdo das acusações e que, quando ele for intimado formalmente, apresentará seus argumentos para refutá-las.

    A reportagem não conseguiu contato com os demais citados na denúncia aceita pelo juiz federal Sergio Moro.

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