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    Lava Jato

    Tia Eron reaparece, não revela voto e critica: 'Não mandam nessa nega aqui'

    RANIER BRAGON
    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    14/06/2016 16h02

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Brasilia, DF, Brasil 14.06.2016 Tia Eron ( PRB BA) durante sessao do conselho de etica da camara dos deputados Foto:Pedro Ladeira/Folhapress cod 4847
    A deputada Tia Eron (PRB-BA) em sessão do Conselho de Ética nesta terça (14)

    Rompendo um silêncio de semanas e após uma sucessão de declarações enigmáticas, a deputada Tia Eron (PRB-BA) reapareceu na tarde desta terça-feira (14) no Conselho de Ética, mas não revelou ainda seu voto. Em fala inflamada com várias críticas a colegas, afirmou apenas que seguirá a sua consciência.

    Eron é a deputada que definirá se o Conselho irá aprovar ou não a cassação do mandato do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

    Em um discurso de cerca de três minutos, Eron atacou vários colegas que cobraram a sua presença na votação da semana passada, quando ela se ausentou, em uma indicação de que o PRB havia fechado um acordo para salvar Cunha. O primeiro suplente naquela ocasião era favorável ao peemedebista.

    "Cadê Tia Eron para resolver o problema que os homens aqui não conseguem resolver?", questionou a deputada, em referência à frase que tomou conta das redes sociais ("cadê Tia Eron?") quando ela faltou à sessão. "Já que é pra resolver, pra decidir, eu vou resolver", completou a deputada em tom enfático.

    Irritada com a pressão na semana passada, Tia Eron afirmou que não foi "abduzida", em referência a um dos comentários sobre seu sumiço, e criticou: "Entenderam que de fato não mandam nessa nega aqui. Nenhum dos senhores manda".

    "Vossa Excelência cita nomes que devia higienizar sua boca", afirmou ainda, em relação ao deputado Zé Geraldo (PT-PA), segundo quem o PRB pode estar trabalhando pelo reino do Diabo na votação. Ela e a cúpula do partido são da Igreja Universal do Reino de Deus.

    A deputada recorreu ao filósofo grego Platão para justificar o seu sumiço. "Eu estava nesta Casa, a imprensa sabe que eu estava, assistindo por aquilo que Platão chamava do Mito da Caverna, pela TV, para poder olhar nos olhos de cada um. Porque os olhos refletem muito mais do que a boca não tem coragem de dizer."

    Embora não tenha explicado em qual circunstância exata ela acredita se encaixar na história, a referência é à Alegoria da Caverna, da obra "A República", a mais famosa de Platão.

    Ela relata a situação de prisioneiros que desde o nascimento só veem sombras projetadas nas paredes das caverna e que tendem a rechaçar qualquer argumento de que o mundo real não é o que está diante de seus olhos –em alusão à maneira distorcida como os seres humanos enxergam a realidade.

    'TRANQUILIDADE'

    A deputada negou que o presidente licenciado do PRB, ministro Marcos Pereira, tenha tentado influenciar no seu voto e disse que ele lhe deu "tranquilidade" para fazer seu julgamento.

    "O presidente Marcos Pereira teve essa capacidade, porque chegou a ser ministro não negociando cargos e barganha. Vossas Excelências julgam ele pelo aquilo que são, lamento", discursou, acrescentando que irá votar com sua consciência. "Você pode brigar com sua mulher, com os eleitores, com o Brasil, mas não pode brigar com sua consciência. Vote com a sua consciência", disse, em referência a conselho que teria recebido de Júlio Delgado (PSB-MG) na votação do impeachment. "É o que eu farei na tarde de hoje. Obrigado", finalizou Eron.

    Eduardo Cunha é julgado no Conselho de Ética por suspeita de ter mentido sobre possuir ou não contas no exterior na CPI da Petrobras, em 2015.

    Tia Eron é o voto decisivo no Conselho, que está dividido em 10 votos a favor de Cunha e nove contra. Como haverá empate em 10 a 10, o voto de minerva será dado contra Cunha pelo presidente do Conselho, José Carlos Araújo.

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