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    Lava Jato

    Machado relata propina a mais de 20 políticos de PMDB, PT, DEM e PSDB

    MÁRCIO FALCÃO
    AGUIRRE TALENTO
    RANIER BRAGON
    MARINA DIAS
    DANIELA LIMA
    DE BRASÍLIA

    15/06/2016 13h07 - Atualizado às 19h03

    Renata Mello/Transpetro
    Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e ex-aliado do PMDB
    Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e ex-aliado do PMDB

    Em sua delação premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado relatou ter repassado propina a mais de 20 políticos de diferentes partidos, passando por PMDB, PT, DEM, PSDB, PC do B e PP.

    O PMDB, fiador político de sua indicação à presidência da Transpetro, foi o que mais arrecadou: cerca de R$ 100 milhões, de acordo com seus depoimentos.

    Segundo ele, os políticos o procuravam pedindo doações e, em seguida, Machado solicitava os repasses às empreiteiras que tinham contratos com a Transpetro.

    "Embora a palavra propina não fosse dita, esses políticos sabiam ao procurarem o depoente que não obteriam dele doação com recursos do próprio, enquanto pessoa física, nem da Transpetro, e sim de empresas que tinham relacionamento contratual com a Transpetro", afirmou.

    A lista de políticos entregue por Sérgio Machado inclui ferrenhos adversários do PT, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE, morto em 2014), o senador José Agripino Maia (DEM-RN) e o deputado Felipe Maia (DEM-RN).

    Além deles, outros que o procuraram pedindo recursos foram, de acordo com sua delação, os caciques do PMDB Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR), José Sarney (AP) e Jader Barbalho (PA), e também os parlamentares e ex-parlamentares Cândido Vaccarezza (PT-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Luiz Sérgio (PT-RJ), Edison Lobão (PMDB-MA), Edson Santos (PT-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Ideli Salvatti (PT-SC), Jorge Bittar (PT-RJ), Garibaldi Alves (PMDB-RN), Walter Alves (PMDB-RN) e Valdir Raupp (PMDB-RO).

    Machado também afirmou que o presidente interino, Michel Temer, negociou propina para a campanha do então correligionário Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012.

    No caso de Renan, Jucá e Sarney, o ex-presidente da Transpetro relatou que eles receberam tanto por meio de doações oficiais como de dinheiro em espécie. Machado detalhou quais doações feitas a eles podem ser consideradas como propina.

    Machado também relatou quais empresas aceitavam fazer pagamentos de propina referentes aos contratos com a Transpetro. Segundo ele, foram a Camargo Corrêa, Galvão Engenharia, Queiroz Galvão, NM Engenharia, Estre Ambiental, Polidutos, Essencis Soluções Ambientais, Lumina Resíduos Industriais e Estaleiro Rio Tietê.

    "Quando chamava uma empresa para instruí-la a fazer doação oficial a político, ele sabia que isso não era lícito, que a empresa fazia doações em razão de seus contratos com a Transpetro", disse Sérgio Machado, em um de seus depoimentos.

    MACHADO GIRATÓRIO

    OUTRO LADO

    Os implicados na delação de Machado apressaram-se em negar o recebimento ilícito de verbas ou mesmo qualquer contato com o delator.

    Renal Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, disse nunca ter autorizado alguém a representá-lo nesse tipo de relação e que todas as doações de campanha recebidas foram legais. "Não tenho nada a temer."

    Os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Edison Lobão (PMDB -MA) e o ex-presidente José Sarney, negaram, por meio de seu advogado, que tenham recebido recursos de Machado. O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) disse conhecer Machado apenas de vista e negou ter recebido doações da JBS.

    O senador Aécio Neves negou que tenha usado propinas para comprar apoio na Câmara. Roberto Requião (PMDB-PR) afirmou que o único contato que teve com Machado foi quando foram senadores juntos.

    Gabriel Chalita (PDT), hoje secretário municipal de Educação de São Paulo, negou conhecer ou ter contato com Machado.

    O ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo), o senador José Agripino Maia (DEM-RN) e os deputados Luiz Sérgio (PT-RJ) e Felipe Maia (DEM-RN) confirmaram ter recebido doações, mas afirmam que elas foram lícitas. O mesmo foi dito por Garibalde Alves e Walter Alves (ambos do PMDB-RN).

    O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) afirmou não tratar da delação por não ser especialista em "estrume". Barbalho chama Machado de canalha e bandido.

    O ex-ministro das Comunicações no governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros negou ter participado da campanha de reeleição do ex-presidente.

    O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) afirmou que Machado nunca arrecadou para suas campanhas e que nunca pediu que o o ex-presidente da Transpetro o fizesse. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) também disse nunca ter solicitado doações a Machado.

    A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), reafirmou ter se encontrado com Sérgio Machado, mas negou que existam irregularidades em sua contabilidade eleitoral.

    O presidente da Telebras e ex-deputado pelo PT do Rio de Janeiro, Jorge Bittar, negou que tenha tido reuniões para solicitar recursos a Machado e disse que as doações recebidas foram lícitas.

    O ministro do TCU Vital do Rêgo afirmou que não se manifestará "tendo em vista desconhecer os termos da referida delação".

    O ex-senador e ex-governador de Alagoas Teotônio Vilela Filho disse "repudiar veementemente" as declarações de Machado sobre o PSDB e disse estar interessado no "pleno esclarecimento dos fatos".

    A Folha não conseguiu falar com a ex-ministra Ideli Salvatti (PT-SP).

    Heráclito Fortes (PSB-PI) está em missão oficial no Panamá e disse que só irá se manifestar nesta quinta-feira (15), quando retornar ao país.

    Procuradas, as empresas Galvão Engenharia, NM Engenharia, Estre Ambiental (que também responde pela Polidutos), Estaleiro Rio Tietê e Lumina Resíduos Industriais (Odebrecht Ambiental) não quiseram, por ora, se manifestar.

    A Camargo Corrêa afirmou que "colabora com a Justiça por meio de um acordo de leniência". Já a Queiroz Galvão informou que "não comenta investigações em andamento".

    A Essencis Soluções Ambientais não havia respondido até as 18h.

    *

    Veja todos os citados por Machado em sua delação:

    • Senador Aécio Neves (PSDB-MG)
    • Deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP)
    • Senador Edison Lobão (PMDB-MA)
    • Deputado federal Edson Santos (PT-RJ)
    • Senador Eduardo Braga (PMDB-AM)
    • Deputado federal Felipe Maia (DEM-RN)
    • Governador do Rio Francisco Dornelles (PP-RJ)
    • Secretário de Educação de São Paulo Gabriel Chalita (PDT-SP)
    • Senador Garibaldi Alves (PMDB-RN)
    • Ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)
    • Deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI)
    • Ex-ministro Ideli Salvatti (PT-SC)
    • Senador Jader Barbalho (PMDB-PA)
    • Deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
    • Ex-deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ)
    • Senador José Agripino Maia (DEM-RN)
    • Ex-presidente José Sarney (PMDB-AP)
    • Ex-ministro das Comunicações (governo FHC) Luiz Carlos Mendonça de Barros
    • Deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ)
    • Presidente interino Michel Temer (PMDB-SP)
    • Presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL)
    • Senador Roberto Requião (PMDB-PR)
    • Senador Romero Jucá (PMDB-RR)
    • Ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE)
    • Ex-senador Teotônio Vilela Filho (PMDB-AL)
    • Senador Valdir Raupp (PMDB-RO)
    • Deputado Walter Alves (PMDB-RN)
    • Ministro do TCU Vital do Rego (PMDB-PB)

    Colaboraram REYNALDO TUROLLO JR. e WÁLTER NUNES, de São Paulo

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