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    Lava Jato

    Filho de Machado diz que mantinha R$ 2 milhões em espécie em sala no CE

    GABRIEL MASCARENHAS
    MÁRCIO FALCÃO
    RUBENS VALENTE
    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    15/06/2016 15h57 - Atualizado às 17h51

    Daniel Firmeza Machado, filho do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, afirmou em depoimentos de sua delação premiada que chegou a manter R$ 2 milhões em dinheiro, guardados numa sala comercial de Fortaleza.

    Pai e filho firmaram acordo para colaborar com o Ministério Público Federal e admitiram diversas operações ilegais envolvendo empresas e políticos.

    Daniel contou que apresentou ao seu pai o operador Felipe Parente, homem que durante cerca de três anos –de 2004 a 2007– foi o responsável por arrecadar recursos junto às empresas em nome de Sérgio Machado, que os repassava a políticos aliados.

    Machado assumiu a Transpetro em 2003. No ano seguinte, por intermédio de Daniel, Felipe Parente passou a trabalhar no processo de recolhimento de propina paga por empresários.

    De acordo com Daniel, Machado entregava os nomes dos executivos a quem Felipe Parente deveria bater à porta e pedir dinheiro. Pelo serviço escuso, segundo Daniel, Parente recebia 5% de cada remessa arrecadada.

    Daniel relatou que nesse período pediu ao pai que o ajudasse a quitar dívidas contraídas por suas empresas. Machado concordou e pediu que Felipe Parente o repassasse o montante: entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões.

    Ele contou ainda que, durante um tempo, armazenou esse dinheiro, em espécie, numa sala alugada em Fortaleza. Mais tarde, combinou com os controladores de uma construtora para que a empresa recebesse esse montante em dinheiro e o repassasse por transação bancária ao seu irmão, Sérgio Firmeza Machado.

    De acordo com Daniel, nem a construtora nem seu irmão sabiam que o dinheiro era originário dos negócios feitos entre Felipe Parente e seu pai. Ele relatou ter contado ao irmão que o valor referia-se à venda de um imóvel.

    HONORÁRIOS

    Daniel admitiu que, desde janeiro deste ano, vem arcando com as despesas dos advogados de Felipe Parente, citado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, e que também fechou delação premiada com o Ministério Público.

    Daniel disse ter ficado anos sem falar com Parente, que voltou a procurá-lo após a deflagração da Operação Lava Jato.

    Conforme relato de Daniel, Parente contou que estava sendo ameaçado por um doleiro com quem fazia negócios na época em que ele prestava serviço a Sérgio Machado.

    O doleiro exigia dinheiro para não denunciá-lo Parente. Por orientação de Daniel, segundo ele próprio contou aos investigadores, Parente se recusou a comprar o silêncio do doleiro.

    Após a delação de Ricardo Pessoa, Daniel afirma ter sido procurado pelo irmão de Felipe Parente, que lhe pediu para bancar os honorários da defesa do operador. Daniel confessou que aceitou a solicitação e, por isso, passou a arcar com a defesa do ex-operador de seu pai.

    DETALHES

    O filho de Machado detalhou os encontros com os executivos de cada uma das empresas que participavam do esquema, fornecendo aos investigadores nomes, locais das reuniões e como eram realizadas as operações financeiras.

    Ele relatou reuniões dentro da sede da Camargo Corrêa, em São Paulo, onde entrava sem passar pela catraca, obedecendo uma combinação feita entre seu pai e a cúpula da empresa.

    Afirmou que as negociações ficavam a cargo de Pietro Bianchi, "encarregado de operacionalizar a transferência desses recursos para a conta no exterior".

    Expedito disse que o montante desembolsado pela construtora chegou a R$ 9 milhões, segundo ele, em repasses feitos por meio de instituições bancárias sediadas em Andorra, no período entre novembro de 2007 e dezembro do ano seguinte.

    De acordo com o delator, no caso da Queiroz Galvão, os contatos eram feitos diretamente por Sergio Machado.

    Expedito contou que o então presidente da Transpetro chegou a receber em sua casa para um jantar o executivo da empresa Ildefonso Colares –também alvo da Lava Jato– "a quem meu pai admirava e tinha uma relação muito próxima", contou em depoimento.

    Ele afirmou ainda que as negociações escusas que envolveram a Galvão Engenharia passaram por reuniões com um dos donos da empreiteira, Dario Galvão.

    A empresa, segundo Expedito, fez pelo menos três pagamentos milionários de suborno, operacionalizados por outro sócio, Eduardo Galvão.

    "Nesse encontro Eduardo Galvão comentou que gostava muito de jogar tênis e que ia com frequência ao Ceará, pois sua esposa era cearense", afirmou o delator no depoimento, dando detalhes da conversa com o empresário.

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