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    PM gaúcha prende jornalista durante protesto em prédio público no RS

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE (RS)

    16/06/2016 16h48

    A Brigada Militar, a PM gaúcha, prendeu na quarta-feira (15) 42 pessoas suspeitas de invasão e dano a órgão público –a SeFaz (Secretaria da Fazenda)– em Porto Alegre. Entre os detidos está um repórter do periódico "Jornal Já".

    O jornalista Matheus Chaparini, 27, foi primeiramente encaminhado a uma delegacia e depois levado ao Presídio Central. Acabou liberado às 2h da madrugada desta quinta (16).

    Segundo nota da Secretaria de Segurança, o repórter foi preso devido à invasão e não à sua atividade como jornalista. A pasta disse ainda que Chaparini só "se identificou como jornalista quando já estava consumada a prisão". O repórter nega.

    A invasão e o protesto na SeFaz foram feitas contra o PL/044, projeto que abriria caminho para privatização das escolas. Dos 42 detidos, a maioria é estudante e menores de idade –dez são maiores, como Chaparini.

    O governo de José Ivo Sartori (PMDB) se comprometeu em adiar a discussão do projeto para o próximo ano em troca da desocupação de quase 200 escolas estaduais em todo Rio Grande do Sul.

    O jornalista contou à Folha que só descobriu que estava preso de verdade na delegacia e que ouviu de uma autoridade que "deveria estar feliz por não estar algemado".

    Na sequência, ele foi levado ao Presídio Central, considerado o pior do país pela ONU (Organização das Nações Unidas). Chaparini está em liberdade provisória, acusado ainda de desacato, resistência à prisão, organização criminosa e corrupção de menores, além de dano ao patrimônio, esbulho possessório (invasão).

    "Agora sou um homem provisoriamente livre. É triste por causa do exercício profissional [comprometido]", diz Chaparini.

    O repórter diz que mostrou seu crachá de identificação aos policiais. "Questionei se não deveria ter uma policial mulher para levar aquelas meninas. Insisti na pergunta dizendo que era repórter", relembra.

    Segundo Chaparini, após se identificar como jornalista, um policial respondeu: "Não, não. Pra mim, [você] tá junto. Se tá junto, vai [preso] também". O repórter chegou a participar da coletiva de imprensa da BM no local.

    Procurada pela Folha através da sua assessoria, a BM não quis se manifestar e disse que o posicionamento é o mesmo da nota divulgada pela Secretaria de Segurança.

    OUTRO LADO

    Na nota, o órgão afirma que Chaparini, na delegacia, "quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, negou-se a falar, permanecendo em silêncio e optando por falar somente em juízo". O jornalista nega.

    Ainda na nota, o governo diz que "a prisão se deu em virtude do ato individual de invasão, do qual ele foi parte ativa, e não do exercício da atividade profissional de jornalista, cujas garantias são historicamente prestigiadas e asseguradas pelos órgãos de segurança do Rio Grande do Sul".

    A pasta ainda diz que Chaparini foi preso porque "durante todo o tempo, ele estava dentro do prédio invadido, agindo como integrante do grupo militante que praticou a invasão". Segundo o governo, os repórteres que "respeitaram a polícia" tiveram "garantido o exercício profissional".

    A nota termina dizendo que as polícias militar e civil agiram conforme a lei e que caberá ao Judiciário decidir sobre a responsabilidade penal dos presos.

    O Sindicato dos Jornalistas do RS repudiou a ação da polícia. "A prisão de um jornalista durante o exercício profissional mostra o tratamento que é dispensado a quem busca, através de seu trabalho, informar a população, em uma tentativa de inibir a atuação da imprensa na cobertura e esclarecimento dos fatos", diz em nota.

    Chaparini é funcionário do "Jornal Já" há pouco mais de um ano. O veículo é reconhecido pela cobertura de temas que envolvem direitos humanos e já recebeu um Prêmio Esso, em 2004, com a reportagem "A tragédia de Felipe Klein".

    O repórter tem passagens ainda por veículos como a Rádio Pampa e TVE.

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