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    Lava Jato

    Doações de empreiteiras coincidem com delação de Sérgio Machado

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    19/06/2016 02h00

    As empreiteiras Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Galvão Engenharia fizeram doações eleitorais em 2010, 2012 e 2014 que coincidem com relatos da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, revelados na quinta (16).

    Levantamento da Folha mostra que ao menos 14 dos 25 citados receberam doações que sustentam a fala de Machado de que parte dos recursos ilícitos chegou a políticos por meio de doações oficiais.

    O delator afirmou, por exemplo, que o ex-ministro Edson Santos (PT-RJ), recebeu R$ 142,4 mil da Queiroz Galvão nas eleições de 2014. De fato, segundo prestação de contas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a empreiteira doou, via diretório nacional, R$ 142,5 mil ao candidato em setembro daquele ano.

    O mesmo acontece com o outros políticos, como o deputado Felipe Maia (DEM-RN), que recebeu R$ 250 mil em 2014 da Queiroz Galvão –no TSE consta uma doação da empresa, no valor, intermediada pelo diretório nacional do partido, antes da eleição.

    Em outros casos, como o envolvendo Gabriel Chalita (PDT, ex-PMDB) e o presidente interino Michel Temer, a relação não é tão cristalina. Isso porque antes de 2014 os dados do TSE não trazem os doadores originários, fazendo com que as doações via diretórios tenham origem oculta.

    Sobre Chalita, o delator afirmou que Temer solicitou R$ 1,5 milhão para a campanha do aliado à Prefeitura de São Paulo em 2012, que teriam sido pagos pela Queiroz Galvão.

    Nos dados do TSE, vê-se que a empresa doou R$ 1,5 milhão ao PMDB em 28 de setembro daquele ano. No mesmo dia, a sigla repassou R$ 1 milhão a Chalita e, pouco depois, em 2 de outubro, outros R$ 500 mil.

    Doações a políticos citados

    Já sobre o governador interino do Rio Francisco Dornelles (PP), Machado afirmou que o então presidente do partido teria lhe pedido R$ 250 mil para ajudar o diretório carioca nas eleições de 2010. No TSE, constam duas doações neste valor feitas pela Queiroz Galvão ao PP-RJ, em 22 de setembro e 1º de outubro.

    Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Sarney Filho (PV-MA), Cândido Vacarezza (PT-SP), Luiz Sérgio (PT-RJ), Francisco Dornelles (PP-RJ), Walter Alves (PMDB-RN), Garibaldi Alves (PMDB-RN), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Agripino Maia (DEM-RN), Ideli Salvatti (PT-SC) e Jorge Bittar (PT-RJ) também receberam doações compatíveis com a versão de Machado.

    No caso da ex-ministra petista Ideli Salvatti, candidata ao governo de Santa Catarina em 2010, a doação de R$ 500 mil teria vindo da Camargo Corrêa. A empreiteira fez três doações nesse valor para o comitê financeiro do PT-SC nesse ano –e o comitê, por sua vez, doou cerca de R$ 2,9 milhões para Salvatti.

    Nesses os casos, as empreiteiras fizeram doações aos diretórios nacionais e estaduais, que repassaram aos candidatos valores conciliáveis com a delação. O levantamento levou em consideração trechos que traziam nome do político, da empresa, ano e valor.

    OUTRO LADO

    Temer afirmou que nunca pediu recursos ilícitos a Machado e Chalita disse não conhecer o delator. Henrique Alves chamou as acusações de "irresponsáveis".

    Edson Santos as chamou de "absurdas" do delator e Vacarezza disse nunca ter pedido ajuda a Machado.

    Os outros políticos afirmaram durante a semana que as doações feitas são legais. Salvatti não foi localizada para comentário.

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