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    Jornalismo investigativo no Brasil não adotou modelo dos EUA, diz repórter

    CAROLINA LINHARES
    DE SÃO PAULO

    23/06/2016 15h21

    As grandes redações do Brasil não incorporaram o modelo americano de jornalismo investigativo, com equipe e orçamento exclusivos para reportagens de fôlego que demandam meses de apuração.

    Essa foi a resposta do repórter da Folha Rubens Valente ao ser provocado sobre o fato de a cobertura da Lava Jato depender, muitas vezes, de documentos e delações.

    Valente falou em palestra sobre livro-reportagens no 11º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) nesta quinta (23), em São Paulo.

    "A gente tem repórter especial, que é diferente de investigação. O jornalismo investigativo no Brasil tem vivido do voluntarismo. Tem equipes preparando reportagens para o fim de semana, mas não para daqui a meses", disse Valente.

    "Não é possível conseguir uma grande história sobre a Lava Jato assim", completou.

    Para Vladimir Netto, da TV Globo, que também participou da palestra, a crise atual é um dos empecilhos para que as redações invistam no modelo "Spotlight" –nome da equipe de investigação do jornal americano "The Boston Globe" que inspirou o filme de mesmo nome, vencedor do Oscar neste ano.

    Ainda assim, Valente e Vladimir, mesmo envolvidos na cobertura diária, conseguiram investir em apurações aprofundadas para escrever livros-reportagens. "Lava Jato - O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil", obra do repórter da TV Globo, foi lançado neste mês e será usado como base para uma série da Netflix.

    Valente, por sua vez, é autor de "Operação Banqueiro" (2014), sobre a Operação Satriagraha, e deve lançar um novo livro sobre a população indígena na época da ditadura militar.

    Segundo o jornalista da Folha, a ideia partiu da história de vida dele, que cobriu operações da Polícia Federal e indígenas durante anos. "O livro vem quando o jornal fica pequeno para aquele tema", disse Valente.

    Para fazer os livros, os repórteres leram milhares de documentos e tiveram que arcar com os custos da apuração. Por isso, recomendam manter um guia de documentos para busca com palavras-chaves e uma poupança.

    "O livro-reportagem ainda não é um meio de vida, mas pode vir a ser", afirmou Valente.

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