• Poder

    Monday, 06-May-2024 12:47:04 -03

    Lava Jato

    Dono da UTC, Ricardo Pessoa é condenado a 8 anos na Lava Jato

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    24/06/2016 15h01 - Atualizado às 00h02

    Alan Marques - 15.set.2015/Folhapress
    *** CORREÇÃO DE LEGENDA *** BRASÍLIA, DF, BRASIL, 15.09.2015. A CPI da Petrobras ouve o dono da UTC, Ricardo Pessoa, durante reunião da comissão na Câmara dos Deputados. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    Ricardo Pessoa, durante reunião da comissão na Câmara dos Deputados

    Investigado na Operação Lava Jato, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, foi condenado nesta quinta-feira (23) a 8 anos e 2 meses de prisão pelos crimes de corrupção ativa e participação em organização criminosa por pagar propinas em obras da Petrobras.

    Mas, para o delator, o veredicto é parte de "uma nova história, um novo capítulo".

    "Com muita obstinação, Ricardo Pessoa está tentando colocar as coisas no lugar", escreveu em janeiro ao juiz Sergio Moro, em memorial de alegações finais que fez "de próprio punho".

    Pessoa, 64, foi o único condenado na ação julgada nesta quinta, que tratava do pagamento de propina pela UTC em obras como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o Comperj, no Rio de Janeiro, e a Refinaria Getúlio Vargas, no Paraná.

    A empresa pagou R$ 38 milhões em propina a agentes da Petrobras pelos contratos, "um valor muito expressivo", afirmou Moro na sentença.

    Mas ele foi também um dos primeiros empresários presos na Operação Lava Jato que resolveu fazer um acordo de delação premiada –o que diminuiu a pena e evitará sua prisão, mesmo com a sentença condenatória.

    Segundo a delação de Pessoa, que veio a público em junho do ano passado, o empreiteiro doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma Rousseff pressionado pelo então tesoureiro Edinho Silva. Silva, ex-ministro de Dilma, nega as afirmações.

    Segundo ele, a opção pela delação foi definida no Natal de 2014, um mês após sua prisão. "A cadeia é algo indescritível. Só quem viveu, cheirou, sentiu, pode saber o que é", escreveu a Moro.

    Na época apontado como líder do "clube" de empresas que dirigia as licitações da Petrobras, Pessoa forneceu anotações pessoais, franqueou acesso a pagamentos da UTC e prestou dezenas de depoimentos aos investigadores.

    "A solidão faz os pensamentos alcançarem os lugares mais profundos. Neste caso, provocou mudanças intensas", disse o empresário sobre a decisão, que chamou de "libertação".

    Foram "provas relevantíssimas", segundo afirmou o próprio juiz Sergio Moro na sentença, que ajudaram a descobrir "um grande esquema criminoso".

    O juiz ainda o absolve da pecha de líder, dizendo "não entender" que Pessoa dirigia a ação dos demais executivos envolvidos no esquema de corrupção na estatal.

    SENTENÇA

    Moro concluiu que ele participou de acertos de propina em nome da UTC e destacou que o próprio réu admitiu que fez pagamentos escusos por anos, mesmo em 2014, após a prisão do doleiro Alberto Youssef –um dos principais operadores do esquema.

    O engenheiro pediu desculpas no processo. "Ricardo Pessoa não gostava de viver da forma como a sua engrenagem funcionava anteriormente. Mudou", escreveu.

    Apesar da sentença, seu acordo com a Justiça prevê que ele fique em regime aberto diferenciado, com uso de tornozeleira, até novembro de 2017.

    O tempo de prisão foi cumprido entre 2014 e 2015: foram 166 dias na cadeia.

    Pessoa também irá devolver R$ 51 milhões, como multa, aos cofres públicos.

    Os outros três réus foram absolvidos no processo. São eles: o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o empresário Márcio Bonilho, da Sanko Sider, que intermediava o pagamento de propina.

    No caso dos dois primeiros, houve extinção do processo, já que foram condenados pelos mesmos fatos em outras ações. Bonilho foi absolvido por ausência de provas.

    VIDA PÓS-DELAÇÃO

    A defesa de Pessoa afirmou que ele "está dedicado a reconstruir a sua empresa e a cumprir o acordo de colaboração". E que a obstinação que o conduziu na era pré-Lava Jato, levando a UTC a ser uma das maiores do país, hoje o move a acertar as contas com o passado.

    O executivo voltou a trabalhar na empreiteira. Diz ter implantado "um rígido sistema de compliance [cumprimento de normas]" e revisto "todos os procedimentos".

    A UTC era uma das maiores construtoras do país. Participou da montagem de hidrelétricas como Itaipu e Tucuruí, construiu plataformas de petróleo e aeroportos.

    Após a investigação, passou de 35 mil funcionários para 12 mil, segundo Pessoa. De um prédio inteiro, reduziu-se a "um andar e meio".

    "Erros foram cometidos, mas a tradição e excelência do grupo não podem ser julgados pelas opções erradas que fez o denunciado no passado", escreveu ele.

    O executivo ainda responde pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em outra ação penal na Justiça.

    Empreiteiros condenados

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024