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    Advogado diz que não fez repasses a ex-ministro, mas admite ter pago despesas

    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    27/06/2016 18h16

    O advogado Guilherme Gonçalves, que trabalhou para o ex-ministro Paulo Bernardo e em campanhas da mulher dele, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), negou ter beneficiado o petista com repasses da empresa Consist, mas afirmou que fez pagamentos de despesas ligadas ao petista.

    Gonçalves foi um dos alvos da Operação Custo Brasil, que investiga desvios do Planejamento iniciados no período em Paulo Bernardo era o chefe da pasta, em 2010, e que perduraram até 2015, segundo as autoridades.

    Os investigadores pediram a prisão temporária do advogado por ter fortes indícios de que ele se beneficiou de parte dos R$ 100 milhões desviados de contratos entre a Consist e Ministério do Planejamento.

    Segundo o MPF (Ministério Público Federal) e a Polícia Federal, o escritório de Guilherme Gonçalves recebeu mais de R$ 7 milhões por meio do esquema entre 2010 e 2015. O montante, que segundo investigadores seria propina, foi levantado por meio de notas fiscais com pagamentos da Consist ao escritório.

    Há a suspeita de que parte desse valor foi repassado ao ex-ministro Paulo Bernado, inclusive na forma de pagamentos das despesas pessoais dele, como aluguel de loft e pagamento de salários de empregados.

    Questionado sobre o tema nesta segunda, Gonçalves disse que efetivamente prestou serviços à Consist, que era sua cliente.

    Ele também confirmou que pagou R$ 32 mil no aluguel de um imóvel que foi usado na campanha de Gleisi ao Senado, em 2010. Gonçalves disse que fez o pagamento por ter atuado como advogado eleitoral da então candidata ao senado.

    No despacho do juiz responsável pelo caso Paulo Bueno de Azevedo, ele afirma que "Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para "PB", que seria Paulo Bernardo. Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais".

    O juiz diz ainda que "o investigado Guilherme Gonçalves, que espontaneamente falava sobre o caso, disse que teria concordado com uma redução no valor de seus honorários".

    O advogado, que é especialista na área eleitoral, fez as declarações na audiência de custódia, em que autoridades abordam apenas os motivos que o levaram à prisão e que não podem ser usados como produção de prova.

    A oitiva aconteceu um dia depois dele ser preso ao chegar de uma viagem internacional. O advogado foi detido no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), e levado à sede da PF em São Paulo na Lapa, onde permanece detido.

    O depoimento em que Guilherme Gonçalves detalhará todos os fatos que o envolvem ainda será marcado.

    O advogado de Guilherme, Rodrigo Rios, entregou à Justiça comprovantes da evolução patrimonial do cliente.

    Segundo ele, valor recebido pela Consist foi investido por Gonçalves e pode ser localizado. "Meu cliente nunca foi lobista, tem uma carreira consolidada nas áreas administrativa e eleitoral. Mostramos que a Consist teve um percentual nos lucros do escritório, mas nunca foi seu principal cliente, o que derruba a tese de escritório de fachada", diz Rios.

    EX-MINISTRO

    A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo se manifestou sobre as declarações do advogado, afirmando que "O depoimento prestado pelo Sr. Guilherme Gonçalves deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist. Ficaram claras a origem dos pagamentos recebidos pelo Sr. Guilherme Gonçalves e o destino por ele dado a esses valores, sem qualquer envolvimento de Paulo Bernardo."

    Com base no depoimento, a defesa do ex-ministro questionou as razões da prisão preventiva dele, alegando que "além de ausentes os requisitos técnicos da medida extrema, também não há qualquer indício de autoria com relação a ele".

    A defesa do ex-ministro solicitou ao juiz Paulo Bueno de Azevedo uma nova análise da justificativa para manter a prisão de Paulo Bernardo. O magistrado decidiu mantê-lo detido.

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