• Poder

    Tuesday, 30-Apr-2024 08:00:08 -03

    'Prisão foi para constranger', diz ex-ministro Paulo Bernardo ao ser solto

    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    29/06/2016 22h58 - Atualizado às 00h28

    Marcus Leoni/Folhapress
    O ex-ministro Paulo Bernardo ao deixar a sede da PF em São Paulo após seis dias de prisão
    O ex-ministro Paulo Bernardo ao deixar a sede da PF em São Paulo após seis dias de prisão

    O ex-ministro Paulo Bernardo foi solto na noite desta quarta-feira (29) depois de passar seis dias preso na carceragem da Polícia Federal em São Paulo.

    Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Paulo Bernardo foi preso nesta quinta (23) na Operação Custo Brasil um desdobramento da Lava Jato, que investiga desvios do Ministério do Planejamento. O petista é acusado de ter se beneficiado de propina de contratos da pasta que perduraram de 2010, quando ele estava à frente do ministério, a 2015.

    Ao deixar a prisão, por volta das 23h, o ex-ministro disse que se sentia "constrangido". "Acho que foi para isso que eu vim aqui. Sou inocente, isso vai ficar demonstrado. Essa prisão não era necessária. Eu estava em local encontrável, me coloquei à disposição da Justiça várias vezes para depor e durante dez meses. Felizmente, o ministro Dias Toffoli, do Supremo, teve o mesmo entendimento", disse Paulo Bernardo.

    Em decisão nesta quarta, Toffoli afirmou que não há elementos no processo que justifiquem a manutenção da prisão preventiva, como uma possível fuga de Paulo Bernardo para o exterior ou o risco de interferência nas investigações e cometimento de novos crimes se colocado em liberdade.

    O juiz federal Paulo Bueno de Azevedo, responsável pela condução do caso e que havia determinado a prisão preventiva do petista na semana passada, disse que a detenção deveria ocorrer "para garantia da ordem pública, da instrução criminal e para aplicação da lei penal".

    Questionado sobre a suspeita de ter recebido propina por meio do seu advogado Guilherme Gonçalves, que, segundo as investigações, pagou despesas do petista, ele afirmou que "isso não tem o menor cabimento, minhas despesas são pagas com meu salário".

    Paulo Bernardo disse ainda que sua prisão foi embasada nas delações premiadas do ex-vereador Alexandre Romano, o Chambinho, e do ex-senador Delcidio do Amaral, em que "houve muita manipulação".

    O ex-ministro afirmou também que o Ministério do Planejamento não tem nenhum contrato com a Consist, empresa suspeita de fazer parte do esquema de desvio.

    "Ela foi contratada pela Associação de Bancos e pelo Sindicato da Entidades de Previdência Privada. Quem quiser esclarecer isso deve falar com os bancos e essas entidades. Como foram esses contratos não temos a menor ideia", disse.

    "Não tenho nenhuma relação com a Consit. O delegado esteve me visitando e perguntei para ele: 'O senhor teve o cuidado de perguntar para a Consist se ela tem alguma relação comigo?'. Acho que ele vai fazer isso", completou.

    Sobre o fato de Gonçalves prestar serviços para a Consist, Paulo Bernardo disse que ele "advoga para 300 pessoas", e que era necessário fazer as perguntas a ele.

    Prisão e Soltura

    REAÇÃO

    Além de Paulo Bernardo, outros sete presos da operação foram soltos após o despacho do juiz Paulo Azevedo, que seguiu o entendimento de Toffoli, embora tenha manifestado que discorda do ministro do Supremo.

    Paulo Bernardo saiu acompanhado de uma advogada e carregando uma pequena mala de mão.

    O advogado dele, Guilherme Gonçalves, saiu poucos segundos depois do ex-ministro, assim como os demais investigados que tiveram a prisão revogada.

    Em nota, procuradores do grupo de trabalho da Operação Custo Brasil se dizem "perplexos" com a soltura do ex-ministro.

    A senadora Gleisi Hoffman, mulher do ex-ministro, comemorou, durante sessão da comissão do impeachment, a decisão de soltá-lo. "Isso é fundamental para mim, porque não havia base nenhuma para essa prisão acontecer. Nós nunca aqui nos recusamos a responder nada", disse. "Quero lamentar aqui comentários aqui feitos na comissão sobre esse caso. Aqui neste país julga-se primeiro antes de ter informação", ressaltou.

    CUSTO BRASIL

    O Ministério Público Federal e a Polícia Federal estimam que cerca de R$ 100 milhões foram desviados do contrato entre a empresa de tecnologia Consist, que gerencia créditos consignados, e o Ministério do Planejamento para pagamento de propina.

    A Consist recebia cerca de R$ 1,00 por parcela de empréstimo paga, quando o valor de mercado é de R$ 0,30. Entre os destinatários do valor, segundo investigadores, estariam Paulo Bernardo e o PT.

    O ex-ministro é suspeito de ter recebido R$ 7 milhões em propina.

    Como funcionava o esquema

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024