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    Lava Jato

    31ª fase da Lava Jato mira fraude em licitação para centro da Petrobras

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO
    MÁRCIO FALCÃO
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    04/07/2016 06h53 - Atualizado às 17h06

    A Polícia Federal de Curitiba deflagrou nesta segunda-feira (4) a 31ª fase da Operação Lava Jato, batizada de "Abismo".

    Foram expedidos um mandado de prisão preventiva, quatro de prisões temporárias, sete de condução coercitiva e 23 de busca e apreensão.

    Um dos principais alvos é o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que foi preso no último dia 24, dia seguinte da Operação Custo Brasil, que investiga desvios do Ministério do Planejamento. O mandado dele é de prisão preventiva –ele deve permanecer detido em São Paulo.

    Ferreira foi deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul de 2012 a 2014. Ele é casado com Tereza Campello, ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Dilma.

    A Polícia Federal e o Ministério Público Federal identificaram o pagamento de R$ 39 milhões em propina entre 2007 e 2012, como parte do contrato de construção do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro.

    Do total, R$ 1 milhão teria beneficiado diretamente o ex-tesoureiro Paulo Ferreira.

    Os pagamentos a Ferreira foram realizados por contas de familiares, empresas e até por um blog e uma escola de samba de Porto Alegre, que receberam transferências do esquema por indicação do ex-tesoureiro, segundo a investigação.

    "Ele buscava apoio político nas mais variadas frentes", comentou o procurador Roberson Pozzobon. Um dos operadores, Alexandre Romano, funcionava como o "caixa" do ex-tesoureiro, e repassava os valores a quem ele indicava.

    "Os pagamentos não revertiam às contas do partido exclusivamente, mas havia benefícios pessoais." Parentes e empresas ligadas ao ex-tesoureiro também receberam parte das transferências.

    A operação acontece nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.

    31ª Fase da Lava Jato - Operação "Abismo"

    ABISMO

    As investigações da "Abismo" apuram fraude à licitação, lavagem de dinheiro, cartel e pagamento de valores indevidos a servidores da Petrobras e membros do PT, "num contexto amplo de sistemático prejuízo financeiro imposto à Petrobras", segundo a PF.

    "Há uma conexão entre as operações recentes", disse o procurador da República Roberson Pozzobon, destacando o fato de os nomes de investigados se repetirem nas últimas semanas em diversas operações contra a corrupção –como o próprio Ferreira, preso no mês passado na Operação Custo Brasil.

    "Não há como enfrentar o crime organizado de maneira desorganizada. A corrupção está efetivamente alastrada no nosso país", afirmou Pozzobon.

    O nome da operação é uma referência às tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas desenvolvidas no Cenpes –e também à profundidade do esquema de corrupção na estatal. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o esquema "levou a empresa aos recantos mais profundos da corrupção e da malversação do dinheiro público".

    As investigações desta fase foram corroboradas pelo acordo de leniência e acordos de colaboração com a empresa Carioca Engenharia e seus executivos. Elas indicaram a formação de um cartel na disputa por três obras da Petrobras em 2007: uma sede administrativa em Vitória, o CIPD (Centro Integrado de Processamento de Dados), no Rio, e o Cenpes.

    A obra do Cenpes ficou com um consórcio formado, além da Carioca Engenharia, pela OAS, Construbase, Construcap e Schahin Engenharia. Todas foram alvos de mandados de busca e apreensão nesta manhã.

    CORRUPÇÃO PRIVADA

    Apesar do combinado, a construtora WTorre, que não havia participado dos ajustes, apresentou proposta de preço inferior para a obra do Cenpes, segundo o MPF.

    As empresas, então, teriam pagado R$ 18 milhões para que a empreiteira saísse do certame, permitindo que o consórcio renegociasse o preço com a Petrobras. A WTorre também está sendo investigada por fraude à licitação.

    "Ou seja, a corrupção não está restrita ao setor público, mas se alastrou no setor privado", comentou o procurador Júlio Noronha. "É uma cultura que precisa ser mudada."

    O contrato do Cenpes foi fechado em R$ 850 milhões, e chegou a R$ 1 bilhão por causa de aditivos.

    Além da fraude na licitação, a obra gerou pagamento de propina a funcionários da diretoria de Serviços da Petrobras e a Paulo Ferreira.

    Foram identificados pagamentos ilícitos a diversos operadores, sendo: R$ 16 milhões ao empresário Adir Assad, condenado na Lava Jato e preso na operação Saqueador; R$ 3 milhões para Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, delatores na operação e ligados à empreiteira OAS; US$ 711 mil para Mario Goes, também delator; e R$ 1 milhão para Alexandre Romano, ex-vereador do PT cuja delação baseou a Operação Custo Brasil.

    Romano relatou aos investigadores ter intermediado propinas em favor de Paulo Ferreira, que seria o agente do esquema no PT. O pagamento, de acordo com ele, foi feito por meio de contratos forjados entre suas empresas e pessoas físicas e jurídicas relacionadas ao ex-tesoureiro –entre elas um blog e uma escola de samba.

    Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, afirmou que a obra ganhada pelo consórcio rendeu propinas de 2% do valor do contrato. Segundo ele, os recursos também foram destinados ao ex-diretor da estatal Renato Duque e a agentes do PT.

    ALVOS

    Com exceção de Ferreira, que já está detido na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, os presos serão levados à sede da PF em Curitiba.

    Foram presos temporariamente Edson Coutinho, ex-funcionário da Schahin Engenharia, no Rio, e Roberto Capobianco, um dos donos da Construcap, em São Paulo.

    Outros dois alvos de pedidos de prisão temporária são Genésio Schiavinato Júnior, diretor da Construbase, e Erasto Messias da Silva Junior, da construtora Ferreira Guedes. Eles ainda não foram localizados.

    Convocado para depor, o presidente do grupo WTorre, Walter Torre Júnior, não foi conduzido pela PF por estar de férias fora do Brasil. A construtora é responsável por obras como o Allianz Parque, que sedia os jogos do Palmeiras. O grupo é o administrador do estádio.

    OUTRO LADO

    Em nota, a WTorre afirmou que a empresa "não teve participação na obra de expansão do Centro de Pesquisas da Petrobras" e que "não recebeu ou pagou a agente público ou privado nenhum valor referente a esta ou a qualquer outra obra pública".

    "O Grupo WTorre forneceu a documentação referente ao orçamento desta licitação que ainda se encontrava na empresa e segue à disposição das autoridades", diz o comunicado.

    Também em nota, o grupo Schahin declarou que "compreende os trabalhos de investigação em curso e prosseguirá colaborando com as autoridades, como tem feito até agora".

    Procuradas, as empresas Carioca Engenharia, OAS, Construcap, Construbase e Ferreira Guedes informaram que não iriam se manifestar.

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