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    Análise

    Papa combateu pedofilia na igreja, mas punições ainda são lentas

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/07/2016 13h02

    O papa Francisco tomou algumas iniciativas inéditas no combate à pedofilia na Igreja Católica ao longo de três anos de pontificado, mas ainda há críticas sérias à maneira como a questão tem sido conduzida pela hierarquia católica, com processos morosos, pouca atenção dada às vítimas e falta de regras claras para punir sacerdotes e bispos que cometem abusos ou os acobertam.

    A medida mais significativa de Francisco sobre o tema data de março de 2014, quando foi criada a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores. Esse órgão consultivo é comandado pelo cardeal americano Sean O'Malley, arcebispo de Boston que também integra o conselho de cardeais escolhidos a dedo pelo papa para ajudá-lo a repensar os rumos da Igreja.

    Com número máximo de 18 membros, a comissão tem integrantes de ambos os sexos, tanto religiosos quanto leigos (incluindo advogados, psicólogos e psiquiatras).

    Dois dos membros originais do grupo, a irlandesa Marie Collins e o britânico Peter Saunders, foram convidados especificamente por terem sofrido abuso sexual por parte de sacerdotes e fazerem parte de organizações de apoio às vítimas. Após um encontro privado com Francisco, Saunders declarou que tinha se sentido acolhido pelo papa e que acreditava no esforço do pontífice para enfrentar o problema.

    Desde então, contudo, a lentidão dos procedimentos internos do Vaticano irritou Saunders. Ele criticou publicamente o papa em duas ocasiões, exigindo que ele removesse de seus cargos o cardeal australiano George Pell e o bispo chileno Juan Barros, ambos acusados de acobertar padres que teriam estuprado menores, a exemplo do bispo brasileiro Aldo Pagotto.

    Em fevereiro deste ano, a comissão anunciou, em comunicado oficial, que Saunders ficaria "de licença" do grupo por tempo indeterminado. Ele, por sua vez, reagiu afirmando que não tinha sido informado da medida.

    Apesar desses percalços, o grupo conseguiu que o papa aprovasse uma proposta para criar um tribunal dedicado especificamente a julgar os bispos considerados negligentes na proteção às vítimas. O tribunal, porém, ainda não foi montado.

    Os membros da comissão se reuniram no começo do ano para assistir ao filme "Spotlight", que narra a investigação jornalística do "Boston Globe" sobre os casos de abuso em Boston e venceu o Oscar nas categorias melhor filme e melhor roteiro original.

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