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    'Não me omiti', diz arcebispo suspeito de acobertar pedofilia

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    06/07/2016 18h26

    Divulgação/CNBB
    O ex-arcebispo da Paraíba Aldo Pagotto, que renunciou ao cargo
    O ex-arcebispo da Paraíba Aldo Pagotto, que renunciou ao cargo

    Afastado nesta quarta-feira (6) pelo papa Francisco após acusações de ter acobertado casos de pedofilia, o arcebispo da Paraíba Aldo Pagotto, 66, nega ter agido em benefício de padres suspeitos, mas diz ter errado ao confiar em pessoas que não conhecia.

    Em entrevista à Folha, o agora arcebispo emérito confirma que foram descobertos cinco casos de padres suspeitos de pedofilia na Paraíba desde 2004, quando assumiu a Arquidiocese. E diz ter denunciado as suspeitas ao Ministério Público e ao Vaticano: "Não me omiti".

    Leia a seguir.

    *

    Folha - O Vaticano anunciou nesta quarta o afastamento do senhor da Arquidiocese da Paraíba. Como recebeu a notícia?

    Aldo Pagotto - É uma situação dolorosa, mas eu entendi. Se estou fazendo as pessoas sofrerem, como acham, é melhor aceitar a renúncia. Mesmo sabendo que eu sofro muito mais do que essas pessoas. Pelo bem de todos, eu acreditei que o melhor fosse a minha retirada. Me baseei no exemplo do papa Bento 16, que abriu espaço para uma pessoa nova entrar.

    Como o senhor se defende das acusações de que acobertou casos de pedofilia e teve relações com outros homens?

    A minha consciência está em paz. Há muitas acusações, principalmente em relação a minha vida afetiva e sexual. São acusações horrorosas, que eu não admito porque são calúnias. Fiquei com uma grande mágoa.

    O senhor admite ter acolhido na igreja padres acusados de pedofilia?

    Eram padres em crise procurando um lugar para recomeçar a vida. E eu dei essa oportunidade a pessoas que mais tarde se revelaram suspeitas de pedofilia. Fiz o que tinha que fazer: denunciei ao Ministério Público e ao Vaticano. Eu não me omiti. Confesso o meu excesso de misericórdia porque dei uma chance a pessoas que eu não conhecia bem.

    Foram quantos casos?

    Ao todo foram seis casos, todos na Paraíba. Em três deles os padres foram apontados como culpados e afastados, dois ainda estão sendo julgados e um foi inocentado.

    O senhor foi denunciado pelo Ministério Público em 2002 por supostamente acobertar um frei que cometeu abusos sexuais e intervir para mudar o depoimento das vítimas. O que tem a dizer sobre essa acusação?

    Este caso foi extinto na Justiça porque não houve nenhuma proteção ao frei nem intervenção junto às meninas. O que fiz, imediatamente, foi celebrar uma missa em campo aberto e chamar todas as mães e meninas para oferecer meus préstimos. Na missa, disse que tanto as meninas quanto o frei precisavam de ajuda. Em nenhum momento agi para silenciar ninguém.

    O senhor teve alguma conversa privada com as mães ou as vítimas?

    Em nenhum momento houve conversa privada.

    Agora que foi confirmada a renúncia, o que pretende fazer?

    Estou pensando em voltar para a minha congregação, em Fortaleza. Vou ficar um tempo lá para colocar minha cabeça em ordem. Ser arcebispo emérito não é demérito para ninguém. Quero continuar trabalhando.

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