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    Renan Calheiros quer intimidar juízes com nova lei, diz associação

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    07/07/2016 18h58

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016, 09h00: O presidente do Senado Renan Calheiros, chega para a sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
    Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado

    A Ajufe (Associação dos Juízes Federais) emitiu uma nota criticando duramente o anteprojeto de lei do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que pune abuso de autoridade. Segundo a associação, o projeto "permite a penalização dos magistrados pelo simples fato de interpretarem a lei, o que afeta diretamente a independência judicial".

    Ainda de acordo com a nota, a instalação de uma comissão especial para "votar a matéria justamente neste momento de intenso enfrentamento à corrupção no Brasil parece uma tentativa de intimidação de juízes, desembargadores e ministros do poder judiciário na aplicação da lei penal em processos envolvendo criminosos poderosos".

    "A independência judicial existe para assegurar julgamentos imparciais, imunes a pressões de grupos sociais, econômicos, políticos ou religiosos. Ela garante que o Estado de direito será respeitado e usado como defesa contra todo tido de usurpação", afirma a nota, assinada pelo presidente da entidade, o juiz Roberto Veloso.

    O anteprojeto de Renan estabelece pena de prisão de um a quatro ano para delegados, promotores, juízes, desembargadores e ministros que emitirem ordem de "captura, detenção ou prisão fora das hipóteses legais". A violação da norma também é punida com multa.

    Renan quer também punir autoridades que constrangerem presos a produzir provas contra si, o que já foi interpretado por especialistas em direito como um ataque indireto aos acordos de delação premiada. Nesses acordos, o investigado precisa revelar crimes que cometeu e concordar que terá suspenso o direito ao silêncio.

    O senador já disse que seu projeto não visa enfraquecer a Operação Lava Jato nem intimidar juízes e procuradores, mas atualizar uma lei de 1965.

    A interpretação da associação dos juízes é similar à feita por procuradores da Lava Jato e senadores como Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Álvaro Dias (PV-PR) e Cristovam Buarque (PPS-DF). Randolfe, por exemplo, já disse que o anteprojeto visa intimidar investigadores.

    Procurada no final da tarde desta quinta (7), a assessoria de imprensa de Renan não havia se manifestado até o momento.

    Leia a íntegra da nota:

    *

    O anteprojeto de lei que prevê punições a crimes de abuso de autoridades ofende garantias dos juízes previstas na Constituição Federal e na Lei Orgânica da Magistratura (Loman). A proposição, fruto do PL 6418/09, permite a penalização de magistrados pelo simples fato de interpretarem a lei - o que afeta diretamente a independência judicial.

    A criação de Comissão Especial pelo presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), para votar a matéria justamente neste momento de intenso enfrentamento à corrupção no Brasil parece uma tentativa de intimidação de juízes, desembargadores e ministros do Poder Judiciário na aplicação da lei penal em processos envolvendo criminosos poderosos.

    A Ajufe rechaça quaisquer medidas que enfraqueçam as garantias da magistratura, em especial aquelas que têm o objetivo de gerar, nos juízes, o receio da punição em desacordo com os trâmites constitucionais e legalmente previstos na Loman.

    A independência judicial existe para assegurar julgamentos imparciais, imunes a pressões de grupos sociais, econômicos, políticos ou religiosos. Ela garante que o Estado de Direito será respeitado e usado como defesa contra todo tipo de usurpação. Trata-se de uma conquista da cidadania, que é garantia do Estado Democrático de Direito e essencial à proteção dos direitos fundamentais do cidadão.

    As prerrogativas da magistratura são invioláveis porque agem em benefício da sociedade como um todo. Não cabe à lei ordinária restringi-las, nem, mais gravemente, aboli-las.

    A Ajufe e os magistrados federais esperam ser convidados para apresentar sugestões e debater publicamente matéria tão importante para o país.

    Roberto Veloso
    Presidente da Ajufe

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