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    Delegado-geral de SP é investigado por relações com delatores da Lava Jato

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    12/07/2016 02h00 - Atualizado às 21h30 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Editoria de Arte/Folhapress
    RELAÇÕES SOB APURAÇÃOChefe da Polícia Civil paulista tem parcerias com delatores da Lava Jato

    As relações do delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Youssef Abou Chahin, com dois delatores da Operação Lava Jato, Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, despertaram a atenção de investigadores em São Paulo e Curitiba.

    Empresa especializada em blindagem de carros, a Oregon Blindados tem como sócios a família de Chahin, a filha de Trombeta, Roberta, e a mãe de Morales, Alice.

    Há indício de proximidade também na Atria Intermediação de Negócios, de Chahin, que faz prospecção de associações de classe para planos de saúde. Apesar de não ter vínculo formal com Trombeta e Morales, a empresa tem o mesmo telefone de uma das firmas da dupla, a Hedge Car.

    Devido a tais relações, o Ministério Público do Estado reabriu em junho um inquérito na área cível para apurar eventual enriquecimento ilícito de Chahin. O órgão também havia desistido de arquivar outro inquérito, esse na esfera criminal, mas no último dia 30 voltou atrás e pediu novo arquivamento à Justiça.

    No mesmo mês, o Ministério Público Federal em São Paulo pediu à força-tarefa da Lava Jato que aponte eventuais conexões entre a operação e as empresas de Chahin ligadas aos delatores.

    Chahin foi nomeado delegado-geral em janeiro de 2015 pelo então secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, hoje ministro da Justiça.

    O contador Trombeta e seu sócio, Morales, fecharam acordo de delação em 2015, quando confessaram operar propina para a OAS e a UTC. O acordo de delação está sob risco porque há indícios de que eles omitiram informações.

    Na delação, Trombeta relatou ainda o repasse de R$ 3 milhões da montadora Caoa para o empresário Benedito de Oliveira Neto, amigo do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT). A suspeita é de que Pimentel tenha beneficiado a empresa quando foi ministro do Desenvolvimento. O contador e seu sócio também abriam offshores para o grupo Caoa, que comercializa veículos da marca Hyundai.

    Chahin conheceu Trombeta em 2009. À época, o delegado havia saído formalmente da Oregon Blindados porque sua participação era investigada pelo Estado. Havia suspeitas de conflito de interesse, reveladas pela Folha, porque o então chefe do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) participava de uma empresa de segurança privada.

    Chahin defendeu-se dizendo ser sócio cotista –que não participa da administração. O Estado concluiu que não havia irregularidade. Ainda assim, Chahin jamais voltou formalmente à Oregon –hoje, é representado na empresa por sua mãe, Daisy Cerpeloni.

    Em 2013, Roberta, filha de Trombeta, entrou na Oregon com 60% de participação. Os negócios então aumentaram, sobretudo com a Hyundai.

    A mãe de Morales, Alice, só entrou na Oregon em 2015. Mas, desde 2011, detinha um estacionamento em Bragança Paulista (SP) com o mesmo nome e o mesmo logotipo da empresa da família de Chahin.

    Hoje, o delegado tem duas firmas diretamente em seu nome: a Full Time e a Atria Intermediação de Negócios.

    Na primeira, que vende carros blindados, Chahin foi sócio de Trombeta até o final de 2014, quando o contador foi substituído por sua filha. Já na Atria, Chahin é sócio da cunhada Luciana Chahin, que é ainda dona de uma empresa de investigação particular.

    OUTRO LADO

    O delegado-geral de São Paulo, Youssef Abou Chahin, afirmou, por e-mail, que responderá à Justiça e apresentará quaisquer documentos que venham a ser solicitados.

    A respeito da Full Time, em que foi sócio do delator Roberto Trombeta, o delegado disse que a empresa já comprovou ser idônea.

    Quanto à Atria Intermediação de Negócios, Chahin declarou que a contabilidade da empresa era feita pela Hedge, firma de Trombeta e seu sócio, Rodrigo Morales –daí haver a relação entre elas.

    Sobre a sociedade ainda vigente com a filha de Trombeta, Roberta, na Full Time e na Oregon Blindados, empresa de sua família, Chahin disse que "ninguém é responsável por atos de terceiros" –em alusão ao pai dela.

    O delegado enviou uma declaração feita por Trombeta em que ele isenta de irregularidades as empresas nas quais ambos têm relações.

    Alexandre de Moraes disse que, quando Chahin foi nomeado, não era investigado. A Caoa não quis se manifestar. Fernando Pimentel nega ter recebido propina da Caoa.

    A cunhada do delegado, Luciana Truffi Chahin, não respondeu à reportagem.

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