Lula Marques - 28.abr.2010/Folhapress | ||
Lúcio Bolonha Funaro durante depoimento a CPI |
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Poder
Thursday, 02-May-2024 20:08:02 -03Gravação expõe pedido de propina para evitar delação na Lava Jato
AGUIRRE TALENTO
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA13/07/2016 02h00
Uma gravação de áudio anexada a um dos processos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal) expõe o funcionamento de uma espécie de mercado de delação premiada no esquema de corrupção da Petrobras.
O protagonista é Alexandre Margotto, ex-sócio do corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, acusado de ser operador do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No diálogo, ele pede dinheiro para não dar depoimentos contra Funaro.
Na conversa, Margotto diz: "Eu quero estar do lado do Lúcio e que ele não me desampare financeiramente nem juridicamente. Mas eu já quero cem pau agora, R$ 100 mil".
A Folha teve acesso ao áudio, anexado pela defesa de Funaro ao processo que determinou a prisão preventiva dele no dia 1º, sob acusação de ser operador de Cunha em um esquema de corrupção na Caixa Econômica. Os desvios foram denunciados na delação do ex-vice da Caixa Fábio Cleto e resultou na Operação Sépsis da Polícia Federal. Margotto foi sócio de Cleto.
O diálogo revela outro caso de negociação para evitar delação. O de maior notoriedade até agora ocorreu em novembro, quando o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) foi preso após ser gravado oferecendo dinheiro para impedir a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A defesa de Funaro disse ao STF que o áudio mostra tentativa de Margotto chantagear seu cliente.
O interlocutor identificado como Bob pergunta a Margotto o que ele poderia falar sobre a disputa entre Funaro e o grupo Schahin. "Não depor contra ele já é um grande favor. Eu sei toda a história do Schahin", diz Margotto, que afirma que Funaro "comprou um juiz que eu arrumei".
A Schahin é investigada na Lava Jato e acusa Cunha e Funaro de terem achacado a empresa no Congresso. O motivo seria uma dívida de R$1 bilhão que Funaro cobra por prejuízo que a empreiteira teria lhe causado em uma obra de hidrelétrica em Rondônia.
Na conversa, de abril, Margotto fala que encontraria um advogado no dia seguinte. A reportagem apurou que o encontro seria para discutir sua delação, mas que a colaboração não prosperou. Ele também foi alvo de mandados de busca e apreensão na Sépsis.
Margotto pede o pagamento de dívidas que o corretor de valores teria com ele e afirma que tinha a receber em torno de R$ 12 milhões e o valor teria que ser negociado, além dos R$ 100 mil emergenciais. "Primeiro, só não quero ser preso. Segundo, ter dinheiro para pagar minhas contas".
OUTRO LADO
A Folha não conseguiu encontrar Margotto. Segundo advogados que o assessoram, a conversa era um blefe para tentar receber o que Funaro lhe devia.
O advogado de Funaro, Daniel Gerber, disse que as acusações contra seu cliente no áudio são "bravata" e que ele não tem envolvimento com o esquema de corrupção na Caixa.
Cunha também nega relação com o esquema.
A Schahin diz que não teve responsabilidade pelo prejuízo alegado por Funaro.
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MERCADO DE DELAÇÃO
Em áudio, ex-sócio do corretor de valores Lúcio Funaro fala em dinheiro para não implica-lo em depoimentos
QUEM É QUEM
Alexandre Margotto
Foi sócio do ex-vice da Caixa Fábio Cleto e do corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro em um fundo de investimentosLúcio Funaro
Apontado por Cleto como operador do esquema de corrupção na Caixa, foi preso na Operação SépsisA CONVERSA
Gravada em abril por dois interlocutores em comum de Funaro e MargottoBob - O Lúcio hoje tem que ser um parceiro teu. Ele não pode ser um inimigo teu. [...]
Margotto - Mas ele precisa me pagar, Bob. Porra, meu.
Bob - Pagar essas tuas dívidas atrasadas, tal. Cem pau resolve?
Margotto - Para começar a negociar, já. Precisa pagar cem pau agora, já, para depois a gente sentar e negociar.
Bob - Você fica parceiro dele?
Margotto - Para começar a negociar.
[...]
Bob - Você fala para ele que você ajuda e corrobora a favor dele.
Margotto - Tá bom, mas eu preciso primeiro apagar meu incêndio. Preciso pagar mercado cara, cartão de crédito. Tá me fudendo. Meu, apaga o incêndio do cara.
Bob - Você ajuda ele contra o Fábio [Cleto] e contra o Schahin?
Margotto - Ajudo.
Bob - Eu to lutando contra meu amigo que é o Schahin.
Margotto - Eu ajudo com o que quiser.
Bob - O que você tem a favor dele contra o Schahin?
Margotto - Não falar nada. Não depor contra ele já é um grande favor. Eu sei toda a história do Schahin.
Bob - Sabe quanto o Schahin deve pra ele [Funaro]? Um bilhão e meio [de reais].
Margotto - O Lúcio comprou um juiz que eu arrumei. Ele sabe.
Bob - E ele sabe disso? A favor do Lúcio?
Margotto - Sabe.
[...]
Margotto - É muita sacanagem eu não receber desse cara, Bob. Você não defender e ele não me pagar.
Bob - Pera um pouquinho, ele tá com alguns problemas, você também. Temos um desembargador, um procurador, os três caras abaixo do procurador-geral da República.
Margotto - Quando você falou que ele me deve 12 paus, ele falou o quê?
Bob - Que não procede...
Margotto - É quanto então?
Bob - Ele não falou nada. Eu falei R$ 12 milhões, que são R$ 4 da Caixa, R$ 5,5 do Big Frango, mais juros e tudo mais... e os US$ 538 mil do Fábio [Cleto] que têm que voltar que você honrou.
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