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    Eleição de Maia recoloca antigo PFL no centro do poder

    RODRIGO VIZEU
    EDITOR-ASSISTENTE DE "PODER"

    14/07/2016 08h22

    Jefferson Rudy - 21.ago.1996/Folhapress
    Reunião da Executiva do P.F.L.: da esquerda para a direita, Jorge Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães, Luís Eduardo Magalhães, Inocêncio Oliveira e Cesar Maia. [FSP-Brasil-21.08.96]*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
    Jorge Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães, Luís Eduardo Magalhães, Inocêncio Oliveira e Cesar Maia

    A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara recoloca o antigo PFL no centro do poder nacional.

    Não deixa de ser surpreendente. O partido, que nasceu de uma dissidência parlamentar que abandonou a ditadura militar quando ela já agonizava, floresceu nos anos 1990, chegando a ser a maior legenda da Câmara e do Senado.

    O partido comandou o Senado sob Antônio Carlos Magalhães e a Câmara sob Inocêncio Oliveira e Luís Eduardo Magalhães, filho de ACM. A última vez que um pefelista foi titular do comando da Câmara foi na transição de FHC para Lula, com Efraim Morais.

    Recaiu sobre os ombros de Luís Eduardo, político hábil e influente no governo FHC e no Congresso, a principal esperança do PFL de fazer um presidente da República. Um infarto o matou, porém, em 1998.

    Luís Eduardo também se esforçou para dar um verniz mais ideológico ao partido.

    Numa época em que o sempre governista PFL era considerado parte da grande geleia fisiológica brasileira, tal qual o PMDB, o deputado baiano se declarava abertamente de direita e elaborava bandeiras, como a defesa uma agenda radical de privatizações quem nem o governo FHC chegava a defender.

    Em 2003, entretanto, o PT desembarcou no Palácio do Planalto e jogou pefelistas na oposição, privando-os dos tradicionais cargos e influência.

    O novo figurino não combinou com a alma de boa parte dos membros da sigla, que de repente começaram a achar difícil ficar ali só para defender o liberalismo e debandaram. O PFL definhou. Foram inúmeras as discussões de fusões com outras legendas, como o PSDB.

    NOVO NOME

    Em 2007, o partido tentou se recriar com o novo nome, Democratas, e cedeu espaço para líderes jovens. Aqui entra Rodrigo Maia, o primeiro presidente do PFL rebatizado.

    Sob nova denominação e sem a máquina federal para se ocupar, o DEM foi em busca de ideias. Entre os principais partidos brasileiros, trata-se daquele onde mais políticos de peso já se declararam abertamente de direita, uma raridade no país.

    Entre as bandeiras encampadas, esteve uma derrotada batalha contras as cotas raciais.

    A estratégia rendeu poucos frutos e o partido seguiu perdendo espaço e deputados.

    A nova direita, quando surgiu, não veio do sistema partidário tradicional, mas dos movimentos de rua, das redes sociais, dos grupos de Whatsapp ou de políticos avulsos, como Jair Bolsonaro.

    POSIÇÕES DE MAIA

    Diferentemente de boa parte de seus colegas de DEM, Rodrigo Maia demonstrou em diversas declarações objeção à ideia de declarar a legenda à direita.

    "O problema da direita no Brasil é o preconceito que vem da relação que se criou entre a ditadura e a direita. Então, de fato, a palavra direita ficou uma palavra que não agrega, desagrega", afirmou no programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2007.

    A mesma restrição se aplica à ideia de abraçar o receituário liberal, embora as posições do deputado tendam claramente a um Estado menor.

    "A ideia do liberalismo puro não foi vitoriosa no mundo, é preciso aceitar isso", afirmou à revista "Istoé" no mesmo ano. Em seguida, defendeu um Estado "Garota de Ipanema, enxuto, sem gordura, mas organizado para suas tarefas essenciais".

    As posições de Maia ficam mais claras no campo dos costumes.

    Em 2012, candidato à prefeito do Rio (acabaria com 3% dos votos), o agora presidente da Câmara definiu-as assim em entrevista ao jornal "O Dia": "Eu tenho minhas convicções de um político conservador. Não quero enganar ninguém. Eu sou a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Sou contra o casamento. Casamento é um sacramento da Igreja e eu respeito, sou católico. Sou contra a adoção. Também sou contra o aborto, respeitando os casos onde a legislação brasileira permite".

    Excluído este rompante de sinceridade, Maia sempre buscou um DEM que fugisse dos rótulos e comprometimentos que parte de seus líderes defendia nos últimos anos.

    Foi com essa posição mais moderada (sobretudo nos últimos tempos), que incluiu diálogos e acenos a políticos de esquerda, que Rodrigo Maia reinstalou o PFL no primeiro lugar da fila da Presidência da República.

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