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    Lobista citado na Lava Jato tem fluxo financeiro suspeito, diz Coaf

    AGUIRRE TALENTO
    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    19/07/2016 02h00

    Zanone Fraissat - 15.mar.2013/Folhapress
    SAO PAULO/SP-BRASIL,15/03/13 - Milton Lyra, empresario no Jantar em homenagem ao governador Eduardo Campos.(Foto: Zanone Fraissat /MONICA BERGAMO)
    O lobista Milton de Oliveira Lyra Filho, citado na Lava Jato como operador de senadores do PMDB

    O lobista Milton de Oliveira Lyra Filho, apontado nas investigações da Lava Jato como operador de senadores do PMDB, realizou movimentações financeiras entre 2011 e 2016 consideradas incompatíveis com sua atividade econômica, segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

    Os alertas do órgão, oigado ao Ministério da Fazenda, incluem uma empresa da qual Lyra é sócio.

    A PGR (Procuradoria-Geral da República) suspeita que suas empresas sirvam de fachada para atividades ilícitas, como pagamento de propina a políticos, dentre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

    O relatório do Coaf, obtido pela Folha, foi usado pela PGR para fundamentar pedido de busca e apreensão contra Lyra e suas empresas, realizado no último dia 1º.

    Em sua delação premiada, o ex-diretor da Hypermarcas Nelson Mello afirmou ter feito transferências a uma das empresas do lobista com o objetivo de pagar propina a senadores do PMDB.

    Em Brasília, as sedes de diversas empresas de Lyra funcionam no mesmo imóvel, um escritório comercial no Lago Sul, área nobre da cidade. A Folha esteve no local na quinta (14) e foi recebida por uma recepcionista e uma secretária, que informaram que Lyra não estava lá.

    Na fachada, não há identificação do nome de cada uma das empresas, mas apenas o genérico ML Group (iniciais de Milton Lyra). Os negócios se concentram, entre outros temas, em comércio eletrônico e consultoria.

    PLACAS

    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu que é "deveras estranho" as empresas funcionarem sem diferentes letreiros. "Chama a atenção que as empresas Medicando, Credpag e Internet Pool funcionam em endereços da mesma galeria de lojas", escreveu Janot no pedido de busca.

    E complementou: "para as atividades lícitas, o comum é que se tente chamar a atenção para o estabelecimento, o que inclui placas com o nome comercial, no intuito de captação de clientela".

    De acordo com o Coaf, o lobista movimentou R$ 3,1 milhões entre abril de 2011 e janeiro de 2016, de forma considerada "suspeita".

    Isso porque envolveu "movimento em espécie atípico e incompatível com atividade econômica", diz o relatório.

    O Coaf também apontou suspeita sobre créditos e débitos no total de R$ 43,1 milhões de uma de suas empresas, a Credpag, entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015.

    Dentre outros motivos, o órgão disse que houve "incompatibilidade das atividades e faturamento com o perfil econômico" e "movimentação incompatível com patrimônio, atividades ou capacidade financeira".

    O órgão cita dentre as suspeitas uma transferência de R$ 3 milhões da Hypermarcas para a Credpag, valor que segundo o ex-diretor Nelson Mello serviu para pagar propinas ao PMDB.

    POSTALIS

    Outra transação detectada pelo Coaf foi uma transferência de R$ 300 mil que Milton Lyra fez para Fabrizio Dulcetti Neves, denunciado pelo Ministério Público sob suspeita de comandar fraude milionária no Postalis, fundo de pensão dos Correios.

    Lyra já atuou para empresas que captaram recursos do Postalis e teriam dado prejuízos ao fundo, como revelou a Folha em janeiro.

    OUTRO LADO

    Por meio de sua assessoria, o lobista Milton de Oliveira Lyra Filho afirmou que "todas as movimentações têm origem lícitas e são compatíveis com os serviços e o objeto social das empresas mencionadas".

    "A atividade empresarial e profissional de Milton Lyra é pública e conhecida há 25 anos. Seus rendimentos são legítimos e declarados".

    Sua assessoria também afirmou que, se a documentação citada pela Folha sobre a movimentação financeira do empresário foi obtida de procedimento judicial sigiloso, "irá tomar as providências judiciais cabíveis contra os responsáveis tanto pelo vazamento quanto pela eventual divulgação".

    Em nota, a Hypermarcas afirmou que o ex-diretor Nelson Mello "autorizou, por iniciativa própria, despesas sem as devidas comprovações das prestações de serviços" e que a empresa não é alvo de procedimento investigativo, não se beneficiou de atos praticados por ele e será ressarcida pelos prejuízos sofridos.

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem negado o recebimento de propina e diz que nunca autorizou terceiros a falarem em seu nome. A cúpula do PMDB citada nas investigações diz o mesmo.

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