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    Lava Jato

    Pedido de propina por Berzoini foi 'quase imposição', diz executivo

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    25/07/2016 21h15 - Atualizado às 21h57

    Alan Marques - 4.dez.2015/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 04.12.2015. O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Ricardo Berzoini, dá entrevista exclusiva para a Folha para fala sobre a atuação do governo na comissão que avalia o Impeachment da presidente Dilma Rousseff. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER *** EXCLUSIVA *** ENTREVISTA DE SEGUNDA ***
    O ex-ministro Ricardo Berzoini durante entrevista

    O engenheiro Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da Andrade Gutierrez, voltou a afirmar que o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini pediu o pagamento de propinas retroativas "sobre todo e qualquer contrato" que a empresa tivesse com o governo federal.

    "Foi uma conversa muito desagradável", disse Machado, em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda (25). "Nós entendemos como sendo uma pressão. Quase como uma imposição."

    Machado é um dos delatores da empreiteira, que fechou um acordo de colaboração premiada na Operação Lava Jato. O pedido de propina por Berzoini já havia sido relatado pelo próprio presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo.

    "Eu senti claramente a reação do Otávio Azevedo. Ele inclusive se resguardou para que desse uma posição final mais à frente", afirmou Machado, que era diretor de Relações Institucionais da empresa.

    Segundo o executivo, Berzoini falou "de forma firma e incisiva, um pouco além do tom".

    "Não [houve ameaça] diretamente, mas veladamente percebeu-se que poderia haver algum tipo de situação desconfortável para nós", afirmou.

    A reunião teria ocorrido em 2008, na sede da Andrade Gutierrez, em São Paulo. Estavam presentes, além dos dois executivos e Berzoini, João Vaccari Neto e Paulo Ferreira –ambos ex-tesoureiros do PT. O partido nega as acusações.

    Segundo Machado, o pedido foi "muito mal visto" dentro da empresa.

    "Comentava-se que não tinha sentido, não tinha por que fazer esse tipo de pagamento, porque não tínhamos nenhuma ajuda especial, não havia nada."

    A empreiteira, porém, acabou por acatar parte do pedido de Berzoini, e aceitou pagar um percentual sobre contratos futuros com o governo federal, conforme admitiram os executivos. Parte dos pagamentos foi feita por meio de doações oficiais ao PT.

    COBRANÇAS

    Além de Machado, outros dois executivos da Andrade Gutierrez também depuseram nesta segunda –Antonio Pedro Campello Dias e Elton Negrão de Azevedo Júnior. Eles respondem a uma ação penal por lavagem de dinheiro e corrupção.

    Todos afirmaram que a empreiteira ficou devendo propina ao PT, e que sofria "cobranças permanentes" de Vaccari. "Ele [Vaccari] sempre solicitava doações. 'Olha, vocês estão devendo', dizia", contou Machado.

    "Era terrível essa pressão", disse Elton Negrão. "Eu ouvia muito o pessoal [outros empresários] fazendo chacota, porque a Andrade não pagava."

    Segundo os executivos, a empresa tinha dificuldade de "operacionalizar" a propina. Os valores se acumularam, e havia "má vontade" dentro da Petrobras, por parte do ex-gerente Pedro Barusco –um dos beneficiários dos pagamentos.

    "Nítida má vontade, ranhetice, dificuldade de marcar [reuniões]...", disse Campello Dias, ex-diretor comercial da área de petróleo e gás, sobre Barusco.

    OUTRO LADO

    O PT refuta totalmente as acusações e diz que todas as doações recebidas pelo partido "foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

    Procurada, a defesa de Berzoini não foi localizada pela reportagem.

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