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    Tribunal proíbe plebiscito informal em SC para separar região Sul do país

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    26/07/2016 19h35

    Edu Andrade - 22.jul.2016/Folhapress
    Os separatistas Gilberto Miranda, Edison Estivalete Bilhalva, Anidria Rocha e Liziney Barreiro
    Os separatistas Gilberto Miranda, Edison Estivalete Bilhalva, Anidria Rocha e Liziney Barreiro

    O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) proibiu a realização no Estado de um plebiscito informal para questionar a população sobre a separação da região Sul –Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul– do restante do país. Cabe recurso da decisão.

    O TRE-SC também pediu que a Polícia Federal investigue o caso, porque, segundo a decisão, tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente é considerado crime com pena de prisão, que varia de quatro a 12 anos.

    A decisão ocorreu depois que o movimento separatista "O Sul é meu país" comunicou a realização da consulta à 85ª Zona Eleitoral da cidade de Joaçaba e também depois da publicação de reportagem da Folha, sobre a intenção de se espalhar 4.000 urnas perto dos locais de votação no dia 2 de outubro, no primeiro turno das eleições municipais.

    O crime citado pelo TRE está previsto na lei 7.170, no artigo 11. A punição para quem apenas "incitar" a separação é um pouco mais leve: de um a quatro anos, conforme o artigo 23 da mesma lei.

    O movimento organiza votação para o dia 2 de outubro, simultaneamente às eleições municipais, das 8h às 17h, com "urnas" a cem metros de distância dos colégios eleitorais. A meta do grupo de alcançar 1 milhão de pessoas, o equivalente a 5% dos eleitores do Sul.

    'UNIÃO INDISSOLÚVEL'

    A decisão de proibir o plebiscito no território catarinense é do desembargador Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu, presidente do órgão, e foi acolhida por unanimidade por sete juízes em sessão realizada na última segunda-feira (25).

    Abreu também determinou que o grupo substitua a palavra plebiscito de todos os seus materiais. A justificativa é que um plebiscito é convocado pelo Executivo ou Legislativo, não pela população. Usar o termo "poderia levar à população acreditar que esta Justiça especializada estaria envolvida na realização da referida consulta".

    O grupo separatista também passa a ser obrigado a mudar a data da votação. O desembargador alega que realizar a consulta no mesmo dia das eleições para prefeitos e vereadores "afronta igualmente a Lei das Eleições, já que é vedada a aglomeração de pessoas, sendo permitida tão somente a manifestação individual e silenciosa do eleitor", de acordo com a lei 9.504.

    No texto da decisão, Abreu destacou diversos riscos e impactos negativos no dia da eleição, como obstrução da circulação dos veículos da Justiça Eleitoral, risco de "interferência na liberdade do exercício do voto, causado por intimidações ou pressões relacionadas à pesquisa popular realizada em sua vizinhança", perturbação do trabalho dos mesários, redução de força policial pela necessidade de monitoramento, risco de aumento na demanda de consultas aos cartórios e centrais de atendimento.

    Além disso, os juízes concordaram que o material de divulgação pode "confundir o coro ou os procedimentos do eleitor" e que "possam ser associados a candidatos ou partidos".

    O desembargador ainda lembrou que a separação dos três Estados é proibida no primeiro artigo da Constituição, que "estabelece que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e Distrito Federal".

    'EM ANÁLISE'

    A organização argumenta que movimentos separatistas são comuns ao redor no mundo, chegando a 400. O grupo cita o Sudão do Sul, que se separou em 2011, o caso mais recente.

    A secretária geral do "O Sul é meu país", Anidria Rocha, 46, diz que o departamento jurídico do grupo está analisando a decisão do TRE de Santa Catarina e que não fará nenhuma manifestação antes da análise.

    O TRE do Rio Grande do Sul não emitiu nenhuma orientação específica. O tribunal gaúcho foi consultado por uma zona eleitoral da cidade serrana de Bento Gonçalves.

    Em resposta, a desembargadora Liselana Ribeiro, presidente do TRE-RS, afirmou que não há nenhuma orientação e que não entrou no mérito da legalidade da votação informal. Procurado pela reportagem, o tribunal não se manifestou se seria contrário ou favorável à realização do plebiscito informal no Estado.

    Procurado pela Folha, o TRE do Paraná não havia respondido até o fim da tarde desta terça-feira (26).

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