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    A nova regra do jogo

    Nova lei de doação favorece quem é rico, conhecido e consegue mobilizar

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    31/07/2016 02h00

    A nova legislação eleitoral favorecerá três tipos de candidatos: os que já têm mandato, aqueles capazes de financiar a própria campanha e nomes lançados por igrejas, sindicatos e estruturas com base eleitoral formada.

    A proibição de doações por empresas barateará campanhas, preveem políticos, mas pode estimular o caixa dois.

    A duração da campanha reduzida à metade e as restrições da lei para veiculação de propaganda exigirão ação rápida e cirúrgica.

    A NOVA REGRA DO JOGO

    Nesse cenário, quem tem mandato deve se beneficiar do gabinete para reativar sua base e arrecadar fundos.

    Um vereador paulistano que tenta a reeleição aposta que colegas da Câmara Municipal pedirão doações aos servidores que "não vão querer perder seus empregos". Ele calcula arrecadações de R$ 145 mil dessa forma.

    Pessoas físicas podem doar até 10% dos rendimentos declarados no ano anterior.

    As campanhas a vereador em São Paulo custarão em média R$ 300 mil, estimam candidatos. "Haverá manutenção de grande parte da Câmara", aposta o vereador Mario Covas Neto (PSDB), que tenta se reeleger.

    Outro tipo de candidato que larga com vantagem é aquele que tem capital próprio, tanto em patrimônio quanto em popularidade. A nova legislação não estabelece limite para o autofinanciamento.

    Danilo Verpa/Folhapress
    O tucano Joao Doria, que conta com a estrutura do Governo do Estado de São Paulo
    O tucano João Doria, candidato à Prefeitura de São Paulo

    Nessa categoria, João Doria, que disputa a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB, bancou a pré-candidatura e deverá custear parte da campanha. Ele não revelou o valor, mas prevê orçamento de R$ 15 milhões. Seu patrimônio é estimado em R$ 170 milhões.

    O adversário Celso Russomanno, do PRB, se beneficiará não só de seu mandato como deputado federal, mas também da popularidade como apresentador de TV.

    Puxador de votos, Russomanno tende a ser recompensado com o repasse do Fundo Partidário. O diretório municipal espera receber R$ 5 milhões do nacional.

    Nomes de segmentos também saem na frente. O deputado Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade e da Força Sindical, aposta em candidatos ligados à Polícia Militar, escolas de samba e sindicatos. "Esses têm mais viabilidade", afirmou.

    Seu irmão, Valdir Pereira, candidato a vereador, espera obter R$ 300 mil com sindicalizados de sua categoria.

    O pastor Wilton Acosta, articulador político do PRB para igrejas evangélicas, também vê vantagem para os candidatos do segmento.

    "Tem pessoas que podem gastar milhões e não se elegem, tem pessoas que gastam muito pouco e se elegem. Quem tem base organizada tem mais vantagem, e eu acho que nós temos", disse.

    As dificuldades de arrecadação pelas vias legais deve estimular o caixa dois, dizem especialistas e políticos.

    No entanto, o cerco acirrado pela Operação Lava Jato já dificulta até mesmo as doações não declaradas.

    Um vereador de São Paulo que não quis se identificar disse que um amigo tentou sacar R$ 300 mil para doar em espécie, por fora, a um candidato. Foi barrado pelo gerente do banco, que queria denunciar a transação "atípica".

    Um assessor do PMDB lembra que ouviu pedidos de até R$ 5 milhões para pastores declararem apoio a candidatos na eleição para governador em 2014. Mesmo que a prática volte a ocorrer, as somas serão muito menores, ele afirmou.

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