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    Lava Jato

    Andrade Gutierrez tenta se antecipar à Lava Jato com auditoria de obras

    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO

    31/07/2016 02h00

    Alexandre Rezende/Folhapress
    BEO HORIZONTE, MG, BRASIL, 24-06-2016, 06:30h. Complexo arquitetônico da Cidade administrativa de Minas Gerais. O plano da Cidade Administrativa foi elaborado por Oscar Niemeyer, tendo as obras sido concluídas em fevereiro de 2010. A construção foi custeada pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais.(Alexandre Rezende/Folhapress PODER) *** EXCLUSIVO FOLHA *** ORG XMIT: Alexandre Rezende --- Prédio da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais construída durante a gestão de Aécio Neves (PSDB)
    Complexo arquitetônico da Cidade Administrativa de Minas Gerais, que será investigada na auditoria

    Para tentar se antecipar à Lava Jato e evitar ser pega de surpresa, a empreiteira Andrade Gutierrez criou uma auditoria interna para apurar pagamentos de propina a agentes públicos, além de outras irregularidades envolvendo obras realizadas.

    Entre os primeiros alvos da auditoria da empresa, que fez acordo de leniência com os investigadores, está a Cidade Administrativa, obra do arquiteto Oscar Niemeyer que abriga a sede do governo de Minas, em Belo Horizonte.

    Inaugurada em 2010, a obra é a mais cara da gestão de oito anos do ex-governador e hoje senador tucano Aécio Neves (2002-2010), custando R$ 1,26 bilhão.

    Segundo executivos da empresa, a apuração está dividida em duas etapas: antes e depois de a obra se iniciar.

    A Cidade Administrativa apresenta, porém, uma dificuldade que outras obras delatadas, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e estádios de futebol não tinham: a maioria dos envolvidos no projeto não trabalha mais na Andrade Gutierrez.

    Já é tido como certo entre os executivos do grupo que será um funcionário ou ex-funcionário até agora fora do grupo de delatores da empreiteira o responsável por falar sobre a obra mineira.

    ALVO

    A sede do governo mineiro se tornou alvo de apuração após advogados da empresa serem avisados por procuradores da Lava Jato que o grupo precisará complementar seu acordo de delação com informações sobre a obra.

    O comunicado aconteceu há cerca de três semanas, mas até o momento nenhum colaborador falou sobre o tema.

    Como a Folha revelou em junho, o sócio da OAS Léo Pinheiro acordou nas tratativas da delação que negocia com a Procuradoria-Geral da República que falará sobre pagamento de propina para auxiliares de Aécio Neves quando ele foi governador.

    O repasse estaria associado à construção de um dos três prédios que integram a sede do governo, chamado Gerais. O tucano nega qualquer irregularidade.

    A OAS integrou um consócio em conjunto com Odebrecht e Queiroz Galvão para erguer a obra. Já a Andrade participou de um consórcio com a Via Engenharia e a Barbosa Mello para fazer o edifício Minas. Ambos são anexos ao Palácio do Governo.

    OUTROS FOCOS

    A auditoria interna também apura informações de outras obras, como a Ferrovia Norte-Sul, um projeto cuja história de corrupção começa em 1987, com o acerto das empresas que ganhariam a licitação. O tema já foi citado na delação da Camargo Corrêa, que mencionou pagamento de propina para executar a construção.

    Segundo executivos ouvidos pela Folha, serão levantadas informações de todas as construções que estiverem sob a mira da Lava Jato.

    Representantes dos delatores nos acordos homologados em maio deste ano relataram que a Cidade Administrativa não foi alvo de questionamento nos depoimentos prestados à Lava Jato.

    LENIÊNCIA

    A atitude adotada pela empresa tem como finalidade assegurar o acordo que firmou com os procuradores.

    Além dos funcionários que foram afastados depois de se tornarem delatores, a Andrade fechou um acordo de leniência no valor de R$ 1 bilhão para ser pago em em 12 anos, o mais caro fechado até o momento.

    No mesmo mês que a leniência foi homologada pela Justiça, a empresa publicou em vários veículos um pedido público de desculpas e um manifesto com medidas que poderiam ser adotadas para trazer transparência ao mercado de construção.

    No documento, a Andrade diz que reconhece que "erros graves foram cometidos nos últimos anos e, ao contrário de negá-los, estamos assumindo-os publicamente".

    A empreiteira elogia as iniciativas da Lava Jato. "Acreditamos que a Lava Jato poderá servir como um catalisador para profundas mudanças culturais que transformem o modo de fazer negócios no país", diz a carta.

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