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    Ex-antagonista, Renan passa a atuar como apoio de Temer

    DANIELA LIMA
    DE BRASÍLIA

    04/08/2016 02h00

    Pedro Ladeira - 20.jun.2016/Folhapress
    Presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente interino, Michel Temer, em evento em junho
    Presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente interino, Michel Temer, em evento em junho

    Um dos principais antagonistas de Michel Temer nos meses que antecederam o afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mudou de atitude e passou a atuar, mais recentemente, como ponto de apoio ao governo do interino.

    Nesta semana, o senador deu mostras evidentes de sua boa vontade com a nova gestão atendendo a pleitos de Temer e trabalhando para dar celeridade no Congresso a assuntos de interesse de sua gestão –sendo o principal deles a conclusão do julgamento do impeachment de Dilma.

    Na última reunião de líderes partidários, Renan articulou para dar prioridade na votação de duas propostas fundamentais para o governo.

    Defendeu pressa na apreciação do projeto da DRU (Desvinculação de Receitas da União), que dá mais liberdade para o Executivo remanejar o Orçamento, e no da securitização, que possibilita a venda de dívidas ativas da União no mercado e é uma das apostas da Fazenda para melhorar as contas públicas.

    Por fim, se comprometeu publicamente a trabalhar para encerrar a tramitação do impeachment de Dilma ainda neste mês, atendendo a um pleito do Planalto.

    Os sinais mais enfáticos, entretanto, estão surgindo nos bastidores. Recentemente, em uma reunião privada com aliados, Renan teceu uma série de elogios ao presidente interino.

    Disse que Temer tem acertado o "timing" das propostas de reformas, que a nomeação de Henrique Meirelles para a Fazenda foi "um achado" e que, embora seja um tema pouco palatável ao Congresso, o debate sobre uma proposta de reforma da Previdência é "oportuno".

    É uma mudança e tanto para quem disse, no auge do embate entre Dilma e Michel Temer, que, à frente do PMDB, o hoje presidente interino fez a sigla se comportar como uma repartição de recursos humanos, preocupado apenas com a distribuição de cargos, por exemplo.

    Desde o esgarçamento das relações entre Dilma e Temer, Renan procurou demonstrar isenção, mas era visto como o último bastião de apoio à petista dentro do PMDB e do Senado.

    MUDANÇA

    Quando as tratativas pela aprovação do impeachment na Câmara estavam a todo vapor, ele chegou a articular uma dissidência interna para tentar tirar Temer da presidência do PMDB. No fim, os dois fizeram um acordo, mas a sensação mútua de desconfiança permaneceu.

    Hoje, aliados de ambos afirmam que o clima é de colaboração e que todos os acordos e pedidos feitos de parte a parte têm sido prontamente atendidos.
    Temer e Renan se encontram entre uma e duas vezes por semana, e se falam pelo telefone "direto".

    Os encontros acontecem ou no Palácio do Planalto ou na residência oficial do interino, o Jaburu.

    O primeiro gesto, dizem aliados do presidente, foi feito por ele, logo após a aprovação do afastamento de Dilma. Nessa ocasião, Temer pediu uma série de encontros com Renan e outros senadores, sempre na residência do presidente do Senado.

    Três fatores são vistos como determinantes para a paz ter sido selada, ao menos por enquanto, entre Temer e Renan:

    1) A queda do ex-presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto de Renan que foi peça fundamental para a aprovação do impeachment na Câmara.

    2) Temer consolidou maioria sólida no PMDB com a ascensão ao Planalto, o que acabou com o espaço para as disputas internas na sigla.

    3) A sensação de fadiga no discurso de petistas pró-Dilma e o diagnóstico quase generalizado de que ela não terá condições de reverter seu afastamento.

    Nesta semana, ao falar sobre Dilma, o próprio Renan fez previsões pouco otimistas sobre o futuro da petista. Segundo interlocutores, disse que a presidente afastada não conseguirá retomar o posto, pois "nem com a caneta na mão" conseguiu se articular politicamente.

    Ele, no entanto, mantém elogios à posição pessoal de Dilma e atribui a aliados da petista a maior fatura por seu infortúnio político.

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