A eleição para prefeitura de Fortaleza deverá colocar em polos opostos o governador Camilo Santana (PT) e o seu próprio partido.

O governador, eleito em 2014 em aliança com o ex-governador Cid Gomes (PDT), vai retribuir apoiando a reeleição do prefeito Roberto Cláudio (PDT), afilhado político de Cid. Já os petistas lançaram a candidatura da ex-prefeita Luiziane Lins.

Com mediação da direção nacional do PT, o governador foi "liberado" para subir no palanque de Roberto Cláudio, que terá como vice o deputado Moroni Torgan (DEM), velho adversário dos petistas no Ceará. O apoio foi anunciado publicamente por Camilo Santana no último sábado (6).

Para Luizianne Lins, que governou a capital cearense entre 2005 e 2012, a decisão do governador "é pessoal" e não afetará a campanha nem o discurso da candidatura, que é de oposição expressa ao atual prefeito.

"Não no sentimos representados pelo prefeito que atuou na desconstrução de projetos e políticas sociais do nosso governo", diz a petista, que vai para a disputa sem nenhum partido aliado.

A situação não é inédita na capital cearense. Em 2004, a própria Luizianne Lins foi eleita prefeita após lançar candidatura à revelia da direção nacional do partido, que na época optou por apoiar Inácio Arruda (PC do B).

O prefeito Roberto Cláudio, por sua vez, aposta na força dos padrinhos políticos e em obras feitas na cidade para conquistar a reeleição.

Após amargar baixa popularidade de nos primeiros anos de mandato, Roberto Cláudio fortaleceu-se após inaugurar obras que melhoraram o trânsito da cidade, como viadutos e corredores de ônibus.

"Apesar do cenário político nacional agitado, acredito que a disputa vai se dar em torno de propostas para a cidade. Vamos defender o legado que deixamos para Fortaleza e a importância da continuidade", afirma Roberto Cláudio à Folha.

O prefeito ainda afirma que considera natural o apoio do petista à sua candidatura. "Fico honrado com este apoio do governador. Será fundamental para nossa campanha e para a prefeitura neste momento de crise e adversidade", diz.

CANDIDATOS FORTES

Mesmo com a disputa entre o prefeito e da ex-prefeita, a expectativa é de uma eleição pulverizada em Fortaleza.

A disputa na capital cearense terá outros seis candidatos, sendo dois deles considerados mais fortes e com possibilidade de chegar ao segundo turno.

Entre os partidos da base do presidente interino Michel Temer PMDB), o principal candidato será o deputado estadual Capitão Wagner (PR), que fechou aliança com o PMDB do senador Eunício Oliveira e o PSDB do senador Tasso Jereissatti.

Ex-líder da greve da Polícia Militar, Wagner foi deputado estadual mais votado do Ceará em 2014, sendo também campeão de votos na capital. Com histórico na polícia, promete levar o tema da segurança pública para o debate municipal.

"Ao contrário do que se fala, essa responsabilidade não é só dos Estados. Há diversas formas de a prefeitura colaborar", diz Wagner. No início de julho, a capital cearense viveu dias de tensão com ônibus queimados ataques de bandidos a delegacias.

Também é considerado nome forte na disputa o deputado estadual Heitor Férrer (PSB), que teve desempenho surpreendente em 2012, quando terminou a disputa em terceiro lugar com 21% e quase chegou ao segundo turno.

Adversário dos irmãos Cid e Ciro Gomes, Férrer deixou o PDT após 28 anos de filiação para não ficar no mesmo partido dos ex-governadores.

Na eleição deste ano, terá o apoio apenas da Rede Sustentabilidade, que indicará o vice. Mesmo sem muitos aliados, está otimista.

"Quanto mais nomes na disputa, mas chance tenho de chegar ao segundo turno. Tenho um eleitorado de classe média que não muda de candidato facilmente", diz Férrer, que deve ter a saúde como principal bandeira de campanha.

Ainda participam das eleições em Fortaleza o deputado federal Ronaldo Martins (PRB), o deputado estadual Tin Gomes (PHS), o vereador João Alfredo (PSOL), além de Francisco Gonzaga (PSTU).