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    Mudanças nas coligações embaralham disputa em Porto Alegre

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    10/08/2016 16h52

    Felipe Bächtold - 5.out.2014/Folhapress
    Foto final 419, Albuquerque (PSB), candidato ao governo José Ivo Sartori (PMDB), candidato a vice ao governo José Cairoli (PSD), senador Pedro Simon (PMDB) e vice-prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo (PMDB)
    Melo (à dir.), ao lado dos peemedebistas Pedro Simon (paletó cinza) e José Ivo Sartori (de bigode)

    A cerca de dois meses da eleição municipal, o cenário político da capital gaúcha é marcado pela disputa do apoio de partidos indecisos.

    É o caso da coligação da situação, à frente do município há três mandatos. O atual vice-prefeito, Sebastião Melo (PMDB), é candidato da continuidade com o apoio de 14 partidos, entre eles o PPS, PSD, PSB, PHS, DEM, Pros e PRB. O PMDB conseguiu atrair o PDT, que pretendia ter candidato próprio, o ex-secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha. Já o PP optou por romper com a chapa nesta semana e vai apoiar o candidato do PSDB, o deputado federal Nelson Marchezan Junior.

    "Esses partidos que estamos coligando fazem parte do governo de hoje, são da base. É a reaglutinação do próprio governo, de uma aliança que já está ocorrendo", diz Antenor Ferrari, presidente municipal do PMDB.

    Em oposição à atual administração, o PSOL esperava o apoio da Rede, o que não ocorreu. A legenda de Marina Silva também integrará o time do PMDB. O PSOL terá Luciana Genro como candidata. Ela ganhou projeção nacional nas eleições presidenciais de 2014, quando obteve 1,55% dos votos, ficando em quarto lugar.

    "O povo não quer aliança sem princípios, não quer 'aliança de Lava Jato'. O PMDB do Melo é o mesmo PMDB do Renan Calheiros [presidente do Senado], do Eduardo Cunha [deputado afastado]. Tentaram coligar com o PP, partido com maior envolvidos na Lava Jato", afirma Roberto Robaina, presidente local do PSOL.

    As suspeitas de envolvimento do PMDB no esquema investigado na Lava Jato e o desgaste do partido que comanda a prefeitura há 12 anos podem prejudicar a campanha do vice-prefeito.

    "Estamos no centro do furacão. Sofremos as consequências do furacão, que abrange toda classe política. Mas achamos que propostas concretas para a população possam acalmar esse ânimo", afirma o peemedebista Ferrari.

    O PT, que governou Porto Alegre de 1989 a 2002, terá como candidato o ex-prefeito Raul Pont (1997-2000). Os petistas terão apoio do PC do B e dizem não temer os reflexos da Lava Jato. "O Raul é diferente, tem uma trajetória irreparável", diz o presidente municipal da sigla, Rodrigo Oliveira.

    A campanha será pautada por propostas de mudanças para a cidade e a "defesa da democracia contra o golpe". O PT barrou alianças com partidos que tenham votado a favor do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.

    O principal alvo dos petistas será o candidato do PMDB, cuja imagem será colada à do presidente interino, Michel Temer, e à do governador peemedebista José Ivo Sartori, cuja gestão tem sido impopular.

    FALTA DE VERBA

    O PSOL encara como um diferencial o fato de não estar citado em nenhum escândalo de corrupção. Além desse fator, as lideranças do partido afirmam que o fim do financiamento privado de campanha não afetará seu desempenho nas urnas, porque o partido já não aceitava doação de grandes empresas.

    Para os petistas, a medida também é benéfica. "Diminui a influência do poder econômico sobre as eleições municipais", diz Oliveira, do PT.

    Os demais partidos, entretanto, veem na ausência da fonte tradicional de financiamento o maior problema da eleição.

    "A contribuição da pessoa física é muito mais difícil. A arrecadação vai cair substancialmente, até porque tem um limite. A gente vai ter dificuldades", diz Ferrari, do PMDB. O teto de gastos para Porto Alegre é de R$ 5,8 milhões, no primeiro turno, e R$ 1,7 milhão, no segundo turno.

    O peemedebista, porém, enxerga no tempo mais curto de campanha uma espécie de compensação, que geraria menos custos.

    O promotor do Gabinete Eleitoral do Ministério Público, Rodrigo Zilio, tem posição divergente. Para Zilio, a eleição municipal será um "salto no escuro".

    A mudança no financiamento, diz o promotor, não foi acompanhada da implantação de mecanismos eficazes para fiscalizar a arrecadação, o que pode gerar o chamado "caixa dois", com doações não declaradas.

    Outra crítica do promotor é justamente o tempo mais curto de campanha eleitoral, sob a justificativa de reduzir gastos.

    "A redução prejudica o eleitor que tem menos tempo para receber as informações e para amadurecer sua opção de voto", diz.

    Para Zilio, a campanha enxuta "beneficia exclusivamente os detentores de mandato e pessoas conhecidas por atividade profissional ou artística, diminuindo a oxigenação dos quadros políticos".

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