• Poder

    Thursday, 02-May-2024 18:36:36 -03

    Análise

    Para Temer, marca dos 200 dias será a que realmente importa

    FÁBIO ZANINI
    EDITOR DE "PODER"

    19/08/2016 02h00

    Se o centésimo dia de governo é uma marca simbólica, o ducentésimo será mais importante para definir que tipo de presidente Michel Temer será –assumindo, como hoje parece provável, que o impeachment de Dilma Rousseff será realmente aprovado.

    O Dia 200, 27 de novembro, ainda aparece distante no calendário, mas até lá Temer precisará mostrar resultado.

    Até agora, ele se escudou na própria interinidade, no inevitável improviso para colocar de pé sua equipe e na caótica herança que recebeu para justificar um governo ainda vacilante.

    As marcas concretas desses últimos cem dias foram as quedas de três ministros –Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Alves (Turismo)– e os recuos que se acumulam em pontos centrais de sua agenda econômica.

    O que Temer tem para mostrar ainda é pouco tangível: a credibilidade da equipe econômica ou o discurso mais duro do Itamaraty contra a Venezuela, por exemplo.

    Conforme o desastre do governo Dilma vai se perdendo no tempo, a conta de um país em crise passará normalmente a ser transferida para o novo presidente.

    Nos próximos meses, ele terá algumas tarefas a cumprir: a principal, a aprovação da emenda constitucional que impõe um teto ao crescimento dos gastos públicos.

    É preciso que a votação seja finalizada nas duas Casas dos Congresso até o fim do ano, ou ao menos esteja bem encaminhada para 2017, o que não será missão fácil.

    A base parlamentar costurada por Temer tem no papel mais de 400 deputados, mas é menos sólida do que parece. Nos próximos cem dias, será posta à prova ao menos três vezes: na votação para cassar o deputado Eduardo Cunha, na eleição municipal e na reforma ministerial que o presidente deve fazer caso seja confirmado no cargo. A agenda econômica poderá facilmente ser feita refém de parlamentares com interesse contrariados.

    Ainda mais complicada será a definição de algum esboço de reforma da Previdência, um tema em que é simplesmente impossível não provocar reações exacerbadas.

    Na encruzilhada em que o presidente interino se encontra, o cenário positivo para ele é manter controlada sua base parlamentar, aprovar a emenda do teto do gasto e criar um ambiente econômico que permita o início do ciclo de redução de juros.

    Se essas metas forem alcançadas nos próximos cem dias, seu governo estará consolidado e ele entrará de vez no rol dos presidenciáveis para 2018.

    O cenário oposto é de um presidente decorativo, com longos dois anos de mandato pela frente. Não muito diferente, aliás, do que ocorreria com a própria Dilma Rousseff na diminuta hipótese de que ela retornasse ao Palácio do Planalto.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024