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    Manobras de Dilma no orçamento estão na base do impeachment

    DE SÃO PAULO
    DE BRASÍLIA

    26/08/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Plenário do Senado, onde será votado o afastamento da presidente
    Plenário do Senado, onde será votado o afastamento da presidente

    O senadores deram início nesta quinta-feira (25) à etapa final do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Nos próximos dias, decidirão se a presidente ora afastada deve deixar definitivamente o cargo.

    Embora na prática a resposta se limite a um único "sim" ou "não", em tese os parlamentares terão em mente duas questões: 1) foram violadas leis que regulam o uso do dinheiro público? 2) se sim, Dilma deve ser responsabilizada por isso?

    Dizer "sim" ao primeiro item é a parte fácil.

    Acusa-se Dilma de ter autorizado despesas adicionais sem obter antes o necessário aval do Congresso –no jargão, trata-se de abertura de créditos suplementares.

    Além disso, afirma-se que a gestão petista realizou as agora famosas pedaladas, manobras contábeis que disfarçavam a tomada de empréstimo de bancos públicos.

    As duas coisas aconteceram, e ambas contrariam dispositivos da Constituição e da lei 1.079/50, que define os crimes de responsabilidade.

    Entenda as pedaladas

    RUÍNAS E MANOBRAS

    Não é segredo que a economia brasileira estagnou-se em 2014. Com a arrecadação em queda, o governo passou a dispor, a partir daquele ano, de menos dinheiro que o necessário para a almejada expansão das despesas.

    A fim de ocultar o estado calamitoso das contas públicas –e assim aumentar os gastos públicos e a chance de reeleição da petista–, o governo recorreu às pedaladas, expediente que pode ser comparado a um abuso do cheque especial.

    Muitos benefícios sociais (como Bolsa Família) são pagos aos cidadãos por meio de bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil, entre outros), e não diretamente pelo governo. Este, porém, deve repassar às instituições cifras suficientes para fechar a conta.

    Se sobra um pouco de dinheiro –por exemplo, se menos pessoas sacaram o benefício–, o banco o devolve, com juros. Se falta, o banco cobre a diferença, e o governo paga juros por isso.

    Atrasos ou deficiências nos repasses ocorreram em outras gestões, mas, sob Dilma, atingiram montantes inéditos. Ao final de 2015, o governo devia cerca de R$ 56 bilhões a seus bancos. Na prática, um empréstimo bilionário.

    A ruína das contas públicas também esteve por trás dos créditos suplementares. Ele só foram editados antes de haver autorização do Congresso porque o fruto da arrecadação frustraria os planos do Executivo.

    Estabelecidos os fatos, os senadores precisarão chegar a uma conclusão sobre a segunda questão. Responsabilizar Dilma pelas pedaladas e pelos créditos suplementares, contudo, é tarefa que envolve boa dose de subjetividade –ou de juízo político.

    CABEÇAS E SENTENÇAS

    Definir se houve participação direta de Dilma é parte importante do problema. A Carta Magna brasileira, em seu artigo 85, estabelece que são crimes de responsabilidade "os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição".

    Alguns parlamentares poderão sustentar, como faz a defesa, que a petista não tomou decisões relativas às pedaladas e que apenas homologou definições técnicas nos créditos suplementares. Tudo não passaria de mero pretexto para o impeachment.

    Outros poderão afirmar que os fatos são incontestes e que o conjunto da obra atesta o envolvimento de Dilma.

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