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    o impeachment

    Análise

    O PIB, não as pedaladas, derrubou Dilma

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    31/08/2016 15h34

    Parece coincidência, mas, na verdade, é causa e efeito: pouco antes de o Senado decidir afastar Dilma Rousseff da Presidência, saíram os dados sobre o desempenho da economia brasileira.

    Revelam o seguinte: nos cinco primeiros anos da então presidente, o Brasil cresceu à média anual de 0,9%, o que coloca a sua gestão como a terceira com pior desempenho desde a proclamação da República em 1889.

    Segundo estudo de Reinaldo Gonçalves (Universidade Federal do Rio de Janeiro), um esquerdista crítico à gestão do PT, só Fernando Collor de Mello (1990/92) e o marechal Floriano Peixoto, na pré-história do país (1891/1894), tiveram resultados mais desastrosos.

    O que o PIB tem a ver com o impeachment? Tudo. A retração da economia (aliás, no ano passado, a pior de todos os países do G-20) gerou o altíssimo desemprego e, por extensão, minou o prestígio da presidente.

    Políticos, que podem ser tudo de ruim que se quiser, mas tem a epiderme sensível para os humores do eleitorado, foram abandonando rapidamente a presidente a que apoiavam, a ponto de o senador Edson Lobão (PMDB-MA), que foi ministro dela, ter votado nesta quarta-feira (31) a favor do impeachment.

    Repete-se, na prática, o que havia ocorrido com Fernando Collor de Mello (PTC-AL), em 1992: alguém acredita que Collor teria sido afastado se a economia brasileira estivesse bem? Não estava: na média do período 1990/92, a economia sofreu uma retração média anual de 1,3%.

    Políticos, cuja consistência ideológica no Brasil é notoriamente débil, não morrem abraçados a quem está se afogando. E Dilma Rousseff afogava-se na crise econômica e social e, por extensão, numa profunda impopularidade, conforme atestam todas as pesquisas de opinião pública recentes e não tão recentes.

    Claro que havia uma base jurídica (discutível, é verdade) para o impeachment, mas se o PIB apontasse para cima, em vez de para baixo, o resultado da votação teria sido outro - se é que haveria processo de impeachment.

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