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    Opinião

    Com impeachment, Brasil deu um passo, mas há muito a mudar

    ROGERIO CHEQUER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    01/09/2016 02h19

    Em abril de 2015, membros do Vem Pra Rua passaram por gabinetes do Congresso buscando o apoio ao impeachment da presidente Dilma. Encontramos 13 senadores dispostos a nos ouvir e não mais do que 40 deputados abertos a abraçar a causa.

    Menos de um ano e meio depois, assistimos a 61 senadores confirmarem o impeachment, votado na Câmara por 367 votos em abril.

    De lá para cá, muita coisa mudou. A população descobriu que tem nas mãos o destino da nação e que sabe defender aquilo em que acredita, além de exigir ser colocada no centro das atenções de seus representantes.

    Diante deste quadro, políticos perceberam que a sociedade agora sabe cobrar e monitorar seus representantes, para checar se estão atuando em beneficio próprio ou em prol da sociedade que os elegeu.

    Progressivamente eles vêm entendendo que, após décadas de convívio com um povo calado e políticas em interesse próprio, a população aprendeu a cobrar e a exigir posicionamentos.
    Empresários, salvo algumas exceções, ainda não assumiram posição de destaque neste processo de mudança. Muitos estavam, por conveniência, ao lado do governo.

    Outros estão envolvidos com sonegação fiscal, e muitos foram subjugados pelo medo de um governo que atuou de forma autoritária durante muitos anos. Poucos corajosos se posicionaram publicamente ao lado da sociedade, por mudanças.

    Apesar de todas as forças contrárias, incluindo os já desmascarados blogueiros pagos com dinheiro público, a primeira fase dessa grande mudança acaba de ser finalizada, com a aprovação de um impeachment que –ainda que Dilma jamais assuma– nasceu das ruas e empurrou o Congresso a representá-las.

    Esse foi, entretanto, apenas um passo, pois o Brasil ainda está distante do país que pode e deve ser. Há muito mais para mudar. O maior risco passa a ser a volta da omissão e conformismo da sociedade, nutrida por um saciamento parcial e temporário. O risco de que o período de ruptura se torne um voo efêmero para depois voltarmos ao status quo anterior. Esse risco é evitável.

    Diante desta realidade, o Vem Pra Rua, presente em 26 Estados, entra agora numa nova fase. Atuaremos em várias frentes, contra a corrupção e por um reforma político-eleitoral.
    A primeira delas diz respeito ao combate à corrupção. Tendo levantado mais de 210 mil assinaturas de apoio ao projeto 10 medidas contra a corrupção (das mais de 2 milhões entregues ao Ministério Público), o Vem Pra Rua está criando, nos mesmos moldes do Mapa do Impeachment, o "Mapa das 10 Medidas", escancarando a posição dos parlamentares.

    Em seguida, iniciaremos campanha semelhante em direção ao fim do foro por prerrogativa de função. Não é aceitável hoje, em nenhuma hipótese, que cerca de 20 mil pessoas no Brasil tenham tratamento diferenciado –e privilegiado!– dos 200 milhões restantes, frente à Justiça.

    O fim do foro privilegiado vai confirmar a atitude do impeachment de que não há brasileiros diferentes ou acima da lei.

    ROGERIO CHEQUER é engenheiro pela POLI-USP, empresário, sócio da SOAP –State of the Art Presentations, um dos fundadores do Movimento Vem Pra Rua

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