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    Em viagem à China, Michel Temer tenta mostrar estabilidade ao G-20

    JOHANNA NUBLAT
    ENVIADA ESPECIAL A XANGAI

    01/09/2016 23h56

    Três horas após ter sido empossado presidente e deixando para trás um racha em sua base, Michel Temer partiu para uma viagem à China, com a intenção de demonstrar estabilidade e confiança a investidores e às lideranças dos países mais ricos e poderosos do mundo.

    A brecha para tanto será a cúpula do G-20, que se reúne em Hangzhou (China), entre domingo (4) e segunda-feira (5). Às margens, haverá um encontro dos líderes dos Brics (Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul) e pelos menos quatro reuniões bilaterais do presidente.

    O presidente chegou ao país asíatico às 9h desta sexta (22h de quinta no Brasil), iniciando a agenda com encontro com empresários brasileiros.

    O Brasil chega ao G-20 em posição bem diferente daquela de 2009, em Londres, em que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi festejado pelo presidente americano, Barack Obama, como "meu chapa", "o político mais popular da Terra".

    Até meados da semana passada, com Temer ainda com o status de interino, a agência estatal de notícias chinesa Xinhua citava todos os nomes dos presidentes do G-20 e, no caso brasileiro, mencionava apenas "o líder do Brasil", sem nomes.

    "Temer será recebido educadamente na cúpula do G-20, mas está claro para todos que ele é um 'pato manco' [como são chamados nos EUA os presidentes em fim de mandato]. Ele disse que não vai concorrer [às eleições] em 2018, é visto como um zelador com mandato fraco", diz Riordan Roett, especialista em América Latina da Universidade Johns Hopkins.

    "Os membros do G-20 são atores poderosos e o Brasil é uma nação relativamente sem poder neste momento."

    Harold Trinkunas, do Brookings Institution, afirma que, em 2009, sob o governo Lula, a combinação da economia favorável e a imagem positiva pela expansão da classe média foram atrativos que contribuíram para o soft power ("poder suave") brasileiro, visto como contribuição positiva para a ordem global.

    "As crises política e econômica certamente erodiram seu soft power, tornando mais difícil ser influente em instituições internacionais. E, claramente, a presidente [Dilma] Rousseff também era menos interessada em política externa que seu antecessor."

    Para Trinkunas, independentemente dos debates no Brasil sobre a legitimidade do impeachment, a finalização do processo trará a sensação de "alívio" pela possibilidade de os líderes poderem fazer planos no longo prazo.

    Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP, avalia que a esperança da comunidade internacional, no momento, é que alguém possa iniciar e implementar reformas. "Ninguém tem expectativa que o Brasil vai ter um papel de destaque no mundo."

    NOVO 'MEU CHAPA'

    Segundo John Kirton, co-diretor do Grupo de Estudos do G-20, ligado à Universidade de Toronto, "é uma tragédia para a comunidade internacional que o Brasil esteja distraído com outras questões importantes —e não me refiro à Olimpíada".

    Kirton tece elogios à atuação do ex-presidente Lula no G-20, pela forma como trouxe a discussão trabalhista para a cúpula. Diz que o país também esteve desatento em outros momentos —como em 2010, quando Lula não foi ao G-20 alegando enchentes no Nordeste, e as últimas duas cúpulas, em que Dilma "estava distraída e teve menos influência". "Precisamos do Brasil de volta."

    Para Roett, o Brasil terá que esperar antes de ouvir um novo "meu ou minha chapa". "Há muito para ser construído ou reconstruído após as próximas eleições. Temer pode ser capaz de avançar em mudanças microeconômicas, mas decisões estruturais profundas precisarão de um chefe do Executivo com mandato nacional."

    Ju Huanzong/Xinhua
    (160901) -- HANGZHOU, Sept. 1, 2016 (Xinhua) -- Clay figures featuring the leaders to attend the upcoming G20 Summit are seen in Hangzhou, capital of east China's Zhejiang Province, Sept. 1, 2016. Made by artist Wu Xiaoli with the name "Dream of World Peace", the clay figures were displayed at Hangzhou's Qiaoxi historic block. (Xinhua/Ju Huanzong) (zhs)
    Bonecos de argila dos líderes que estarão na reunião do G-20 em Hangzhou, na China

    POLUIÇÃO CHINESA

    A cúpula do G-20 vai se reunir em Hangzhou ("randjou"), cidade de 8,9 milhões de habitantes a uma hora de trem de Xangai.

    Hangzhou abriga a gigante Alibaba, de Jack Ma, e tem apostado em virar um hub de comércio eletrônico internacional. O turismo também é um forte do local, que abriga o lago Oeste, listado como patrimônio mundial da Unesco.

    No ano passado, Hangzhou entrou para a lista das dez cidades chinesas com PIB na casa de 1 trilhão de yuans (cerca de R$ 585 milhões).

    Para o encontro em que a China pretende se mostrar como importante liderança, a cidade ganhou uma repaginada, com 651 projetos de renovação, como obras nas avenidas para o aeroporto e em hotéis.

    E, para garantir uma foto bonita, a China empreendeu seus esforços já tradicionais para reduzir temporariamente a poluição e mostrar aos visitantes estrangeiros um bonito céu azul.

    Segundo a imprensa chinesa, 230 minas de calcário nas redondezas de Hangzhou foram fechadas, assim como fábricas de produtos de silicone e outros químicos. Em Xangai, 255 empresas petroquímicas e de cimento tiveram as atividades reduzidas dias antes do início do G20.

    O "China Daily" afirmou que a meta estabelecida é para que a média da concentração de partículas finas no ar durante a cúpula, fique em cerca de 60% da concentração média na cidade em 2015.

    Autoridades proibiram atividades religiosas em larga escala e deram folga paga para parte dos funcionários públicos.

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