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    Análise

    Michel Temer é forçado a ajustar estratégia de discurso internacional

    MATIAS SPEKTOR
    DE COLUNISTA DA FOLHA

    04/09/2016 02h00

    Jin Liwang/Xinhua
    (160903) -- HANGZHOU, Sept. 3, 2016 (Xinhua) -- Brazilian President Michel Temer (R) receives interviews in Hangzhou, capital city of east China's Zhejiang Province, Sept. 3, 2016. (Xinhua/Jin Liwang) (mp)
    O presidente Michel Temer em Hangzhou, na China, onde haverá o encontro do G20

    O Palácio do Planalto calculou que a estreia internacional de Michel Temer seria um divisor de águas entre o interinado e o exercício pleno da Presidência. Esperava-se encerrar a turbulência do impeachment e inaugurar uma nova normalidade no encontro com o presidente chinês Xi Jinping, na sexta-feira (2), e com a reunião do G20, iniciada no sábado (3).

    Os fatos atrapalharam a estratégia. O fatiamento do impeachment, a chamada de Lula por Diretas-Já e a quebradeira entre "black blocs" e polícia dificultaram os planos. Enquanto Henrique Meirelles (Fazenda) dizia a empresários em Xangai que o país é "seguro e estável", e não há conflitos políticos", o noticiário chinês mostrava confrontos nas ruas paulistanas.

    Na vizinhança, o Planalto já esperava que a Venezuela e quiçá o Equador retirassem seus embaixadores de Brasília, mas causou surpresa a Bolívia chamar seu representante para consultas e o Uruguai denunciar o impeachment como injusto.

    O palácio será forçado a reajustar sua mensagem. Os dois desafios imediatos são as viagens de Temer à Argentina e aos Estados Unidos.

    Mauricio Macri é simpático à agenda de reformas do governo brasileiro e promete receber o colega com um sorriso no rosto. Mas seus assessores enxergam o impeachment de Dilma com preocupação, pois é um precedente perigoso para governos sul-americanos com apoio minoritário no parlamento.

    Em Nova York, Temer vai dividir o pódio das Nações Unidas com Barack Obama. Mas a tese do golpe ganhou adeptos em setores do partido Democrata, hoje preferido para as eleições de novembro. Não será um editorial elogioso a Temer do "Wall Street Journal" que vai abrir bons canais de comunicação e espaço para atuação de alto nível junto a um possível governo de Hillary Clinton.

    Ninguém sabe se, quando ou como o governo lançará uma nova mensagem para divulgar mundo afora. Mas Temer tem alguns trunfos.

    Seu governo patrocina o maior programa de reformas microeconômicas de qualquer grande economia. E embora Temer represente a classe política hoje acuada pelo ronco das ruas e pela Operação Lava Jato, o Brasil atravessa o mais ambicioso processo de combate à corrupção em qualquer democracia. É inconcebível imaginar algo similar em países como China, Índia, Turquia ou Rússia, e isso é um cartão de visita.

    Temer ainda poderá despachar para o campo de batalha seus dois grandes generais: Maria Sílvia (BNDES) e Pedro Parente (Petrobras). Sem o estilo jurássico de boa parte do governo que representam, eles talharam uma mensagem de modernidade ao reestruturar duas das principais instituições de todo o mundo em desenvolvimento.

    O embate por legitimar, lá fora, a novela que se passa aqui dentro, não terminou. Apenas começou.

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