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    Lula estava sendo chantageado em Santo André, diz Marcos Valério

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    12/09/2016 19h16 - Atualizado às 21h03

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Os ex-presidentes Lula (e) e José Sarney na cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia na presidência do STF, em Brasília (DF)
    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

    Condenado no mensalão, o publicitário Marcos Valério, preso numa penitenciária em Minas Gerais, afirmou em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta segunda (12) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava sendo "chantageado" pelo empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto, em 2004.

    Valério, porém, não esclareceu o motivo da chantagem.

    "Eu gostaria de não responder essa pergunta, porque o que eu fiquei sabendo é muito grave e o senhor não vai poder garantir a minha vida", afirmou, na audiência. "É um assunto muito grave e eu não quero correr riscos. Eu estou preso numa penitenciária."

    O publicitário e outras oito pessoas são réus numa ação da Operação Lava Jato, que trata de um empréstimo fraudulento feito no banco Schahin, cujos recursos foram repassados a Pinto, dono do jornal "Diário do Grande ABC".

    Os investigadores do caso suspeitam que o motivo da extorsão tenha sido a compra do silêncio sobre o caso Celso Daniel, prefeito petista de Santo André (SP) assassinado em 2002. Mas essa suspeita não foi incluída na denúncia.

    Além de Lula, os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho, ambos do PT, também estariam sendo chantageados, segundo afirmou Valério.

    DE JOGADOR A VERDADEIRO

    Valério, que falou por cerca de uma hora, ainda disse que passou "de mentiroso e jogador" a "verdadeiro" –já que, em 2012, ele prestou depoimento ao Ministério Público Federal sobre o empréstimo no banco Schahin.

    "Eu era considerado um mentiroso, um jogador, que queria atrapalhar o processo. Aí [agora] vieram dizer: tudo o que você falou era verdade. Eu me tornei um cara verdadeiro."

    As agências publicitárias de Valério eram usadas para fazer empréstimos fraudulentos e repassar o dinheiro ao PT e seus aliados, conforme mostrou a investigação do mensalão.

    Por causa disso, segundo afirmou o publicitário, o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, pediu que ele repassasse R$ 6 milhões a Ronan Maria Pinto, que estaria "chantageando o presidente".

    Apesar de ter topado inicialmente, Valério disse que acabou não intermediando o pagamento porque "não queria ligação" com o caso.

    "Eu comecei a sondar quem era Ronan Maria Pinto. E o que eu fiquei sabendo não me agradou", afirmou. "Eu disse [a Silvio Pereira]: você é maluco. Eu não vou fazer isso, não vou transferir, não quero ligação com isso, e usei o termo: me inclua fora disso."

    Por causa disso, segundo a investigação, a operação foi feita via banco Schahin, com um empréstimo tomado em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

    OUTRO LADO

    O advogado de Ronan Maria Pinto, Fernando José da Costa, informou que a versão de Valério é "isolada".

    Ele destaca, em nota, que ela foi tornada pública oito anos após os fatos, e depois de sua condenação no mensalão.

    Silvio Pereira e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares (que é réu na mesma ação), negam que tenha havido tentativa de extorsão e dizem não ter qualquer relação com o empréstimo no banco Schahin.

    Já o defensor de Paulo Okamotto, atual presidente do Instituto Lula e acusado por Valério de ter relevado a ele o empréstimo fraudulento, disse que o depoimento do publicitário é uma "invenção".

    "Os depoimentos da Lava Jato, iniciados com fatos, descambaram para mentiras e invenções de condenados que querem se beneficiar com as delações premiadas", escreveu o advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende Okamotto.

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