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    Lava Jato

    Lula comandou esquema de corrupção na Petrobras, diz Lava Jato

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    FLÁVIO FERREIRA
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    14/09/2016 14h33 - Atualizado às 16h06

    Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena/Folhapress
    CURITIBA, PR - 14.09.2016: MINISTÉRIO PÚBLICO DENUNCIA LULA - Procurador da República Deltan Dallagnol durante entrevista coletiva da Força Tarefa da Operação Lava Jato do Ministério Público Federal que denunciou formalmente nesta quarta-feira, 14, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-primeira dama Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o empresário Léo Pinheiro, da OAS, dois funcionários da empreiteira e outros dois investigados - realizada no Hotel Lizon em Curitiba, PR. (Foto: Rodolfo Buhrer / La Imagem/Fotoarena/Folhapress) ORG XMIT: 1203538 *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Procurador da República Deltan Dallagnol dá entrevista coletiva sobre denúncia contra Lula

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado na tarde desta quarta-feira (14) pela força-tarefa da Lava Jato sob acusação de comandar o esquema de corrupção na Petrobras e atuar, junto com a empreiteira OAS, no desvio de ao menos R$ 87,6 milhões da estatal.

    "Sem o poder de decisão de Lula, esse esquema seria impossível [...] Lula era o maestro dessa grande orquestra concatenada para saquear os cofres públicos", declarou o procurador da República Deltan Dallagnol, durante entrevista coletiva.

    Na denúncia, o petista é acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, que teria sido feita em parceria com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. A acusação pede à Justiça que Lula devolva esses R$ 87,6 milhões, que teriam sido desviados de contratos da empreiteira com a Petrobras e revertidos em propinas.

    O próprio ex-presidente da República teria, segundo a denúncia, recebido R$ 3,7 milhões em vantagens indevidas da empresa.

    Parte do valor, alegam os procuradores, está relacionada ao caso do tríplex em Guarujá, no litoral de São Paulo: R$1,1 milhão teriam sido usados para comprar o apartamento, mais R$ 926 mil para reformá-lo e R$ 350 mil para instalar equipamentos de cozinha na unidade. A OAS ainda teria pago outros R$ 1,3 milhão para armazenar bens de Lula depois que deixou a Presidência.

    A denúncia não quer dizer que o petista é culpado. Se ela for aceita pelo juiz federal Sergio Moro, o petista passará à condição de réu pela primeira vez em uma ação criminal resultante das investigações em curso em Curitiba.

    Em entrevista coletiva convocada após a divulgação da denúncia, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, criticou a "verborragia" de Dallagnol e disse que a atuação do procurador é "política". Ele voltou a negar que o ex-presidente tenha cometido qualquer irregularidade e que seja dono do tríplex em Guarujá (veja mais abaixo).

    "O MPF elegeu Lula como 'maestro de uma organização criminosa', mas 'esqueceu' do principal: a apresentação de provas dos crimes imputados", afirmou.

    Além do ex-presidente, também foram denunciados a ex-primeira-dama Marisa Letícia; os executivos da OAS Léo Pinheiro, Agenor Franklin Medeiros e Paulo Gordilho; o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto; Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira.

    Dallagnol ainda comparou o petrolão e o mensalão, dizendo que os dois escândalos tinham objetivos comuns: garantir governabilidade, perpetuar um grupo no poder e enriquecer criminalmente.

    "Após assumir o cargo de Presidente da República, Lula comandou a formação de um esquema delituoso de desvio de recursos públicos destinados a enriquecer ilicitamente, bem como, visando à perpetuação criminosa no poder, comprar apoio parlamentar e financiar caras campanhas eleitorais", escreveram os procuradores.

    OBSTRUÇÃO

    Esta é a primeira denúncia contra o petista encaminhada ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná.

    O ex-presidente também já foi denunciado pelo Ministério Público Federal em Brasília, sob acusação de obstrução da Justiça na Lava Jato, ao supostamente tentar evitar a delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

    Antes, o petista já havia sido indiciado pela Polícia Federal no caso do tríplex, no fim de agosto, sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. A investigação apontou que o tríplex, reformado pela OAS, estaria reservado à mulher de Lula, e que as melhorias foram feitas para beneficiar a família do petista.

    Na ocasião, também foram indiciados Marisa, os executivos da OAS Léo Pinheiro e Paulo Gordilho, e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

    Lula ainda é alvo de outros dois inquéritos na Lava Jato, que apuram se ele é o real proprietário de um sítio em Atibaia (SP), reformado pela construtora Odebrecht, e se as palestras dadas pelo ex-presidente após deixar o governo foram pagas com dinheiro oriundo do esquema da Petrobras. A investigação continua em andamento.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Sao Paulo, SP, BRASIL, 14-09-2016: Lula participa da reuniao do conselho politico do PT em sala no hotel Mercure no bairro ibirapuera em SP. (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
    Lula participa de reunião do conselho politico do PT, em SP

    OUTRO LADO

    Em nota, o ex-presidente Lula afirmou que "tornou públicos os documentos que PROVAM [grifo do autor] que ele não é o dono de nenhum apartamento no Guarujá".

    Segundo o texto "Lula esteve apenas uma vez no edifício, quando sua família avaliava comprar o imóvel. Jamais foi proprietário dele ou sequer dormiu uma noite no suposto apartamento que a Lava-Jato desesperadamente tenta atribuir ao ex-presidente."

    A defesa de Lula já recorreu à ONU acusando o juiz Sergio Moro de violar direitos, e argumenta que ele indicou um juízo de valor desfavorável ao ex-presidente.

    Em nota, o advogado de Paulo Okamotto, Fernando Augusto Fernandes, afirmou que "o Ministério Público criou uma corrupção em que não há vantagem ilícita. O valor é pago para a conservação de um acervo considerado como 'patrimônio cultural brasileiro de interesse público' pela Lei 8394/91. A nota fiscal foi emitida em nome da empresa que contribuiu, a OAS, e não houve qualquer falsidade."

    Fernandes diz que "o valor foi para a empresa, que mantinha o acervo em depósito. Não houve lavagem. A única lavagem que poderia existir é dos abusos cometidos, da condução coercitiva do Presidente Lula e do Presidente do Instituto, Paulo Okamotto. Abusos que agora se tentam legitimar sem nada encontrar."

    Procurada, a OAS afirmou, por meio de sua assessoria, que não irá se manifestar sobre o assunto.

    Lula denunciado na Lava Jato

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