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    Em grampo, assessor de deputado ameaça cortar verba de Ribeirão Preto

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    14/09/2016 16h28

    Um assessor do deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP) ameaçou, em grampos obtidos pela operação Sevandija, cortar uma verba destinada a Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) caso funcionários terceirizados indicados pelo partido fossem demitidos de uma empresa contratada sob a suspeita de fraude pela prefeitura local.

    A conversa, gravada com autorização judicial, consta do inquérito policial nº 270/2016 e envolve o assessor Fernando Desideri e o ex-secretário da Casa Civil de Ribeirão Layr Luchesi Junior, que foi preso na última segunda-feira (12), já na segunda fase da operação.

    A Sevandija apura um esquema de corrupção cujo montante fraudado pode chegar a R$ 203 milhões na Prefeitura de Ribeirão. As suspeitas começaram com uma licitação no ano passado para a compra de catracas para escolas, que envolviam o montante de R$ 26 milhões.

    As investigações indicaram ainda a suspeita de que a prefeitura usava a Coderp (companhia de desenvolvimento) para contratar a Atmosphera, por meio de licitações fraudulentas, para abrigar funcionários terceirizados. Os funcionários (589) foram indicados por aliados da prefeita Dárcy Vera (PSD), especialmente vereadores, segundo a operação.

    Baleia é líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados e tem estreita ligação com o presidente Michel Temer (PMDB), que foi seu padrinho de casamento.

    Na conversa de Desideri com Luchesi, gravada às 16h47 do dia 22 de julho, o assessor questiona o então secretário sobre a lista de demissões de cargos ligados ao PMDB, e Luchesi afirma que ela está parada. As transcrições foram reveladas pela Eptv, afiliada à Globo, e confirmadas pela Folha.

    "Porque a hora que parar a lista, a gente começa a ver se vai vir ou não a verba pro município também", disse na sequência o assessor. Com a resposta, Luchesi pede para não misturar "uma coisa com a outra" e afirma que o ex-secretário Marco Antônio dos Santos (Administração, que foi preso) vai conversar com Baleia sobre o assunto.

    Desideri afirma, ainda, que está "de saco cheio" de Dárcy e que queriam que ele liberasse uma verba de R$ 540 mil e que ela tinha sido bloqueada. Por fim, afirmou ao ex-secretário que setores do governo, como Cohab, Coderp (desenvolvimento) e Infraestrutura, telefonam para ele "de meia em meia hora" cobrando liberação de valores e que "está puto com o terrorismo" que a prefeita estaria fazendo.

    CITAÇÕES

    Nas conversas telefônicas, gravadas com autorização judicial, o nome do parlamentar é citado 22 vezes em transcrições que constam do inquérito.

    Além do diálogo entre seu assessor e o ex-secretário, o parlamentar é citado em conversas sobre eleições entre a prefeita e Santos e em discussões que sugerem manter indicações de empregos na administração.

    Também aparece citado por parlamentares em conversas com o empresário Marcelo Plastino, dono da empresa Atmosphera, e pelo ex-secretário da Educação, Angelo Invernizzi, que diz numa conversa ter falado para Dárcy pensar bem antes de demitir pessoas ligadas a Baleia, pois depois "vai 'virar bicho'". Plastino e Invernizzi estão presos.

    O PMDB de Baleia, que tem o vice-prefeito e estava com Dárcy desde o primeiro mandato, iniciado em 2009, indicou o empresário Guilherme Feitosa para ser candidato a vice de Ricardo Silva (PDT), um dos opositores ao governo da prefeita.

    Baleia teria indicado em conjunto com o vereador peemedebista Cícero Gomes da Silva, no total, 65 nomes para trabalhar na Atmosphera, segundo publicou nesta quarta-feira (14) o jornal "A Cidade".

    A primeira fase da Sevandija terminou com 31 pessoas denunciadas pelo Ministério Público paulista na última sexta-feira (9). Desideri e o deputado não estão na lista.

    Doze pessoas estão presas preventivamente -outras quatro cumpriram prisão temporária e foram soltas. Nove vereadores tiveram os mandatos suspensos até o fim do processo.

    OUTRO LADO

    O deputado federal Baleia Rossi informou, por meio de sua assessoria, que desconhece o teor da conversa de seu assessor com o ex-secretário da Casa Civil e que nunca autorizou ninguém a falar em nome dele em qualquer situação.

    Ainda de acordo com o parlamentar, ele não tem elo algum com a verba de R$ 540 mil citada nas transcrições, que é referente ao ano de 2013, quando ele ainda era deputado estadual, e é do Ministério das Cidades.

    Baleia afirmou ainda que discutir verbas não é uma atribuição do seu assessor e que a conversa foi gravada em 22 de julho, quando a legislação eleitoral já proibia a liberação de verbas. Ou seja, segundo a assessoria do deputado, esse valor não seria liberado de forma alguma.

    Já o assessor Desideri, também por meio da assessoria de imprensa do deputado, afirmou que as conversas com Luchesi se tratavam de um desabafo, feito por ele durante uma discussão acalorada, depois de ter sido procurado por pessoas que foram demitidas da Atmosphera.

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