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    Ivan Valente questiona Ministério da Defesa sobre suposto militar infiltrado

    CAROLINA LINHARES
    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    16/09/2016 17h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Gabriel Cunha Risaffi abraça a mãe, Rosana Cunha, após ser solto; prisões foram considerados ilegais
    Manifestantes são soltos após terem sido detidos em ato contra Michel Temer no dia 4 de setembro

    O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) protocolou na terça (13) um requerimento de informação ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, sobre o capitão do Exército que teria sido infiltrado em movimentos sociais por meio do aplicativo Tinder.

    O documento, com nove perguntas, questiona se o Ministério da Defesa confirma a existência de tal monitoramento e, ainda, se havia algum tipo de parceria com a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo na ação.

    "É preciso saber por que o Exército está monitorando movimentos sociais e se isso não viola o Estado democrático de Direito", disse Valente à Folha nesta sexta (16).

    "O requerimento pergunta se a ação veio de ordem superior, por exemplo. Porque aquele cidadão infiltrado lembra os tempos da ditadura", completou.

    Segundo Valente, a suspeita do envolvimento da Secretária de Segurança surgiu porque o capitão foi único a não ser detido. Além disso, de acordo com o deputado, a Polícia Militar disponibilizou ônibus e mobilizou helicópteros no dia da prisão.

    "A notícia [da infiltração] causa espanto e vulnera o Estado de Direito e o processo democrático no Brasil, conferindo graves ataques à liberdade de reunião e expressão. Tal prática, comum em regimes ditatoriais, não pode ser permitida na democracia", afirma o documento.

    O ministro tem um prazo de 30 dias para dar alguma resposta aos questionamentos. Valente afirmou que, caso as dúvidas não sejam sanadas, irá convocar Jungmann à comparecer na comissão de relações exteriores e defesa nacional da Câmara.

    O deputado lembrou que foi vigiado durante a ditadura e até mesmo depois, até o ano de 1992, segundo ele. "Temos que combater essa visão das Forças Armadas de monitorar movimentos sociais", disse.

    INFILTRADO

    O caso do suposto militar infiltrado no grupo de manifestantes que foi detido no dia 4 de setembro, antes de um protesto contra o governo de Michel Temer, ganhou destaque nas redes sociais e chamou a atenção do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial) do Ministério Público de São Paulo, que afirmou que investigará o caso.

    O homem, que foi identificado como o capitão Willian Pina Botelho pelos sites "Ponte" e "El País", usaria o nome "Baltazar Nunes" e perfis falsos nas redes sociais para conseguir se misturar a militantes de esquerda.

    Segundo os manifestantes, ele teria chegado ao grupo por meio do aplicativo de relacionamentos Tinder. Eles afirmam que, durante a detenção no Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro, Nunes/Botelho foi levado separadamente pela polícia e nunca chegou ao Deic, como o resto dos presos.

    "Aparentemente, essa informação procede", afirmou na terça-feira (13), à Folha, a procuradora Luciana Frugiuele, do Gecep.

    Na ocasião, foram detidos 18 maiores de idade e apreendidos oito menores. Todos foram liberados no dia seguinte, após o juiz Rodrigo Tellini, do Fórum Criminal da Barra Funda, considerar ilegais as prisões.

    O Exército confirmou à Folha que o capitão Botelho é lotado no Comando Militar do Sudeste, e disse ter aberto procedimento para investigar o caso. A Secretaria do Estado da Segurança Pública, por meio de nota, negou qualquer operação conjunta com as Forças Armadas e disse que todos os presos foram registrados no boletim de ocorrência.

    MANIFESTAÇÕES

    No requerimento, Valente diz que "a utilização de agentes do Exército para monitorar os protestos parece ter sido claramente planejada com o propósito de desmontar e reprimir, violentamente e sem ordem judicial, uma manifestação absolutamente legítima".

    O deputado esteve presente no último protesto contra o governo Michel Temer, no domingo (11), e conversou com a polícia após a detenção de três manifestantes.

    "Foi mais uma provocação da polícia. A polícia, atrás do caminhão de som, com milhares de pessoas na rua, ousou puxar uma pessoa para a prisão que não tinha feito nenhum ato", afirmou.

    Valente, contudo, se diz contrário à tática black bloc. "Acho que não contribui para nada. Até desgasta o verdadeiro movimento reivindicativo, político", disse.

    "Mas eles têm o direito de existir, desde que não pratiquem violências, inclusive que comprometam a legitimidade de movimentos reais."

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