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    Filha de pivô do petrolão reclama que aliados do pai a abandonaram

    KATNA BARAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

    19/09/2016 02h00 - Atualizado às 18h16

    Reprodução
    Danielle Janene ao lado do pai em seu casamento, em 2009
    Danielle Janene ao lado do pai em seu casamento, em 2009

    Danielle Janene diz que foi criada num conto de fadas. Filha do ex-deputado José Janene (PP-PR), um dos mentores do esquema revelado pela Lava Jato, ela lembra que nunca pagou uma conta, pois o pai não deixava. "Nem no verdureiro."

    Mas a história mudou em 2010. Com a morte do político naquele ano, após problemas cardíacos, "faltou tudo", lamenta-se.

    "As pessoas entraram em contato para falar de problemas. Nunca ninguém bateu na porta para falar: 'Olha, tem dinheiro esperando vocês ou alguma coisa boa'", afirma.

    Hoje, Danielle alega falta de recursos e tenta fazer com que a Defensoria Pública cuide do inventário do pai, abandonado desde 2014.

    Ex-presidente do PP, Janene é peça central na Lava Jato. O nome dele está presente em quase todos os relatos do Ministério Público Federal e em sentenças do juiz Sergio Moro.

    Réu do mensalão, o político ajudou a montar o esquema com o doleiro Alberto Youssef na diretoria de Abastecimento da Petrobras, então comandada por Paulo Roberto Costa.

    Danielle também é ré, acusada de ajudar a lavar cerca de R$ 1 milhão —com estimativa de danos de R$ 10 milhões— e de apropriação indébita da Dunel Indústria, que recebeu aporte do pai.

    "Fui contratada [da empresa], mas nunca mexi com dinheiro, nunca participei do quadro social", diz Danielle.

    No processo, parado desde março, ela é defendida pelo mesmo advogado de Youssef. A filha diz não saber onde foi parar a fortuna da Petrobras que teria ficado com o pai, mas afirma que será a primeira a denunciar caso descubra.

    "Dinheiro não some, muda de mão. Só fiquei com o ônus, não tive o bônus", diz ela, afirmando que na Lava Jato "não há vítimas".

    Ela se diz grata a quem "puxou seu tapete", o que "a fez abrir os olhos". Nunca estranhou ou questionou o pai sobre seus investimentos ou fontes de renda. "Não acredito que tenha um filho que questione o pai [sobre isso]."

    'MORTO NÃO FALA'

    Hoje, Danielle se diz convencida de que José Janene fazia parte do esquema na Petrobras. "Está difícil dizer o contrário. Mas ele não foi o mentor exclusivo e único beneficiado. Claro que há uma estratégia. Morto não fala."

    Como filha, o sentimento é outro. "Bom ou mau, herói ou bandido, ele era meu pai. Não sou ingrata", diz, citando a indignação com a CPI da Petrobras ter cogitado exumar o corpo do político para confirmar a morte.

    Mesmo admitindo a contradição, Danielle defende a Operação Lava Jato, que classifica como um "belo trabalho".

    Diz guardar mágoas de Youssef, a quem se dirigia como "tio Beto". Segundo ela, quando o doleiro foi preso no escândalo do Banestado, em 2004, Janene ajudou os parentes dele.

    "Acho que ele não teve essa consideração com a gente", diz, citando problemas financeiros e emocionais.

    Dedicada à criação dos três filhos, Danielle diz que vive da renda de aluguéis de imóveis, em Londrina, no interior do Paraná.

    Ela conta que faz terapia e que o processo desestruturou sua família.

    "Não sei o que aconteceria se ele [Janene] estivesse vivo. Se estivesse preso, a situação estaria complicada, poderia até ser assassinado", diz ela.

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