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    Lava Jato

    Para investigadores, prender Mantega em hospital foi 'coincidência infeliz'

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    22/09/2016 12h38 - Atualizado às 15h36

    Jorge Araujo - 22.set.2016/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil, 22.09.2016 Ex-ministro da Fazendo Guido Mantega chega a sede da Policia Federal,em Sao Paulo. Foto:Jorge Araujo/Folhapress
    Ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chega a sede da Polícia Federal, em São Paulo

    Investigadores da Operação Lava Jato, em que o ex-ministro Guido Mantega foi preso temporariamente nesta quinta (22), dizem que a abordagem feita no hospital Albert Einstein, onde a mulher dele fazia uma cirurgia, foi "uma coincidência infeliz". A prisão foi revogada pelo juiz Sergio Moro, horas depois.

    "A equipe desconhecia totalmente essa situação", declarou o delegado federal Igor Romário de Paula.

    Segundo ele, ao verificarem que Mantega não estava em casa, agentes da PF entraram em contato com ele por telefone. O ex-ministro estava em espera com a mulher, que ainda não havia entrado em procedimento cirúrgico, e desceu à portaria do hospital para se apresentar.

    Mantega deixou o local em viatura descaracterizada, por um acesso lateral do hospital. "Não houve nenhum problema", disse Paula.

    O Ministério Público Federal informou que o pedido de prisão foi feito no final de julho, e a decisão do juiz Sergio Moro que autorizou a medida é do dia 16 de agosto.

    "Infelizmente, coincidências como essa são tristes. Mas não há como não se cumprir uma ordem judicial", afirmou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. "Só não foi cumprido antes por circunstâncias operacionais."

    PROPINA

    Mantega é acusado de solicitar ao empresário Eike Batista o repasse de R$ 5 milhões ao PT para pagar dívidas de campanha, em novembro de 2012 (os investigadores ainda não sabem a que campanhas o ex-ministro se referia).

    O próprio Eike admitiu, em depoimento ao MPF, o pedido do ex-ministro, que na época era presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

    O repasse foi feito a uma conta no exterior do casal de publicitários João Santana e Mônica Moura. Nessa operação, foram repassados US$ 2,35 milhões.

    Ainda não há evidências de que o dinheiro fosse originário de contratos da Petrobras –o que caracterizaria, portanto, o crime de corrupção.

    O Ministério Público, porém, destaca que a OSX, empresa de Eike, havia recentemente firmado um contrato para a construção de plataformas para a Petrobras. Semanas depois do pedido de Mantega, a empresa recebeu o primeiro pagamento da estatal pelo contrato.

    Segundo o juiz Sergio Moro, no despacho que deferiu as prisões, "há uma incômoda proximidade temporal entre a solicitação de recursos, que teria ocorrido em 01/11/2012, com a data da assinatura do contrato com a Petrobras, [...] em 01/11/2012, bem como com o primeiro pagamento efetuado pela Petrobras em decorrência do contrato, em 29/11/2012".

    Mantega foi preso temporariamente, por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco.

    OUTRO LADO

    O advogado de Mantega, José Roberto Batochio, disse que seu cliente "jamais conversou com Eike Batista a respeito desses fatos". O defensor do ex-ministro falou com a imprensa quando deixava a superintendência da PF em São Paulo.

    Estamos sabendo desses fatos agora, esses fatos eram absolutamente secretos", declarou. "A mim me compete agora me inteirar". Batochio também criticou o fato de Mantega ter pedido de prisão expedido e Eike estar solto, já que o crime de corrupção pressupõe o corrompido e o corruptor.

    Ele classifica a prisão de Mantega como desnecessária. "Quer ouvir, quer investigar, chama, íntima. Qual é a necessidade disto?" argumentou.

    Depois que a prisão foi revogada pelo juiz Sergio Moro devido à cirurgia da mulher de Mantega, Batochio afirmou: "Com cirurgia ou sem cirurgia, a prisão é arbitrária e odiosa, autoritária e inaceitável"

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