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    'Lula vive momento delicado, não jogarei pedra', diz Fernando Henrique

    DANIELA LIMA
    DE SÃO PAULO

    25/09/2016 02h00

    Marcus Leoni/Folhapress
    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Folha
    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Folha

    Em entrevista à Folha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso evitou fazer juízo de valor sobre o destino de seu sucessor, o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –que nesta semana virou réu pela segunda vez na Operação Lava Jato.

    FHC disse que o assunto é da Justiça e que não quer "jogar pedra" no petista.

    *

    *Folha - O sr. assistiu ao julgamento de Dilma Rousseff
    Fernando Henrique Cardoso - Eu a vi falando. Acho que se defendeu bravamente, como podia. Foi até mais clara no falar do que é geralmente.

    O problema é que não querem enfrentar a realidade. Apesar de todos os floreios para evitar a questão central, houve efetivamente arranhões à Constituição. Houve emissão de despesa sem autorização do Congresso.

    Durante algum tempo o sr. não teve segurança de que era o suficiente...
    Não. Foi o mesmo com o [Fernando] Collor. O impeachment é sempre traumático, tirar alguém que foi votado. E, enquanto a população não se convence de que esse alguém esgotou sua chance...

    Fiz o mesmo com o Collor, custei muito a aceitar. Sempre achei que Dilma, pessoalmente, não se meteu em tramoia. Agora, se ela tem ou não responsabilidade nas tramoias, responsabilidade política, já é outra coisa.

    O que achou da decisão de fatiar o julgamento de Dilma?
    Visivelmente contra a Constituição. Não sei como o Supremo vai descalçar essa bota. [Acho que] Não vai. Vai dizer que é soberania do Senado.

    Mas o ministro do Supremo [Ricardo Lewandowski] não teve nem o cuidado de submeter ao Congresso a questão. O que é isso? É um pouco do espírito de conciliação brasileiro. Um "jeitinho".

    E a denúncia do ex-presidente Lula? Assistiu?
    Vi partes. O Ministério Público, ao tentar mostrar que o Lula era o responsável maior, obscureceu a outra questão, que é a mais importante: houve ou não crime de favorecimento pessoal?

    Se ele foi o responsável maior, não é ponto de partida, é ponto de chegada. Isso não diminui a necessidade de responder a outro quesito: houve desvio de finalidade dos recursos?

    Antes, o sr. havia se recusado a falar sobre o assunto...
    Disse que preferia não entrar no assunto. Ele vive um momento delicado, e não acho que corresponda a mim, que fui presidente e o conheço de outras épocas, agravar. Isso, agora, é a Justiça quem vai ter que decidir. Não quero jogar pedra no Lula.

    Há tensão entre diversas instituições: Judiciário, Congresso, Ministério Público. É possível uma crise institucional?
    Não creio. O problema que temos é o seguinte: Será que o nosso arranjo –Executivo, Congresso, Judiciário, Ministério Público– está funcionando?

    Após 1988 metade dos eleitos sofreu impeachment, e, saltando o regime militar, só [Eurico] Dutra e Juscelino [Kubitschek] escaparam de um final tormentoso. Tem algo inquietante.

    O Congresso tem muita força. A Constituição é quase parlamentarista. Por quê? Porque ela era quando foi escrita. Depois, quando foi derrotada a emenda, não houve rebalanceamento.

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