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    Lava Jato

    Estaleiro admite pagamentos suspeitos

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    12/10/2016 02h00 - Atualizado às 17h08
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Heuler Andrey/Folhapress
    CURITIBA,PR, BRASIL, 23.02.2016 - CHEGADA DE JOAO SANTANA NO PR: Zwi Skornicki e Vinícius Veiga Borin - Presos na 23 fase da Operacao Lava-Jato denominada de Acaraje deixam a sede no IML em Curitiba-PR onde realizou exame do corpo de delito. Foto: Heuler Andrey/FolhaPress PODER ***Exclusivo***
    Zwi Skornicki (à frente), representante do Keppel Fels no Brasil, foi preso na Lava Jato

    Um dos maiores fornecedores da Petrobras, com contratos no valor de R$ 25 bilhões, o estaleiro Keppel Fels reconheceu em comunicado enviado à Bolsa de Cingapura, onde fica a sua sede, que os pagamentos feitos a seu representante no Brasil "podem ser suspeitos".

    O representante do grupo no Brasil é o lobista e engenheiro Zwi Skornicki, que foi preso pela Operação Lava Jato e já disse que pagou US$ 4,5 milhões (R$ 14,4 milhões, em valores atuais) ao marqueteiro João Santana, que cuidou das campanhas de Lula (2006) e de Dilma Rousseff (2010 e 2014).

    A mulher e sócia de Santana, Mônica Moura, confirmou à Justiça que recebeu os US$ 4,5 milhões numa conta na Suíça.

    Ela disse ainda que o montante era uma dívida da campanha eleitoral de Dilma Rousseff de 2010.

    No relato de Mônica, quem indicou o representante da Keppel para fazer o pagamento foi o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

    Vaccari foi condenado em duas ações penais a 24 anos de prisão.

    O advogado do ex-tesoureiro petista, Luiz Flávio Borges D'Urso, sempre negou que seu cliente tenha pedido propina seja em contratos da Petrobras ou da Sete Brasil, empresa responsável pela construção de plataformas para exploração das jazidas do pré-sal.

    Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, Skornicki afirmou que pagava propina em negócios com a Petrobras desde 2003, primeiro ano do governo Lula.

    O representante da Keppel citou à Justiça que houve propina numa plataforma que foi uma das bandeiras do primeiro governo do presidente Lula, a P-51.

    Foi a primeira plataforma do tipo construída inteiramente no Brasil, contratada por US$ 639 milhões (R$ 2 bilhões hoje) em 2004.

    Preso em fevereiro deste ano, o representante do Keppel foi solto em agosto depois de fechar um acordo de delação premiada com procuradores da Lava Jato.

    O conteúdo da delação de Skornicki, porém, permanece sigiloso. A Folha apurou que ele cita que a cúpula da Keppel em Cingapura sabia que os contratos no Brasil eram obtidos por pagamento de propina.

    Inicialmente, o grupo havia negado "fortemente" ter pago suborno em negócios com a estatal brasileira.

    O Keppel é um dos maiores conglomerados do mundo na produção de plataformas para extração de petróleo, com receitas de US$ 3,4 bilhões no primeiro semestre deste ano.

    DELAÇÃO

    A delação de Skornicki deve obrigar o grupo que ele representava a seguir o mesmo caminho, segundo dois especialistas ouvidos pela Folha sob condição de anonimato.

    O comunicado do Keppel é um dos primeiros passos para a empresa fazer um acordo de delação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

    O grupo terá que negociar com as autoridades americanas porque a legislação daquele país proíbe países que atuam lá de pagar propina no exterior. Se ficar confirmado que Skornicki pagou suborno no Brasil, a empresa poderá ter de desembolsar multas bilionárias nos EUA.

    E-mails apreendidos pela Polícia Federal indicam que a cúpula do grupo sabia dos negócios ilícitos no Brasil.

    Ou seja, pagamentos suspeitos não teriam sido descobertos apenas após a realização de investigações internas, como diz o comunicado da empresa.

    A Keppel aponta no comunicado que a suspeita de pagamentos ilegais também ocorreu com a Sete Brasil, fornecedora de plataformas para a Petrobras que quebrou.

    DILMA NEGA CAIXA DOIS

    O advogado do grupo Keppel, Celso Vilardi, não foi localizado para comentar o comunicado que aponta possíveis "pagamentos suspeitos" para o representante do conglomerado no Brasil.

    Em outras ocasiões, o grupo dizia que iria colaborar com as investigações realizadas pela Lava Jato e pela própria Petrobras.

    A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff nega enfaticamente que ela tenha pedido ou soubesse de eventuais pagamentos ilícitos.

    Em nota, os assessores dizem o seguinte: "1. Dilma Rousseff não conhece o senhor Zwi Skornicki nem autorizou ou teve conhecimento do pagamento de dívidas das campanhas de 2010 por ele ou qualquer outra pessoa por meio do chamado caixa dois ao jornalista João Santana ou a quaisquer outros fornecedores; 2. Todas as doações e pagamentos foram feitos na campanha de 2010 em observância à legislação vigente e de acordo com as normas do Tribunal Superior Eleitoral. É preciso reiterar que todas as contas foram devidamente registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".

    A Folha não conseguiu localizar os advogados que defendem Zwi Sckornicki.

    O defensor de João Vaccari Neto, Luiz Flávio Borges D´Urso, afirma que o seu cliente jamais pediu a qualquer empresário ou lobista que fizesse pagamentos ilícitos ou depósitos no exterior. "Isso é palavra de delator, sem qualquer comprovação".

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