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    Lava Jato

    No Japão, Moreira Franco nega ter recebido propina da Odebrecht

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    ENVIADA ESPECIAL A TÓQUIO

    18/10/2016 07h57 - Atualizado às 08h11

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, BRASIL, 06.10.2016. O ministro Moreira Franco, Secretaria-Executiva o Programa de Parcerias de Investimentos, participa de sessão em homenagem aos 100 de Ulysses Guimarães. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
    O ministro Moreira Franco participa de sessão solene no Congresso Nacional

    O ministro Moreira Franco (secretário do PPI, o Programa de Parcerias de Investimentos) reafirmou em Tóquio nesta terça (18) que é "uma mentira afrontosa" a afirmação do ex-executivo da Odebrecht, Claudio Melo Filho, de que ele teria recebido dinheiro para defender interesses da empreiteira.

    "Já falei sobre isso. Já divulguei uma nota e é o suficiente", afirmou o ministro após evento em que apresentou o PPI a empresários e investidores japoneses.

    Segundo a revista "Veja", Claudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, citou em negociação para delação que Franco, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) teriam recebido propina.

    De acordo com o ex-executivo da empreiteira, o dinheiro teria sido pago para "fazer sumir um aeroporto inteiro", em referência ao aeroporto de Caieiras, que nunca saiu do papel. A Odebrecht teria interesse em barrar essa obra para evitar concorrência com o aeroporto do Galeão, do qual venceu a concessão.

    "O que está na nota é curto e grosso o que eu tenho a dizer sobre o assunto", afirmou o ministro, que afirma não ter tratado de dinheiro com Melo Filho.

    O ministro também declarou que "muita água tem que correr por baixo da ponte" antes que se possa discutir parcerias com o PSDB para as eleições de 2018. "Um projeto eleitoral é incompatível com a recessão que estamos enfrentando."

    Durante o discurso que fez aos japoneses, Moreira Franco criticou em vários momentos o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, do qual fez parte, em relação à política macroeconômica e à intervenção nos leilões de infraestrutura.

    Fez também referências indiretas às acusações de corrupção ao mencionar que durante esta visita algumas empresas japonesas queixaram-se de dificuldades, parte provocadas pela crise, parte por "outras questões".

    Afirmou que o governo garantiria compliance (regras de transparência e lisura) tanto no mundo privado quanto no público.

    Questionado sobre por que tanto ele quanto o presidente Temer, que integravam a gestão Dilma, não haviam impedido que o governo cometesse os erros agora apontados, Franco afirmou que eles "demoraram a perceber" os problemas.

    "Quando percebemos, há mais ou menos um ano e meio, fizemos o documento 'Ponte para o Futuro', em que propusemos tudo o que estamos fazendo agora."

    O ministro usou boa parte de sua fala aos empresários para defender a mudança de governo no Brasil.

    Repetiu várias vezes que a troca de presidentes foi constitucional, dentro da democracia, e que a condução da política econômica de Dilma levou o país à pior recessão de sua história.

    "Faremos um novo processo, do ponto de vista regulatório e moral", disse o ministro sobre o pacote de leilões de infraestrutura.

    A alta taxa de desemprego voltou a ser citada como uma "herança" recebida pela gestão Temer e invocada para justificar a urgência nas licitações.

    "As agências vão voltar a ser reguladoras, os ministros vão voltar a ter papel concedente, e os contratos, diferentemente dos recentes, deixarão de ser de obras para serem de concessão. Neles estará escrito que qualidade se deseja, com uma métrica que permita a todos saber de que medida se trata, deixando o ambiente de pouca transparência para trás", afirmou, enfatizando o verbo "voltar".

    Segundo ele, o presidente Temer quer mudar as práticas para "restabelecer a confiança que vínhamos perdendo em velocidade prejudicial a todos".

    Moreira relatou que, nos encontros com autoridades japonesas e empresários nesta segunda (17), ficou ciente de que seria necessário "um esforço imenso para restabelecer as relações e o ambiente de confiança e parceria que no passado Brasil e Japão tiveram".

    Operação Lava Jato

    DESCANSO

    Até as 17h do horário local, o presidente Michel Temer e a primeira-dama, Marcela, ficaram no hotel, descansando da viagem de véspera.

    Ambos chegaram a Tóquio às 3h30, vindo da Índia —onde Temer participou de encontro dos Brics.

    O presidente será recebido pelo imperador Akihito na manhã desta quarta (19). Marcela não poderá estar presente, já que sua contraparte, a imperatriz Michiko, estará fora.

    Ainda na manhã de quarta, Temer participa de encontro com empresários e investidores japoneses.

    À tarde ele se reúne com o primeiro-ministro japonês. O casal deve ser recebido em jantar à noite, e volta ao Brasil na quinta.

    Esta é a primeira visita de um líder brasileiro ao Japão desde 2006.

    Além de tentar abrir o mercado japonês para produtos agropecuários brasileiros e atrair investimentos para o programa de concessões, o presidente tem a missão de azeitar as relações diplomáticas com o Japão, desgastadas por sucessivos atrasos e cancelamentos da ex-presidente Dilma Rousseff.

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