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    Segundo Lava Jato, empresas ligadas a donos da Gol pagaram R$ 3 mi a Cunha

    MARIO CESAR CARVALHO
    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    19/10/2016 16h56 - Atualizado às 19h42

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Preso, o ex-deputado Eduardo Cunha é levado até o avião da Polícia Federal
    Preso, o ex-deputado Eduardo Cunha é levado até o avião da Polícia Federal

    Empresas ligadas à família dona da Gol Linhas Aéreas e uma agência de publicidade pagaram cerca de R$ 3 milhões a duas empresas ligadas ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo o pedido de prisão do parlamentar cassado apresentado pela força-tarefa da Operação Lava Jato.

    O objetivo do suposto suborno seria reduzir o preço dos combustíveis. Além da Gol, a família Constantino é dona do grupo Comporte, que tem 6.000 ônibus, fatura R$ 1,5 bilhão ao ano e já foi apontada como
    a maior empresa de transporte sobre rodas do mundo.

    Os procuradores da força-tarefa tratam os pagamentos como propina porque, na interpretação deles, Cunha não prestou nenhum serviço "compatível com os valores depositados".

    Os repasses foram feitos por empresas de ônibus como Breda e Princesa do Norte entre 2012 e 2015. O maior valor, no entanto, foi depositado pela agência de publicidade Almap (R$ 1,4 milhão), que atende a Gol. Segundo a denúncia, a agência teria informado que o pagamento foi feito a pedido da companhia aérea.

    As empresas que receberam os recursos são a Jesus.com e a GDAV —a primeira, de Cunha e sua mulher, Cláudia Cruz, e a segunda de seus filhos Danielle Cunha e Felipe Cunha.

    Os pagamentos foram feitos entre 2012 e 2015 e teriam como objetivo isentar as empresas de ônibus de pagar um imposto sobre combustíveis que se chama Cide.

    Cunha, segundo os procuradores, criou em 30 de março do ano passado uma comissão na Câmara dos Deputados, que ele presidia, com o objetivo de isentar essas empresas de pagar o tributo.

    O relato sobre os pagamentos é citado no pedido de prisão do Ministério Público, mas não foi mencionado pelo juiz federal Sergio Moro em seu decreto de prisão.

    SUPREMO

    Não é a primeira vez que empresas ligadas à família Constantino aparecem ligadas a Eduardo Cunha.

    Em julho deste ano, um relatório apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF (Supremo Tribunal Federal).

    Segundo Janot, as empresas Viação Piracicabana e a Princesa do Norte teriam pagado R$ 492.500 para empresa de Lúcio Bologna Funaro, descrito pela força tarefa da Lava Jato como "operador de propinas de Eduardo Cunha".

    OUTRO LADO

    Em nota, a Gol afirmou que "recebeu solicitação da Receita Federal para prestar esclarecimentos sobre alguns investimentos publicitários realizados pela companhia" e que "iniciou uma apuração interna e contratou uma auditoria independente externa para plena verificação dos fatos". A empresa diz ainda que está colaborando com as autoridades.

    O grupo Comporte afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "sobre os supostos repasses às empresas Jesus.com, as empresas seguem colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos".

    Por meio de nota, a agência AlmapBBDO afirmou que em 2012, desenvolveu "campanha promocional que previu um plano de veiculação de banners, entre outras peças, no período de outubro de 2012 e novembro de 2013, que contou com mais de 50 websites" para a Gol. "O plano de mídia requisitado pelo cliente incluía, entre outros, os websites Portal Mogi Guaçu, Uai, Vagalume, Forbes Internacional, VEJA, Catraca Livre, Facebook, YouTube, iG, Yahoo!. Também fizeram parte do plano de veiculação aqueles websites que estão sendo citados pela mídia como empresas ligadas ao ex-deputado Eduardo Cunha, informação pela qual fomos fortemente surpreendidos", afirma a nota.

    "Entendemos ser indispensável esclarecer que não houve qualquer tipo de repasse de dinheiro, e sim a aquisição de espaço publicitário efetivamente utilizado, de acordo com as normas do mercado e regulados pela Lei 4.680. Toda a operação está comprovada pelos documentos já disponibilizados para as autoridades", afirmou a agência.

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