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    Lava Jato

    Análise

    Personalidade 'incontrolável' de Cunha leva apreensão ao Planalto

    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    20/10/2016 02h00 - Atualizado às 11h09

    Oficialmente, nada a comentar. Reservadamente, muita apreensão e dúvidas sobre os próximos capítulos da novela da prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pela Operação Lava Jato.

    Tão logo foi divulgada a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados e, até pouco tempo, um dos principais aliados do presidente Michel Temer, a ordem dentro do Palácio do Planalto foi não fazer comentários públicos sobre o episódio.

    Internamente, porém, assessores presidenciais admitiam que a prisão de Eduardo Cunha gera um clima de incerteza porque ele é considerado um político "incontrolável" e sempre se mostrou disposto a qualquer coisa para tentar salvar a própria pele.

    Nos últimos dias, Cunha já vinha, lembram interlocutores de Michel Temer, enviando recados para o governo atirando em Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parcerias do Investimento e um dos mais próximos amigos do presidente.

    O deputado cassado fazia isso quando ainda não acreditava que seria alvo de uma autorização de prisão do juiz Sergio Moro. Agora, preso, o temor do Palácio do Planalto é que ele seja estimulado a avançar nas acusações contra Moreira Franco.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 19-102016, 12h00: O ex-deputado Eduardo Cunha é levado preso até o avião da PF. Ele segue para Curitiba.. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    O ex-deputado Eduardo Cunha é levado preso até o avião da Polícia Federal, em Brasília

    Eduardo Cunha chegou a dizer que, caso investigações avançassem sobre a atuação de Moreira Franco quando foi vice-presidente da Caixa, seria muito difícil a permanência dele no governo. O amigo de Temer nega as acusações e diz que elas não têm nenhum fundo de verdade.

    O problema, reconhecem governistas, é que se Eduardo Cunha resolver abrir sua caixa preta, ele vai envolver outros nomes do PMDB e ligados ao presidente. Podendo revelar, inclusive, episódios relacionados a Temer, já que os dois eram muito próximos até pouco tempo.

    Distanciaram-se depois que o peemedebista assumiu interinamente a Presidência da República e Cunha foi, primeiro, afastado do comando da Câmara e, depois, cassado pelos colegas.

    O Planalto reconhece, porém, que a prisão pode levar o ex-deputado a optar por uma delação premiada para tentar reduzir o período que deve passar na prisão por causa das contas secretas na Suíça e acusações de usar votações na Câmara para obter contribuições financeiras.

    Além do receio de que uma eventual delação atinja nomes próximos a Temer, inclusive o próprio presidente, governistas temem que ela acabe prejudicando as votações de interesse do Planalto na Câmara dos Deputados.

    Em resumo, como admitiu um assessor presidencial, o jogo só começou e quem vai ditar os próximos passos será Eduardo Cunha, um político visto como imprevisível e ousado, que terá de lutar por sua liberdade e, principalmente, evitar que sua família acabe tendo o mesmo destino: seja alvo de um pedido de prisão da Lava Jato.

    Aí, dizem amigos de Cunha, ela será capaz de qualquer coisa. A dúvida é se ele realmente tem munição suficiente para negociar uma delação. Um deputado governista lembrava nesta quarta-feira (19) que o ex-presidente da Câmara tentou intimidar muitos aliados para evitar sua cassação. O placar final mostrou que não teve sucesso, apenas 61 deputados, incluindo ausentes, ficaram do seu lado na hora final.

    Altos e baixos de Cunha

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