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    Lava Jato

    36ª fase da Lava Jato investiga lavagem de mais de R$ 50 mi

    BELA MEGALE
    DE BRASÍLIA

    10/11/2016 06h50 - Atualizado às 20h41

    Sérgio Lima - 28.ago.2012/Folhapress
    O empresário Adir Assad presta depoimento a CPI na Câmara em 2015
    O empresário Adir Assad presta depoimento a CPI na Câmara em 2015

    A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (10) a 36ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Dragão, que investiga a ação dos operadores Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran na lavagem de mais de R$ 50 milhões.

    Foram cumpridas 18 ordens judiciais nos Estados do Ceará, São Paulo e Paraná, sendo 16 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva contra Assad e Tacla.

    Assad já está preso na carceragem de Curitiba e Duran, que é advogado, integra a lista de foragidos da Interpol, segundo a PF. Ele não foi detido porque está no exterior desde abril.

    Na coletiva de imprensa realizada nesta manhã, os procuradores Roberson Pozzobon e Julio Noronha afirmaram que empreiteiras envolvidas na Lava Jato, como a UTC e Mendes Júnior, repassaram, respectivamente, R$ 9 milhões e R$ 25 milhões a Duran entre 2011 e 2013.

    No mesmo período, outras empresas com contratos públicos, como a construtora Triunfo e a concessionária Econorte, ambas no Paraná, fizeram depósitos em contas do operador. Elas também foram alvos de buscas nesta quinta.

    Segundo os investigadores, Duran se utilizava de suas empresas, entre elas o escritório Tacla Duran Sociedade de Advogados, para gerar dinheiro e realizar pagamentos de propinas.

    Os executivos da UTC revelaram em depoimentos de acordos de delação premiada que Duran foi indicado a eles com o propósito de lavar dinheiro. Só a empreiteira celebrou contratos na ordem de R$ 56 milhões com o escritório de advocacia que, segundo Pozzobon, foram "sobrevalorizados ou inexistentes".

    "Operação Dragão" 36ª fase da Lava Jato - Cerca de 90 policiais federais cumprem 18 mandados

    A Mendes Júnior firmou contratos com as mesmas características junto ao escritório na ordem de R$ 25 milhões. O procurador afirmou que Duran se beneficiou de R$ 61 milhões oriundos do esquema.

    "A empresa transferia para o escritório, o principal sócio, no caso Tacla Duran, sacava e devolvia parte dos recursos para a empreiteira, que os utilizava em pagamento de propina", descreveu Pozzobon.

    Os investigadores relataram que Duran tinha contato constante com outros operadores, como Assad, que repassou R$ 24,3 milhões ao advogado por meio de transferências de suas empresas. Para o procurador, "eles [os operadores] tinham uma verdadeira confraria criminosa, um trabalhava com o outro".

    Duran também desponta como um dos responsáveis por lavar dinheiro do setor de operações estruturadas da Odebrecht, apontado pelos investigadores como o departamento de propina da empreiteira. Segundo Pozzobon, o advogado coordenou 12 contas de offshores no exterior usadas para lavar recursos do grupo baiano.

    "Duran servia como elo de dois contextos criminosos, ligava corruptores de um lado a corrompidos, por isso podem ser muito ricas as provas apreendidas nesta fase", afirmou o procurador. Ele disse ainda que não é possível saber o valor que a Odebrecht lavou por meio de contas no exterior, já que isso exigiria cooperação internacional.

    O operador também foi citado na delação de Vinicius Veiga Borin, que trabalhou nos bancos Antigua Overseas Bank e Mein Bank, como um dos responsáveis por operacionalizar pagamentos do setor de propina da empreiteira.

    CAIXA DOIS

    Os procuradores aproveitaram a coletiva de imprensa para fazer um alerta sobre o movimento de anistiar o caixa dois que está sendo realizado no Congresso Nacional.

    "É nesse momento que se gera caixa dois, caixa dois é crime, é produto de crime, ele vem da prática de lavar dinheiro. Muito nos preocupa o contexto que em nossos representantes políticos falam, pelos menos nos corredores ouvimos dizer, da anistia do caixa dois, pois com isso se anistiaria o processo de lavagem", disse Pozzobon.

    "Uma mensagem que o Brasil tem que dar é que esses corruptos têm que ter medo de praticar delitos, pois cedo ou tarde virão à tona e eles serão responsabilizados nos termos da lei", emendou.

    Noronha destacou que a "operação aponta novamente para um quadro de corrupção sistêmica e lavagem de dinheiro contínua" e que "os poderes precisam agir em sintonia para apresentar a sociedade uma resposta eficaz a esse quadro".

    O nome da operação é uma referência aos registros na contabilidade de Duran que chamava de "operação dragão" os negócios fechados com parte do grupo criminoso que atuava em comércios na rua 25 de março, em São Paulo, para disponibilizar recursos ilegais no Brasil a partir de pagamentos realizados no exterior.

    TRÊS OPERAÇÕES

    Assad foi preso pela primeira vez na Lava Jato em março de 2015, na décima fase da operação. No final do ano, porém, foi para a prisão domiciliar em São Paulo por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Em agosto deste ano, Moro determinou que ele voltasse à prisão. O operador foi condenado na Lava Jato a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

    Assad foi alvo de outras operações da PF nos últimos meses, como a Saqueador, relacionada ao empresário Carlinhos Cachoeira e a construtora Delta, e a Pripyat, sobre suposta propina Eletronuclear.

    No início do ano, o então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), cassado em maio, disse, em acordo de delação, que Assad gerenciava o caixa dois na campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010, o que ela nega.

    O Ministério Público paulista também o denunciou neste ano sob suspeita de participação em desvios em obras do governo do Estado, administrado pelo PSDB.

    OUTRO LADO

    O advogado de Adir Assad, Miguel Pereira Neto, disse que vai tomar conhecimento dos fatos para saber quais medidas adotará em relação a mais esse pedido de prisão.

    Procurada para falar do repasse de R$ 9 milhões a Duran entre 2011 e 2013, a UTC informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não comenta investigações em andamento".

    A construtora paranaense Triunfo informou que a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da empresa, em São Paulo, e na sede da Econorte, sua subsidiária, em Londrina (PR).

    Segundo o comunicado, assinado pelo diretor de relações com investidores, Sandro Antônio de Lima, o objetivo foi a coleta de documentos ligados a pagamentos feitos pelas empresas a um prestador de serviço.

    "A companhia forneceu as informações solicitadas e informa que irá cooperar com as autoridades competentes", diz trecho do comunicado.

    A Mendes Júnior ainda não respondeu. A Odebrecht afirmou que não irá se manifestar sobre o caso.

    Colaborou MARCELO TOLEDO, de Ribeirão Preto.

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