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    Em reunião no STF, desembargadores falam de 'retaliação' do Senado

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE BRASÍLIA

    14/11/2016 16h16

    A iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de instaurar uma comissão para passar um pente-fino nos supersalários dos três Poderes foi comentada em uma reunião dos presidentes dos tribunais de Justiça de 26 Estados com a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).

    O encontro ocorreu nesta segunda-feira (14).

    A medida é vista como uma forma de desgastar o Poder Judiciário. Uma série de parlamentares da Câmara e do Senado foi citada na Operação Lava Jato. Na semana passada, a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) divulgou nota em que afirmou que "a comissão instituída pelo senador Renan Calheiros deve começar a sua investigação dentro de casa, que é onde se menos respeita o teto constitucional". Renan nega que o alvo da comissão seja o Judiciário.

    "Isso foi ventilado por alguns [presidentes de TJs], mas absolutamente a ministra [Cármen Lúcia] não se pronunciou a respeito. Isso foi discutido por algumas presidências dos tribunais como se isso fosse realmente uma retaliação contra o Poder Judiciário, mas não foi assim que foi entendido pela maioria", disse o desembargador Claudio Santos, presidente do TJ do Rio Grande do Norte.

    Participaram da reunião, no Supremo, presidentes de 26 tribunais de Justiça –esteve ausente somente o representante de Alagoas. Santos não especificou quais desembargadores referiram-se à iniciativa de Renan como retaliação.

    Segundo Santos, a tônica da reunião foi o atraso no repasse do duodécimo pelos Executivos estaduais, o que vem sendo causado pela crise, de acordo com os governadores. O duodécimo é basicamente a verba mensal que o Executivo envia para o custeio do Judiciário, do Legislativo e dos demais órgãos dos três Poderes.

    A assessoria do STF informou que os principais temas discutidos no encontro foram judicialização da saúde, priorização da primeira instância, segurança dos magistrados e melhoria na gestão dos processos.

    O presidente do TJ de Sergipe, desembargador Luiz Mendonça, disse que a comissão instaurada por Renan foi um dos temas da reunião com Cármen Lúcia, mas minimizou sua importância.

    "Com essas discussões de retaliação a gente não tem que estar preocupado. A gente tem que estar preocupado com o que a população quer do Judiciário, e o Judiciário quer, sim, atender essas demandas da melhor maneira possível", afirmou o magistrado.

    "A ministra demonstra uma preocupação muito grande com a eficiência da magistratura, ela tem cobrado muito isso, e com a imagem da magistratura", completou.

    Ainda sobre a questão salarial, Santos disse que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), também presidido por Cármen Lúcia, deve traçar diretrizes para "fazer ainda mais por menos".

    "O Poder Judiciário é caro, uma grande parte do Poder Judiciário realmente é perdulária, tem uma história e uma cultura de gastar cada vez mais. Os vencimentos dos juízes, embora sejam dignos, há situações em que o vencimento médio dos funcionários é muito alto, e essa discussão sobre custo do Poder Judiciário tem que aumentar ainda mais, ser discutida no Legislativo de cada Estado e no Congresso Nacional", declarou o desembargador potiguar.

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