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    PF prende ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho

    ITALO NOGUEIRA
    LUIZA FRANCO
    DO RIO
    PAULA REVERBEL
    DE SÃO PAULO

    16/11/2016 11h39 - Atualizado às 20h41

    Ricardo Borges/Folhapress
    O ex-governador Anthony Garotinho é levado à sede da PF no Rio
    O ex-governador Anthony Garotinho é levado à sede da PF no Rio

    O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) foi preso preventivamente nesta quarta-feira (16) sob acusação de comandar um esquema de compra de votos na eleição em Campos dos Goytacazes (RJ), sua base eleitoral.

    De acordo com a Justiça Eleitoral, o ex-governador tentou coagir duas testemunhas do caso e eliminou documentos públicos que ajudariam na apuração dos supostos crimes.

    Segundo as investigações, o esquema mais que dobrou o número de beneficiários do Cheque Cidadão, da Prefeitura de Campos, a partir de junho. O objetivo seria usar para fins eleitorais o programa, que destina R$ 200 a famílias pobres.

    De acordo com o Ministério Público, 34 candidatos a vereador na cidade eram beneficiados pela prática, dos quais 11 eleitos.

    Os candidatos de Garotinho passaram a comandar a inscrição de novos beneficiários, segundo a promotoria. Desta forma, o número de famílias atendidas pelo programa subiu de cerca de 11 mil antes de junho para cerca de 29 mil em outubro, diz a Justiça.

    A defesa do ex-governador afirma que a prisão "é abusiva, ilegal e decorre de sua constante denúncia de abusos de maus tratos a pessoas presas ilegalmente naquela comarca". Ele sofreu com pressão alta na cela da Polícia Federal e foi internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Rio.

    Prisão de Garotinho

    A prisão de Garotinho ocorre após uma série de fases das operações "Vale Voto" e "Chequinho", que prenderam quatro vereadores, uma secretária municipal, e a secretária pessoal da prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), mulher do ex-governador. Todos já foram soltos.

    Garotinho, que ocupa o cargo de secretário municipal de Governo, havia inclusive pedido habeas corpus preventivo para evitar sua prisão. No início do mês, seu subsecretário, Alcimar Ferreira, também foi alvo de mandado de prisão.

    O Cheque Cidadão de Campos é idêntico ao criado por Garotinho quando esteve a frente do governo estadual. Na época, o programa também foi alvo de suspeitas de uso eleitoral.

    De acordo com a promotoria, beneficiários do programa municipal passaram a ser inscritos por indicação de candidatos a vereador sem procedimentos obrigatórios, como avaliação de assistentes sociais. O prejuízo, segundo a Justiça, seria de R$ 45 milhões por ano.

    explosão de beneficiários - Número de beneficiários do programa Cheque Cidadão

    Servidores eliminaram, de acordo com a Justiça, documentos que comprovariam as fraudes na inscrição do programa. Arquivos da prefeitura foram apagados e fichas de inscrição, queimadas.

    Segundo a Justiça, duas testemunhas que depuseram contra o ex-governador foram coagidas a mudar sua posição. As duas gravaram uma fala exibida por Garotinho em seu programa de rádio.

    Apesar da eleição de 11 aliados para as 25 cadeiras da Câmara Municipal, o candidato à prefeitura apoiado por Garotinho Dr. Chicão (PR), perdeu no primeiro turno. É a primeira vez desde 1988 que o grupo do ex-governador fica fora do governo estadual ou da Prefeitura de Campos.

    Terceiro lugar na eleição presidencial de 2002, Garotinho sofreu sucessivas derrotas políticas desde 2006.

    O juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da 100ª zona eleitoral, afirma que Garotinho era "considerado pelas autoridades como o prefeito de fato". Desta forma, escreve o magistrado na decisão, o ex-governador "não só está envolvido, mas comanda com 'mão de ferro' um verdadeiro esquema de corrupção eleitoral neste município".

    Reprodução/GloboNews
    O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR) é preso nesta quarta-feira
    Garotinho é visto em sala na sede da PF no Rio

    OUTRO LADO

    A defesa do ex-governador afirmou, em nota, que a prisão "é abusiva e ilegal".

    O advogado Fernando Fernandes disse que pediria habeas corpus para o secretário municipal de Campos dos Goytacazes (RJ).

    "A prisão à qual está submetido o ex-governador é abusiva e ilegal e decorre de sua constante denúncia de abusos de maus tratos a pessoas presas ilegalmente naquela comarca. Pessoas presas mudaram vários depoimentos após ameaças do delegado. [...] A Justiça certamente não permitirá que este ato de exceção se mantenha contra Garotinho", afirmou, em nota, o advogado.

    A prefeita Rosinha Garotinho defendeu o secretário. Ela atribuiu a prisão à "fraude na eleição de Campos" e a denúncias feitas contra políticos do Rio, entre eles o ex-governador Sérgio Cabral.

    "Usar Cheque Cidadão, comida que nós damos para pobre, como pano de fundo para prender o Garotinho, na verdade, não é nada disso. Estamos recorrendo, mas isso é uma covardia. É para encobrir toda a corrupção que ele vem denunciando", disse ela.

    Garotinho representou na Corregedoria da Polícia Federal contra o delegado Paulo Cassiano, da Polícia Federal em Campos. Ele acusa o delegado de fazer "tortura psicológica" contra testemunhas para que deponham contra ele.

    Leia a íntegra da decisão contra Garotinho:

    Mandado de prisão contra Anthony Garotinho

    Colaborou BELA MEGALE, de Brasília

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