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    Lava Jato

    Análise

    Prisão de Cabral é o capítulo policial de um Estado quebrado

    LEANDRO COLON
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    17/11/2016 09h39

    Carlos Magno/CCS - Reprodução/Blog do Garotinho
    Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, em viagem a Paris e em farra com Fernando Cavendish
    Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, em viagem a Paris; Fernando Cavendish (centro) com guardanapo na cabeça

    A cena virou um clássico da história política do Rio: Sérgio Cabral, então governador em 2009, numa noite de farra em Paris. Ele tem a companhia de assessores e do empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, usando guardanapos na cabeça.

    As imagens foram divulgadas em abril de 2012 num blog do ex-governador Anthony Garotinho, inimigo de Cabral.

    Quatro anos e sete meses depois, ambos foram presos –um na quarta (16) e outro na quinta (17).

    Em meio a um drama econômico sem fim, o Rio assiste a cenas impensáveis num passado não tão longínquo: dois ex-governadores e o deputado federal mais poderoso de sua história, Eduardo Cunha, atrás das grades.

    A prisão de Cabral é um capítulo policial do triste enredo da quebradeira econômica de um Estado que ele governou por dois mandatos.

    O ex-governador do Rio foi detido no seu apartamento no Leblon um dia depois de protestos de servidores públicos terminarem em confronto com policiais em frente à Assembleia Legislativa.

    A Operação Calicute, que botou Cabral na cadeia, investiga desvios de dinheiro público na ordem de R$ 220 milhões.

    Segundo a Polícia Federal, o recurso foi surrupiado de obras realizadas pelo governo fluminense.

    "Mediante o pagamento de propinas a agentes estatais, incluindo um ex-governador do Estado do Rio", diz nota da PF. De acordo com o Ministério Público Federal, trata-se de uma "organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral".

    As relações dele com empreiteiros sempre foram alvo de suspeitas e ganharam notoriedade com as fotos da turma do guardanapo.

    O peemedebista vai para a cadeia ao mesmo tempo em que seu sucessor e afilhado político, Luiz Fernando Pezão, abandonado pelo governo federal e acuado pelo funcionalismo, busca alternativas para tirar o Rio do buraco.

    O risco de falência de um Estado como o Rio decorre de vários fatores, sobretudo os relacionados a uma gestão ineficaz e irresponsável das contas públicas por vários anos.

    E a Lava Jato e seus tentáculos têm nos mostrado também que a roubalheira contribuiu e muito para a crise do país. O Rio não escapou. A Operação Calicute, que levou à prisão de Cabral, ainda será desvendada e detalhada pelos investigadores, mas indica ser mais um elemento de influência política e econômica, por meio de desvios milionários, no caos financeiro do Estado.

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