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    Lava Jato

    Propina pagou até vestidos de festa para mulher de Cabral, diz Lava Jato

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    ITALO NOGUEIRA
    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    17/11/2016 11h36 - Atualizado às 16h42

    A propina do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) direcionada ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso nesta quinta (17) num desdobramento da Operação Lava Jato, pagou móveis, eletrodomésticos, veículos, máquinas agrícolas e até vestidos de festa para a ex-primeira-dama do Estado, Adriana Ancelmo.

    De acordo com o Ministério Público Federal, Cabral recebeu, em espécie, R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez pelo contrato de terraplanagem do Comperj -o equivalente a 1% da participação da empreiteira na obra.

    O fato foi delatado pelos próprios executivos da empresa, colaboradores da Lava Jato. Cabral sempre negou que tenha solicitado propinas e afirmou ter tido "apenas relações institucionais" com as empreiteiras durante seu governo.

    A suspeita dos procuradores é que, do valor total da propina, pelo menos R$ 950 mil tenham sido gastos em bens de alto valor, como os vestidos de Ancelmo, e em depósitos bancários de até R$ 10 mil, segundo levantamento parcial nas contas do ex-governador.

    Somente nos seis vestidos da ex-primeira-dama, foram gastos R$ 57 mil.

    O casal também comprou dois mini buggies, com depósitos em dinheiro de R$ 25 mil, e equipamentos gastronômicos de uma empresa de eventos por R$ 72 mil, também em espécie.

    Máquinas agrícolas, móveis e automóveis também estão entre as compras supostamente feitas com propina. O próprio ex-governador recebeu, enquanto ainda estava no exercício do mandato, seis depósitos de R$ 9.900, em espécie.

    "Foi uma estratégia para evitar a fiscalização financeira e tentar esconder o produto do crime", afirmou o procurador Athayde Ribeiro Costa, do Ministério Público Federal no Paraná.

    Na investigação que corre em paralelo no Rio de Janeiro e apura a cobrança de R$ 220 milhões em propina em obras do Estado, o MPF lista pagamentos como contas de gás da primeira-dama e o serviço de cachorro-quente de uma festa do filho do casal, no valor de R$ 1.070. Nesse caso, os pagamentos foram feitos por Luiz Carlos Bezerra, apontado como outro operador da propina e responsável por quitar despesas pessoais de Cabral e sua família.

    "Difícil vislumbrar razão econômica para a fragmentação dos depósitos em espécie [...], sendo a explicação provável, para as operações, a intenção de ocultação e dissimulação, indicativo da origem e natureza criminosa dos valores envolvidos", escreveu o juiz Sergio Moro, no despacho que ordenou a prisão de Cabral e outras medidas.

    Na decisão, Moro afirmou que a prisão de Cabral se faz ainda mais necessária diante da "notória situação de ruína das contas públicas" do Rio de Janeiro.

    "Constituiria afronta permitir que os investigados continuassem fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, [...] enquanto, por conta de gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumentos de tributos e corte de salários e de investimentos", escreveu o juiz.

    "Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres", afirmou Moro.

    EMISSÁRIO

    O emissário de Cabral, segundo as investigações, era Carlos Emanuel Miranda, preso preventivamente e apontado pelo MPF como "um grande coletor de dinheiro" para o ex-governador.

    Miranda é casado com uma prima do peemedebista e já foi citado na Operação Castelo de Areia, que investigava a Camargo Corrêa.

    Segundo a investigação, ele coletava o dinheiro na sede das empreiteiras e o carregava em mochilas.

    CACHORRO-QUENTE

    Outro nome apontado pelos investigadores como operador da propina é Luiz Carlos Bezerra. Segundo os investigadores, ele era o responsável por quitar despesas pessoais de Cabral e sua família. A força-tarefa da Lava Jato no Rio lista pagamentos feitos por ele, entre eles contas de gás da primeira-dama e o serviço de cachorro-quente do filho do casal, no valor de R$ 1.070.

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